Lista e edição por Paulo Floro e Fernando de Albuquerque. Textos de Paulo Floro.
Faz alguns anos que dizemos aqui nessa lista de melhores o quanto vai bem o mercado de quadrinho nacional. Afinal, basta ver a quantidade de lançamentos a cada mês, os diversos projetos em financiamento coletivo, as novas editoras, as publicações especializadas, novas lojas e festivais como o FIQ e o CCXP refletindo a ebulição criativa que instiga o surgimento de novos quadrinistas.
Ainda há muito a se caminhar na consolidação de um mercado – a começar pela formação de um público-leitor mais heterogêneo – mas o cenário é bem melhor do que quando comecei a acompanhar quadrinhos, em meados dos anos 1990. De lá pra cá nunca lemos tanto gibis. Mas 2015 trouxe um novo fator que destaca o momento em que vivemos: foi quando as HQs nacionais dialogaram com o contexto sociopolítico do Brasil como há muito não víamos.
Esse diálogo é mais do que salutar para qualquer arte e com os quadrinhos não é diferente. É o caso de trabalhos de Marcello Quintanilha, LoveLove6, Lu Cafaggi e no exterior com gibis de Li Kunwu e P. Ôtié e Riad Sattouf. O ano também foi prolífico para experimentações estéticas. E aqui destaco o Gavião Arqueiro da Nova Marvel, novidades como Felipe Portugal e o aguardado novo trabalho de Pedro Cobiaco.
Antes de começar nossa lista seria injusto não destacar algumas menções honrosas. Foi incrivelmente difícil selecionar apenas 25 títulos em 2015. Destacamos Saga Vol. 2, que, apesar de ter entrado em nosso Top 10 no ano passado acabou ficando de fora aqui por chegar na última semana do ano quando essa lista já estava editada; as revistas Risca e Farpa que fizeram um trabalho brilhante ao documentar a representação feminina nas HQs além de fazer uma pesquisa que resgatou nomes importantes de mulheres quadrinistas; a ótima e experimental Medéia, de Mariana Waechter, que apesar de ser de 2014 descobrimos apenas este ano; Autocracia, de Woodrow Phoenix, uma belíssima obra que explora as possibilidades do design das HQs para falar de nossa obsessão por carros; o site Nébula com sua ótima curadoria. E este também foi o ano que vimos nascer o Fabuloso Quadrinho Brasileiro de 2015, uma bem-vinda iniciativa que mostra um recorte da boa e numerosa produção nacional.
Pronto, aqui a nossa lista de melhores HQs de 2015.
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25
DIAS INTERESSANTES, de Liber Paz
[Independente]
Em As Coisas que Cecília Fez (que entrou na lista de melhores do ano em 2013), o quadrinista Liber Paz mostrou uma voz própria no cenário de HQs do País. Ele é dono de uma narrativa onde a subjetividade das relações humanas fica em evidência. Em Dias Interessantes Liber mostra a vida de um casal às vésperas do fim inevitável. O uso que faz do design de páginas e a fluidez dos diálogos o colocam como um dos melhores contadores de histórias que temos hoje nos quadrinhos. | Compre.
24
BATGIRL, de Brenden Fletcher, Cameron Stewart e Babs Tarr
[Publicado em A Sombra do Batman, Panini]
A nova Batgirl de Fletcher, Stewart e Babs surge em um contexto de mais representatividade feminina nos quadrinhos mainstream dos EUA. Com um visual arrojado, traços dinâmicos e cores vivas, a personagem se descola da velha lógica do gibi pra garotos héteros, com mulheres hiperssexualizadas, e traz uma trama também direcionada para elas, mas onde todos podem se divertir. Com muita influência do mangá, a HQ tira a heroína da sombra do morcego e mostra que ainda há muito a ser explorado no ainda ortodoxo mundo dos super-heróis.
23
HERMÍNIA, de Diego Sanchez
[Mino]
O trabalho de Sanchez sempre foi marcado pela narrativa caótica, experimental, um meio termo entre o fluxo de consciência e uma diagramação mais formal. Com sua estrutura simples, Sanchez fez de Hermínia um experimento narrativo no que diz respeito ao aspecto imersivo da linguagem dos quadrinhos. O riscado fino do traço dá uma impressão de movimento aos quadros e torna tudo tênue e imperfeito. Isso ajuda a criar um clima intimista e pouco disperso, que ajuda a capturar o leitor para aquela atmosfera. É um tipo de HQ menos contemplativa e óbvia e mais sugestiva. – PF. | Compre.
22
MÔ, de Lu Cafaggi
[Publicado no site Elástica/Ed. Abril]
Em um ano tão importante para o feminismo e onde as mulheres ganharam mais visibilidade nas suas lutas por mais direitos, a HQ de Lu Cafaggi publicada no site Elástica é bem poderosa. A história curta do relacionamento de duas meninas foi inspirada em uma história real e chama atenção pela naturalidade e pela delicadeza com que a autora trata a intimidade das duas. O traço de Lu é um dos mais bonitos no quadrinho nacional e a obra só aumenta a expectativa por uma HQ autoral sua em 2016.
