Melhores de 2015: Top 30 Discos do Ano

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Pela Equipe da Revista O Grito!. Textos de Paulo Floro, Fernando de Albuquerque e Augusto Moraes.

Não temos dúvida que este foi o melhor ano da década na música. Unindo em uma mesma lista artistas brasileiros e internacionais escolhemos os discos mais inovadores e relevantes lançados em 2015.

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hasta la raiz

30
NATALIA LAFOURCADE – Hasta La Raíz
[RCA]

A mexicana Natalia Lafourcade vem trazer algumas ideias novas e personalidade para outro nicho: o pop latino. Com passagens por orquestras sinfônicas e um gosto por bossa nova, Natalia traz uma sofisticação em arranjos que em geral caminham na esteira da calmaria, onde é possível perceber a nuance dos instrumentos. – Paulo Floro. | Deezer.

cidadao

29
CIDADÃO INSTIGADO – Fortaleza
[Independente]

Fernando Catatau fez um disco nostálgico, um tanto cínico sobre envelhecimento e com muitas saudades de casa neste Fortaleza. Seis anos depois do elogiado UHUU!, a banda aposta em um tom mais melancólico e fala das transformações ocorridas na cidade natal do músico que dá nome ao trabalho. “Das lembranças restou pouco, pouco só por resistir, procurando essa criança eu até envelheci/ A elite foi pros prédios e o povo sem perceber, que a Fortaleza bela ninguém mais podia ver, culpa desses governamentes que nos pisam no poder. A minha pergunta é séria e nem sei se eu sei dizer: minha Fortaleza réia, o que fizeram com você?”, canta ele na faixa-título. | Bandcamp.

bomba

28
BOMBA STEREO – Amanecer
[Sony Music]

Um dos nomes mais importantes do pop colombiano, o Bomba Stereo trouxe um trabalho bem orquestrado que se aprofunda nas tradições da música dançante da américa latina, como a cumbia, ao mesmo tempo em que capta as inovações da eletrônica internacional. – PF. | Deezer.

ogi

27
RODRIGO OGI –
[Independente]

Rodrigo Ogi lançou um testamento do rap nacional com esse trabalho, RÁ. No futuro será lembrado como o disco que melhor registrou o difícil momento vivido pela juventude negra e suburbana no Brasil. É um trabalho que se destaca ainda pelos ótimos arranjos, várias nuances e orquestrações e um texto cheio de ousadia para encarar problemas de frente. – PF. | YouTube.

courtney

26
COURTNEY BARNETT – Sometimes I Sit and Think, and Sometimes I Just Sit
[Mom + Pop Music]

Por seu olhar visceral e pé no chão do rock, a cantora mostra um domínio da arte de transformar o universo mundano em um produto irresistível. E as crises existenciais, que já renderam lombras egocêntricas clássicas, aqui se transformam em peças divertidas de sarcasmo. – PF | Deezer.

father

25
FATHER JOHN MISTY – I Love You, Honeybear
[Sub Pop]

Father John Misty abriu suas entranhas para entregar o disco mais apaixonado lançado este ano. Em I Love You, Honeybear ele elenca todas as suas desavenças, decepções, crises, desilusões e fragilidades sem parecer exageradamente amargo ou condescendente. Musicalmente, o trabalho é um passo além no folk, com incursões proveitosas por gênero como a eletrônica. – PF. | Deezer.

boogarins

24
BOOGARINS – Manual
[OtherMusic/Stereomono]

Dois anos após arrebatar o mercado internacional em seu debut, o atual quarteto goiano lançou em outubro Manual ou Guia Livre de Dissolução dos Sonhos (StereoMono, 2015). Com uma porção de guitarras limpas, sintetizadores e alguns vestígios de bossa nova, Manual é um álbum espontâneo sem deixar de ser afirmativo, pois indica uma construção madura, atenta ao tempo e ao redor. Não à toa, ganhou reprodução via streaming pelo site do New York Times e foi recebido com entusiasmo pela imprensa gringa. Se ainda não conhece, atenção às faixas “Mário de Andrade/Selvagem”, “Benzin” e “Cuerdo”. – Augusto Moraes. | Download.

