Realizada pela primeira vez no Recife entre os dias 13 e 17 de agosto, a 5ª edição da Mostra de Cinema Árabe Feminino reúne, em programação gratuita, exibições de filmes, mesas-redondas, masterclass on-line, sessões comentadas e atividades formativas na Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ), no Derby, e no Cinema São Luiz. Com curadoria de Alia Ayman, Analu Bambirra e Carol Almeida, o evento busca ampliar o acesso a obras dirigidas por mulheres árabes, residentes em países árabes ou integrantes da diáspora, e promover diálogos sobre as múltiplas formas de narrar no cinema contemporâneo.
Além da entrevista concedida à Revista O Grito! sobre os objetivos e perspectivas da Mostra, a curadora Carol Almeida indicou cinco destaques da programação. A lista contempla longas, curtas e sessões especiais, acompanhados de comentários da própria curadora:

Sudão, Lembre de Nós, de Hind Meddeb
“Um filme que, de uma forma muito pungente, constrói os laços entre jovens sudaneses ao redor da ideia de resistência a ditaduras, filme que se torna ainda mais urgente diante da situação totalmente invisibilizada de milhares de pessoas morrendo de fome hoje no Sudão.”
Shajane, Maha, Muzamil, Khatab e a voz do poeta Chaikhoon. Eles estão em seus vinte anos, são politicamente ativos e artisticamente criativos. Este filme é um coro cinematográfico, o retrato coletivo de uma geração que luta pela liberdade com suas palavras, poemas e cânticos. Diante de um exército corrupto e de uma milícia paramilitar responsável por crimes de guerra em Darfur, Cordofão e Nilo Azul, eles poderiam ter desistido antes mesmo de começar. Sem um sonho para os guiar, o poder da imaginação e a força do discurso poético, eles não teriam derrubado o antigo regime. O filme relata a luta desigual que opôs as vozes da revolução ao fogo da milícia.

Os Três Desaparecimentos de Soad Hosni, de Rania Stephan
“Diretora libanesa homenageada pela Mostra este ano, um radical exercício de montagem a partir de imagens de arquivos daquela que foi a mais famosa atriz do Egito.”
Os Três Desaparecimentos de Soad Hosni é uma elegia arrebatadora a uma era rica e versátil da produção cinematográfica no Egito, por meio do trabalho de uma de suas atrizes e estrelas mais reverenciadas desse país: Soad Hosni, que, do início dos anos 1960 até os anos 90, incorporou a mulher árabe moderna em sua complexidade e paradoxos.
Sessões de solidariedade
Duas sessões que reúnem filmes de diretoras pernambucanas e palestinas, promovendo o encontro entre produções e perspectivas de contextos geográficos distintos, mas conectados por questões comuns.




Sessão de curtas
Já Mortos, de Ghada Sayegh | Durante o isolamento de 2020, a região portuária de Beirute fazia parte de um percurso recorrente, interrompido após a explosão de 4 de agosto. Ainda assim, a rota foi retomada, com registros em vídeo não do porto, mas de um prédio situado em frente. Anos depois, as imagens desse edifício se entrelaçam às palavras do primeiro fragmento da coleção de poemas The End of the World Has Already Occurred.
Dançando a Palestina, de Lamees Almakkawy | Dançar é relembrar, dançar é rememorar. Enquanto a identidade palestina continua sendo ameaçada de apagamento, palestinos se voltam para a sua dança folclórica, a dabke, como uma homenagem a sua história e cultura, e para afirmar sua existência. Dançando a Palestina é a documentação da corporificação de uma memória coletiva. Assim como se junta as peças da coreografia dabke, juntam-se também suas identidades. A dabke é o testamento do profundo amor dos palestinos pela vida, e dessa forma, é também a necessidade de contribuir para o arquivo da Palestina, para que ele permaneça vivo no presente e nos corpos moventes.
Neo Nahda, de May Ziadé | Mona, uma jovem em Londres, encontra uma fotografia antiga de uma mulher árabe crossdresser nos anos 20. Em um ponto, entre as suas fantasias e a realidade, ela começa uma intensa jornada de descoberta de histórias perdidas e de sua própria identidade.
A Canção da Besta, de Sophia Al-Maria | Esse filme tem como pano de fundo a ficção científica de uma batalha solar, evocada por Etel Adnan em seu poema The Arab Apocalypse. Assim como Adnan usa desenhos e símbolos para comunicar o que não pode ser expresso em palavras, Sophia Al-Maria explora a revisão da história por meio de uma nova linguagem de desenhos, movimento e música que cria uma modulação de sons e imagens contra-hegemônicas. Seus protagonistas refletem sobre as narrativas e línguas que herdaram, e sobre a violência que enfrentam como filhos de legados coloniais. O filme resulta em uma rota de fuga das narrativas dominantes de um passado opressor.

Q, de Jude Chehab
“Talvez um dos filmes mais complexos e bonitos que temos nesta edição, sobre a relação entre filha (a diretora) e sua mãe e avó, mas também um filme sobre o conceito de amor.”
Onde traçamos a linha entre amor e devoção? Um retrato íntimo e assombroso da busca por amor e aceitação a qualquer custo, Q retrata a influência insidiosa de uma ordem religiosa matriarcal secreta no Líbano sobre três gerações de mulheres da família Chehab. A cineasta Jude Chehab documenta com grande impacto os laços tácitos e as consequências da lealdade que uniram sua mãe, avó e ela mesma à misteriosa organização. Um retrato do preço que décadas de amor não correspondido, perda de esperança, abuso e desespero cobram de uma pessoa, Q é um conto multigeracional da eterna busca por significado. Uma história de amor de um tipo diferente, este documentário retrata as complexidades do poder invisível que entrelaça as vidas daqueles que amam uma mulher cujo coração está nas mãos de outra pessoa.
A programação completa e os detalhes sobre cada sessão podem ser consultados no perfil oficial do evento: @cinema_arabefeminino.

