Meu Álbum de Amores
Rafael Gomes
BRA, 2022, 1h41, 14 anos. Distribuição: Paris Filmes
Com Vinicius Calderoni, Rafael Gomes e Luna Grimberg
Nos cinemas
Do cineasta Rafael Gomes, o longa metragem Meu Álbum de Amores chega aos cinemas brasileiros nesta quinta (18) e busca em sua narrativa responder a uma pergunta complexa e ao mesmo tempo, simples: quantos amores cabem em uma vida?
Para responder a essa pergunta, o espectador é apresentado ao protagonista da trama, o jovem dentista Júlio (interpretado por Gabriel Leone), que aparenta viver uma vida perfeita e completamente nas medidas. Ele tem uma família que o ama, um relacionamento estável, uma amiga leal, uma profissão ordinária e o total controle de sua vida, até se ver em uma encruzilhada sem saída quando a namorada de cinco anos termina a relação.
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Junto ao coração partido, o protagonista se depara com mais um desafio ao descobrir que é filho biológico de um cantor que fez gigantesco sucesso nos anos 1970, Odilon Ricardo (quando jovem, o personagem também é interpretado por Leone). Na narrativa, o cantor acaba de falecer e deixou aos filhos uma casa milionária. Sem escolhas, Júlio se vê em uma nova vida da noite para o dia, agora com um novo irmão, Felipe (interpretado por Felipe Frazão), que é completamente diferente dele e sem o grande amor de sua vida.
Durante o filme, os dois irmãos se unem com o propósito comum de encontrar quem foi o verdadeiro amor da vida do pai falecido, para assim lhes darem as suas cinzas, como pedia o testamento. Com a participação de estrelas da televisão e cinema que dão vida às antigas paixões de Odilon, cada relato de relacionamento edifica um pouco mais os personagens.
O roteiro do longa, assinado pelo próprio Rafael Gomes junto à Luna Grimberg e Vinicius Calderoni, traz o personagem em uma jornada de descobrimento de si mesmo e sobre o amor, sentimento o qual ele julgava já conhecer por inteiro.
Com os artifícios das músicas e espécie de apresentações e videoclipes que interrompem a história para levar uma balada romântica aos espectadores, a atuação de Leone é um dos grandes destaques da obra. O ator é capaz de carregar tanto o peso do mocinho careta quanto a interpretação de um astro da música em seu auge, carismático e misterioso.
“Visualmente, a ideia era aludir à estética dos clipes dos anos 1970 (e as referências são várias, de “Wuthering Heights”, da Kate Bush, a “Detalhes” e “Eu quero apenas”, do Roberto Carlos), deixando bastante explícita à citação, mas ao mesmo tempo quebrar a ilusão, ou seja, propor um jogo com o fato de que aquilo tudo era um cenário e uma simulação. Nesse sentido, assumindo uma espécie de ‘teatro’ dentro do filme”, explicou o diretor. Com as interrupções da trama para os shows de Odilon Ricardo, o filme perpassa por uma inusitada pitada de extravagância e cria um cenário que se difere do restante das cenas.
Além de Gabriel, os demais atores envolvidos com o longa, como Felipe Frazão, Maria Luisa Mendonça, Olivia Torres, Carla Salle e Clarice Abujamra também apresentam atuações que dignificam a narrativa.
Permeada por clichês das obras de romance, o filme brinca com o conceito de amor e quebra regras conservadoras da sociedade para expor que o amor de verdade pode ser encontrado em diversos lugares, de diversos jeitos, por diversas vezes e independente dos ‘quem?’, ‘como?’ e ‘onde?’, se faz um sentimento delicado e poderoso todas as vezes.
Meu Álbum de Amores é o terceiro e ultimo filme da trilogia Corações Sentimentais, criada por Rafael Gomes e inaugurada nos cinemas no ano de 2018 com o filme 45 dias Sem Você, seguido por Música Para Morrer de Amor, lançado em 2019. Explorando as vidas e experiências de pessoas na faixa dos 20 aos 30 anos, o diretor traz a arte como uma forma de descobrimento pessoal e busca criar um espaço digno para personagens que fazem parte da comunidade LGBTQIA+.
“Tratar daquilo que tomamos como “óbvio”, ou encarar os clichês como parte da experiência, é algo que me interessa na construção de dramaturgia e nestes três filmes em especial. Como se a questão fosse: o que fazemos daquilo que os clichês fazem da gente? Ou, posto de outra forma: com quantos clichês se faz uma sentimentalidade?”, explicou Rafael.