sufjan

23
SURFJAN STEVENS – Carrie & Lowell
[Ashtmatic Kitty]

Ao olhar para os próprios demônios escondidos dentro de álbuns de fotografia bolorentos, Stevens decidiu contar a história de sua família sem pudor e com um misto de condescendência e dureza. O álbum Carrie & Lowell acompanha a vida de Carrie, sua mãe, que sofria de esquizofrenia e transtorno psicótico bipolar, além de lutar por anos contra vício em drogas. Já Lowell, que também batiza o disco, é o padrasto de Stevens, com quem mantinha uma boa relação (ele seria o diretor da gravadora do músico, a Asthmatic Kitty). – PF. | Deezer.

tame

22
TAME IMPALA – Currents

Kevin Parker produziu um dos melhores discos de rock do ano em um período de descrença no papel do gênero em produzir inovações como fez no passado. Currents busca referências óbvias do psicodelismo e synth-pop oitentista para criar um trabalho divertido e sólido com peso suficiente para ir além do hype. – Rafael Curtis. | Deezer.

deafheaven

21
DEAFHEAVEN – New Bermuda

O Deafheaven salvou o black metal da insignificância absoluta, da condenação de ficar restrito ao que sempre foi. Adicionou cor, vida e musicalidade a um estilo cansado, quase incapaz de apresentar novidades. (…) “New Bermuda”, o novíssimo disco, é outro testamento do que de melhor a música extrema pode oferecer em 2015. Pouquíssimas bandas são capazes de escrever uma faixa de abertura como “Brought To The Water” e seus riffs magníficos, mudanças de andamento, “wall of sound” de melodia, solos em crescendo, cozinha afinada e os vocais rasgadíssimos de George Clarke. O Deafheaven mudou pouco. E não poderia ser diferente. – Maurício Ângelo. | Deezer.

D'Angelo_-_Black_Messiah_Album_Cover

20
D’ANGELO & THE VANGUARD – Black Messiah

Um dos maiores nomes do R&B retorna 14 anos depois com um trabalho carregado de teor social em um momento explosivo na história racial dos EUA. Em suma, Black Messiah mostra um artista único que não perdeu a mão, com todos seus predicados e o talento espetacular de produzir uma música que só ele é capaz, mantendo suas características e indo além. – Maurício Ângelo. | Deezer.

hooker disco

19
JOHNNY HOOKER – Eu Vou Uma Macumba Pra Te Amarrar, Maldito
[Jdm Music]

Ovacionado pelo público e pela crítica, Johnny Hooker transborda visceralidade. É com se tirasse sua música das entranhas. Com um entendimento do pop como poucos artistas hoje em dia, o disco tem canções de apelo às massas e que falam diretamente aos sentimentos mais básicos de qualquer ouvinte: amor, perda, raiva, paixão e sexo. – Fernando de Albuquerque. | Deezer.

anganga

18
JUÇARA MARÇAL & CADU TENÓRIO – Anganga
[Sinewave]

A Aura sombria, mas não menos rica e exultante de Anganga apresenta sonoridade que bebe integralmente na musicalidade negra para as composições que são reinterpretações contemporâneas de vissungos recolhidos por Aires da Mata Machado Filho em São João da Chapada, município de Diamantina (MG) —, além de cantos de Congado. – FA. | Download.

ibeyi

17
IBEYI – Ibeyi
[XL]

O Ibeyi (lê-se i-bí-í), que quer dizer “gêmeas” em yorubá, não está interessado em atender demandas de exotismo pop. O som delas tem autenticidade e diálogo com diversos gêneros, desde o jazz francês até o electropop. Há momentos de intensa comoção, como “Behind The Curtain” ou “Stranger/Lover” e outros mais animados como “River”, prova do talento das meninas para criar hits sofisticados. – PF. | Deezer.

adele

16
ADELE – 25
[XL/Columbia]

Um dos maiores feitos em Adele foi fazer um disco que todos queriam ouvir, algo cada vez mais difícil em tempos de intensa fragmentação e dispersão. E fez isso usando plataformas e estruturas tidas como obsoletas, como a distribuição exclusivamente através de discos físicos e venda online. 25 traz um nível de sofisticação bem acima da média das demais personas pop hoje no mercado e mostra uma cantora muito segura do seu caminho trilhado. Cada faixa se mostra um hit em potencial, o que reforça ainda mais o talento de Adele em dominar como poucas sua arte e assim responder bem toda a expectativa que recebe. – PF. | iTunes, Americanas.

