A cantora nipo-americana Mitski lançou há poucos dias seu aguardado novo disco, Laurel Hell, um trabalho que reflete a jornada de transformação que a cantora passou desde que alcançou o sucesso com o elogiado Be The Cowboy (2018), seu quinto álbum. Mais do que tentar trazer uma nova faceta ao seu indie-rock, a artista decidiu utilizar o álbum como forma de refletir sobre questões pessoais que se misturaram à sua persona pública: tristeza, alegria, solidão, resiliência, tudo tratado com bastante vulnerabilidade.
Se em Be The Cowboy o tema principal era a identidade (sobretudo a partir do lugar de uma descendente de japoneses na América), este Laurel Hell soa como um mergulho mais profundo em temas mais amplos, e por tabela, mais pessoais, para a cantora. Esteticamente, a artista se inspirou em filmes de terror B para compor visuais soturnos, com contraste em vermelho, que, na música, se refletem em agudos repentinos convivendo com uma base mais encorpada e pesada.
Há também muito espaço para ironia, contradições, como se ela buscasse compreender seu lugar como artista, caso de “Working for the Knife”, onde diz “eu achava que a escolha era minha / e eu estava certa / Apenas escolhi errado”. A música, assim como várias outras no disco, é densa e áspera nos arranjos. “The Only Heartbreaker”, chega com uma pegada forte oitentista, com muito sintetizador e uma participação de The Weeknd, figura onipresente no cenário pop hoje.
Curiosamente, porém, este é o disco que mais aproxima a artista do mainstream, tanto pelo apelo dos singles lançados anteriormente quanto pelos temas mais amplos. Mas, assim como seus discos anteriores, trata-se de um disco revelatório de uma artista complexa e cheia de nuances. O mergulho em sua busca pessoal pode até ser pesado para alguns, mas recompensador.
Lauren Hell saiu pela Dead Oceans e está disponível em todas as plataformas digitais.