Missão: Impossível – Acerto de Contas Parte 1
Christopher McQuarrie
EUA, 2023, 2h43, 12 anos. Distribuição: Paramount Pictures
Com Tom Cruise, Hayley Atwell e Ving Rhames
Em cartaz nos cinemas
Depois do exitoso Efeito Fallout (2018), Tom Cruise está de volta ao papel do agente secreto Ethan Hunt em Acerto de Contas Parte 1, o sétimo capítulo da franquia Missão: Impossível, para enfrentar uma nova e incomum ameaça – desta vez não tão palpável como nas produções anteriores. E, embora não alcance o status de melhor filme da série até o momento, a trama rocambolesca oferece uma dose generosa de manobras emocionantes, servindo um prato cheio para os entusiastas do gênero de ação.
Nesta sequência, Hunt, ao lado dos seus parceiros da agência de espionagem IMF, se depara com A Entidade, uma poderosa Inteligência Artificial que ganhou autoconsciência e agora põe em risco o futuro da humanidade. Apesar do nome tosco (e disso não tem como fugir), esse novo vilão surge como uma entidade onisciente e onipresente que desafia os limites entre realidade e ilusão – bem, ao menos no meio digital. A questão é que, no mundo da espionagem, onde o digital media os detalhes de cada operação, é preciso recorrer ao analógico e ao tête-à-tête para estabelecer alguma base de confiança na realidade.
Paralelamente, o dispositivo de acesso aos segredos dessa arma tecnológica materializa-se em uma antiquada chave, dividida em duas metades que se tornam objetos de grande cobiça ao redor do mundo, afinal bagunçar as noções do que é ou deixa de ser realidade representa um grande poder. Assim, para resumir o enredo de forma simples, Acerto de Contas – Parte 1 é uma tensa e perigosa busca pelas partes da chave na qual estão envolvidas muitas pessoas, cada uma representando interesses distintos.
Ainda que a Entidade se apresente como a grande vilã deste novo capítulo da franquia, que ganhará ainda continuação com uma parte dois, prevista para o próximo ano, o antagonismo vai além dela. Um amplo elenco de rivais entra em cena – o que, infelizmente, faz com que parte do fantástico elenco acabe subutilizado. De todo modo, porém, o grande destaque recai sobre o time feminino. É que o longa coloca as mulheres em evidência de uma forma que nenhum outro filme da série havia feito até então.
Na extensa lista de adversários, estão inclusos os retornos da fantástica Vanessa Kirby como a ardilosa Viúva Branca e de Henry Czerny que, pela primeira vez desde o filme original, reprisa seu papel como o diretor da IMF, Eugene Kittridge, além do novo antagonista Gabriel, vivido por Esai Morales, que guarda um passado misterioso e surge como aliado da IA, materializando seus anseios de poder. Também entram na disputa pela cobiçada chave como excelentes adições à franquia Hayley Atwell (como Grace, uma batedora de carteiras profissional) e Pom Klementieff (a sanguinária Paris), bem como Shea Whigham (Jasper Briggs, um agente que tenta deter Ethan).
Nessa frenética e mortal dança das cadeiras, interesses, parcerias e lealdades mudam a cada rodada. Para Ethan e sua equipe, formada por Benji (Simon Pegg) e Luther (Ving Rhames), além da aliada Ilsa (Rebecca Ferguson), o desafio não é apenas encontrar as duas partes da chave em meio ao confronto com tantos rivais, mas também descobrir qual segredo ela guarda e onde está a fechadura. É um roteiro que, em linhas gerais, carrega seus excessos e não foge dos clichês inverossímeis do gênero, como é o caso de uma das últimas cenas, quando Cruise e Atwell aparecem lado a lado lutando para escapar de vagões pendurados à beira de um penhasco.
Mas a experiência de entretenimento da mega produção não fica comprometida. A condução de Christopher McQuarrie, que assumiu a direção no quinto filme Nação Secreta (2015) e não largou mais a franquia, faz das sequências de ação uma sinfonia divertida e ousada, onde Cruise é o maestro que rege os próprios limites da coragem – seja numa perseguição de carro pelas ruas de Roma, numa luta corporal pelas vielas de Veneza ou quando o astro hollywoodiano salta de um penhasco para seu final em um trem que flerta com o absurdo e funciona como uma ótima homenagem ao primeiro filme da série.
Repleto de clichês e com um tempo de execução de quase três horas, uma proposta arriscada e extenuante para um longa que ainda terá segunda parte, Acerto de Contas Parte 1 pode não ser o melhor filme da franquia, mas faz da trama um trem em alta velocidade carregado de adrenalina. Se esse foi só o começo, a produção deixa um gostinho de quero mais para a chegada da continuação.
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