newson

15
JOANNA NEWSOM – Divers
[Drag City]

Isolada, habitante de um universo tão intimista, Joanna Newsom fascina no disco duplo Drivers, um trabalho marcado pela explosão dos arranjos e vozes. As faixas sustentam uma às outras como uma estrutura complexa e interdependente. Impossível ouvir uma única canção. – FA. | iTunes.

bjork

14
BJÖRK – Vulnicura
[One Little Indian]

Björk surpreendeu a todos com um disco em que se mostra vulnerável e intimista. Conhecida por explorar a forma acima de tudo, ela abriu o coração em um trabalho que exorciza seu processo de separação. Mas Vulnicura ainda trabalha bem a assinatura da cantora, com faixas cheias de texturas e orquestrações. Um clássico na discografia da cantora. – PF.
| Spotify.

instituto

13
INSTITUTO – Violar
[Independente]

O segundo disco do Instituto chega 13 anos depois do sucesso da estreia e funciona como uma celebração da melhor e mais inventiva geração brasileira de músicos da última década. – PF. | Deezer.

panda

12
PANDA BEAR – Panda Bear Meets The Grim Reaper
[Domino]

Noah Lennox conseguiu reunir todas as confusões, desorientação, dilemas e questões pessoais dentro de uma proposta que não se vende em nenhum momento como uma jornada narcisista ou autorreferente. É um disco poderoso e universal que se insurge na eloquência de sua produção caprichada. Com um estilo bem marcado e uma esquisitice cultivada ao longo de cinco ótimos trabalhos, Panda Bear se mantém como um dos músicos mais relevantes de sua geração. – PF. | Deezer.

selvatica

11
KARINA BUHR – Selvática
[YB]

Em um ano em que o conservadorismo atacou com força, Karina Buhr trouxe um revide à altura. Selvática é um clássico brasileiro por dialogar como poucos com o seu próprio tempo. Entre os temas estão o machismo, a classe média amedrontada (“Pic Nic”) e as transformações nas cidades (a ótima “Cerca de Prédio”) O disco combina bem a interpretação e experimentações vocais de Karina Buhr com uma orquestração que traz referências do hardcore, punk, brega e pop, sempre com muito peso. – PF. | Download.

nocities

10
SLEATER-KINNEY – No Cities To Love

[Sub Pop]

O trio formado por Carrie Brownstein, Corin Tucker, and Janet Weiss despiu o rock de todas as experimentações e desvios de percurso que o tentaram elevar para baixá-lo à sujeira costumeira de sempre. Produzido por John Goodmanson (Bikini Kill, Blonde Redhead, Death Cab for Cutie), o álbum preza pelo peso e energia, mas traz uma produção esmerada que conseguiu costurar os vocais nervosos das integrantes com arranjos sofisticados. – PF. | Deezer.

ava

09
AVA ROCHA – Ava Patrya Yndia Yracema
[Indepenente]

Ava Rocha já pode ser considerada, tranquilamente, um dos principais nomes da música brasileira nos últimos anos. Dona de uma voz marcante e de humor sarcástico, seu disco conquistou gregos e troianos com um conjunto de músicas que hipnotizam consciência e ouvidos. Performática, mas sem histeria, sua presença de palco inebria o mais pacato dos espectadores. – FA. | Download.

emicida

08
EMICIDA – Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa…

[Sony]

O rapper Emicida lançou um dos trabalhos mais representativos de sua geração com esse novo álbum. Aqui ele decidiu explorar ainda mais a sua própria biografia ao mesmo tempo em que buscou histórias das raízes africanas para contextualizar a situação do negro no Brasil atual. – PF. | Deezer.

vince

07
VINCE STAPLES – Summertime ’06

[Def Jam]

Staples é hoje um dos nomes mais interessantes do hip hop. Com apenas 22 anos, ele apresentou um álbum autobiográfico que fala com nenhum distanciamento de seu amadurecimento e as impressões que tem sobre questões importantes vividas pelos negros nos EUA hoje, como violência policial e preconceito. – PF. | Deezer.

kamasi

06
KAMASI WASHINGTON – The Epic

[Brainfeeder]

