O cineasta, escritor, professor universitário e crítico de cinema Jean-Claude Bernardet faleceu neste sábado (12), em São Paulo, aos 88 anos. Ele estava internado no Hospital Samaritano e teve a morte confirmada por um amigo da família. De acordo com documentos médicos, a causa foi um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Bernardet convivia com um câncer de próstata e havia decidido interromper o tratamento, como relatado por ele mesmo no livro Corpo crítico (2021). O intelectual também era soropositivo, condição que tornou pública nos anos 1990.
O velório ocorreu no domingo (13), na Cinemateca Brasileira, entre 13h e 17h. A escolha do local teve um significado simbólico, já que a instituição foi uma das principais parceiras da trajetória do crítico e realizador.
Nascido na Bélgica em 1936 e criado em Paris, Jean-Claude Bernardet chegou ao Brasil aos 13 anos e naturalizou-se brasileiro em 1964. Ao longo de mais de seis décadas de atuação, construiu uma das obras mais influentes para o pensamento cinematográfico no país, destacando-se por uma abordagem crítica que articulava estética, política e sociedade.
Como teórico e historiador, suas publicações se tornaram referência para estudiosos e cineastas. Entre os títulos mais emblemáticos estão Brasil em tempo de cinema (1967), O nacional e o popular na cultura brasileira: cinema (1983), em coautoria com Maria Rita Galvão, e Cineastas e imagens do povo (2003). Em suas análises, Bernardet questionava a forma como o cinema brasileiro representava a realidade nacional, criticando especialmente a estetização da miséria em documentários e a limitação de uma produção voltada aos valores da classe média intelectualizada.
Sua atuação foi igualmente marcante na formação acadêmica. Participou da criação do curso de cinema da Universidade de Brasília (UnB) e foi professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Cassado pelo Ato Institucional nº 5 em 1968, foi reintegrado em 1979 com a Lei da Anistia.
Além da produção teórica, Bernardet teve envolvimento direto com o fazer cinematográfico. Escreveu roteiros, dirigiu filmes e atuou como ator, sobretudo em seus últimos anos. Entre suas colaborações mais conhecidas estão os roteiros de O caso dos irmãos Naves (1967) e Um céu de estrelas (1995), a direção de São Paulo, sinfonia e cacofonia (1994) e a atuação em Filmefobia (2009), longa pelo qual recebeu o prêmio de Melhor Ator no Festival de Brasília.
Figura de forte presença nos debates públicos, Bernardet também teve ligação com o cinema pernambucano, participando de simpósios, encontros e contribuindo para discussões sobre o papel social do documentário e da produção regional. Em 2023, a Cinemateca Brasileira exibiu uma retrospectiva com seis de seus filmes, com curadoria do próprio cineasta.