Em The Epic, ele explorou todas as possibilidades do gênero, forçando limites em um trabalho monumental, meticuloso e que mostra sua visão, virtuosismo, mas que também conta uma história. Quase não houve espaço para improvisação – atributo comum ao jazz – nos 172 minutos. O trabalho longo foi dividido em três discos e contou com um coral de vinte vozes, orquestra de 32 músicos e mais uma dezena de instrumentistas convidados. Um trabalho imenso, todo produzido por Kamasi. – PF. | Deezer.

artangels

05
GRIMES – Art Angels

[4AD]

Grimes é a cantora pop mais inovadora hoje. É ela a quem devemos olhar para vislumbrar o futuro do gênero além das saturadas propostas experimentadas por outras artistas hoje. Art Angels é a prova do seu poder em unir carisma e experimentação para fazer um dos trabalhos mais impressionantes do ano. – FA. | iTunes.

siba

04
SIBA – De Baile Solto

[YB]

Em De Baile Solto, Siba usa seu talento em criar joguetes verbais para fazer uma poética de ritmo pesado. Há diversas críticas a questões políticas como o menosprezo às tradições (“Marcha Macia”), violência, consumismo, desigualdade social, mas o mais importante é o modo como Siba reforçou a importância da união das pessoas contra a opressão pelo poder do capital. Na dura “Quem é Ninguém” ele usa faz uso do repente e do maracatu para criticar o poder econômico que toma conta da vida das pessoas e da cidade. “Quem tem dinheiro consome /decide, manda e manobra / mas quem não tem come a sobra, que é pra não morrer de fome”, diz a letra. – PF. | Download.

jamiexx_disco

03
JAMIE xx – In Colour

[Young Turks]

Neste álbum de estreia, In Colour, Jamie xx retira toda a pompa e badulaques da eletrônica para aproveitar todo seu potencial. E é incrível o que ele consegue fazer com tão pouco. O que temos é um disco que soa leve e pesado ao mesmo tempo. Por um lado temos base hipnóticas e arranjos que podem ser apreciados tanto em separado quanto em conjunto. – PF. | Deezer.

topimp

02
KENDRICK LAMAR – To Pimp A Butterfly

[TDA/Universal]

Pouquíssimos artistas tem a capacidade de, em pleno 2015, gerar um verdadeiro fenômeno cultural. Kendrick Lamar é um deles. Da capa às letras, passando pela sonoridade riquíssima, temos uma infinidade de camadas e de leituras possíveis. Com este disco, Lamar sai da mediocridade permeada por alguns ótimos momentos para entrar no panteão das principais vozes da música negra da atualidade, que precisava urgentemente de um expoente desse quilate. – Maurício Ângelo.

Foto: Stephane Munnier/Divulgação.
Foto: Stephane Munnier/Divulgação.

01
ELZA SOARES – A Mulher do Fim do Mundo

[Yb]

Na calada da noite, sem qualquer alarde, a sorrateira Elza Soares nos deixou aturdidos com o lançamento, em outubro, de seu primeiro disco de inéditas A Mulher do Fim do Mundo. Surpreendentemente contemporâneo, sob uma óptica estética, mas, também, política, este é sem dúvida o trabalho mais relevante deste ano e há de figurar entre os ícones da década.

Com produção do baterista Guilherme Kastrup e direção artística de Celso Sim e Romulo Fróes, aposta num instrumental arrojado, sujo, rock, punk, sem excluir cuícas e metais, Elza ainda é samba e carnaval, experimenta e expõe a versatilidade de sua voz, ora debochada ora em luto. A Mulher do Fim do Mundo, é do lugar aonde ninguém quer ir, é pobre, negra, travesti, suburbana – é mulher. Está à margem e conhece os que estão à margem como ninguém.

Por outro ângulo, é apocalíptica, dissidente: carrega consigo o olhar profético e essa tal força própria de quem passou de um tudo na vida somados a insatisfação que precedem as transformações. É um disco de discurso pontual, empoderado, feminista, costurado ao universo da cantora e a tudo que ela representa. Aos 78 anos, a carioca sempre foi marcada pelas perdas, mas nunca a de sua força.

Vinda do “planeta fome”, como declarou no programa de Ary Barroso no início de sua carreira, é uma das personagens brasileiras mais potentes e destemidas das últimas cinco décadas, renasceu e renasce todos os dias – Elza é o agora. Ouça na íntegra abaixo. – Augusto Moraes.