21
GATA GAROTA VOL. 1, de Fefê Torquato
(Nemo)
O interessante da HQ é o modo como Fefê consegue utilizar todos os conhecidos clichês dos gatos dentro de um contexto cotidiano dos humanos. Faz isso sem soar óbvio ou gratuito. Além de passar mais da metade de seu tempo dormindo, Gigi lida com os “dilemas” felinos, como caçar e torturar insetos por horas e se enroscar em pessoas por comida. Uma mulher-gato que realmente se comporta como um gato, Gata Garota tem carisma para se inserir com destaque no novíssimo panteão de personagens nacionais de quadrinhos. – PF. | Compre.
20
ESPIGA, de Felipe Portugal
(Independente)
Felipe Portugal, 22, é uma das promessas do quadrinho nacional e chega em seu primeiro livro autoral com uma narrativa que se destaca pelos riscos que corre. É um trabalho de formação, onde o autor piauiense parece construir seu próprio estilo aos olhos do leitor. Espiga é repleto de boas ideias e explora bem as possibilidades da página em uma trama bem pessoal. Acompanhamos a história de um jovem na adequação necessária, mas sempre complicada, à vida adulta. | Compre.
19
LOUCO – FUGA, de Rogério Coelho
[Panini]
As Graphic MSP são um case de sucesso no quadrinho nacional e vêm entrando em nossa lista de melhores há alguns anos. Louco – Fuga é uma das melhores lançadas até agora. Rogério Coelho faz bom uso de um dos mais interessantes personagens de Mauricio de Sousa. As páginas duplas que forçam a leitura na horizontal e diversos quadros e diagramações servem bem à trama imaginativa e poética do livro. É um dos mais imaginativos da série e, como pede o personagem, o mais livre no que diz respeito à narrativa. Coelho é conhecido pelo seu trabalho com ilustração e essa sua HQ consegue elevar o Louco a um merecido destaque. | Compre.
18
DODÔ, de Felipe Nunes
(Independente)
Dodô, nova HQ de Felipe Nunes (Klaus) é uma daquelas obras que batem como um soco, que tiram o leitor de um estado de inércia para levá-lo a um mundo muito particular e delicado. Nunes tem um talento para criar empatia ao avançar de poucas páginas. E com isso ele vai brincando com as expectativas do leitor até desbancar em uma virada surpreendente na trama de uma menina que tem a amizade de um pássaro raro. A obra trata de um tema complicado, a separação dos pais e o abandono. “O quadrinho acaba sendo melancólico, mesmo. Não sei te dizer o motivo ao certo, mas acho que não dá pra falar de separação de pais sendo fofo e simpático, fingindo que todo mundo ficou ótimo com tudo isso. No fundo, alguma parte vai se machucar com essas coisas”, disse Nunes em entrevista à O Grito!. | Compre.
17
GAROTA SIRIRICA e A SUB-REPRESENTAÇÃO FEMININA NO IMAGINÁRIO DOS AUTORES, de LoveLove6
(Independente)
A brasiliense LoveLove6 tocou em um dos maiores tabus da sociedade em todos os tempos: a masturbação feminina. E mais do que trazer uma ótima HQ sobre prazer e desejo, ela ainda rompeu uma lógica de representatividade. Fez uma HQ sobre sexo para mulheres e com a perspectiva feminina. Pode parecer pouco, mas este olhar é quase transgressor ao subverter diversas noções sobre o papel da mulher nos quadrinhos. A HQ reúne trabalhos lançados entre 2013 e 2015 e foi viabilizado via financiamento coletivo. LoveLove6 teve uma produção prolífica este ano, com participações em revistas, coletâneas e no seu perfil no Medium. Destacamos a ótima A Sub-representação Feminina no Imaginário dos Autores, na Nébula, onde ela propõe um ensaio sobre o aspecto estereotipado das personagens femininas no trabalho dos autores. | Compre.
16
LIMIAR: DARK MATTER, de Luciano Salles
[Independente]
Limiar é o fim de um ciclo para Luciano Salles. O autor finalizou uma trilogia em que explora traço e narrativa que flertam com o surrealismo. A trama mostra o trio de amigos, Amerício, Carino e Nádio que entram em uma misteriosa porta da vingança que vai trazer consequências para a vida de todos. A experimentação é tanto o ponto de partida quanto o mote desta HQ que, ainda que não supere O Quarto Vivente ou L’Amour 12Oz é a prova de um autor com uma voz e assinatura únicas. E isso não é pouco. | Compre.
15
CRIMINOSOS DO SEXO VOL. 1, de Matt Fraction e Chip Zdarsky
[Devir]
Matt Fraction e Chip Zdarsky fizeram essa HQ divertida que sai na frente já com seu argumento absurdo: um casal de amantes tem o estranho poder de parar o tempo ao atingir o orgasmo. E o que fazer nesse tempo? Assaltar um banco, evidentemente. A estranha habilidade rende um roteiro inventivo e uma narrativa ágil que coloca a obra como parte do criativo momento vivido pela editora americana Image. Traz ainda diversas tiradas interessantes sobre fetiches e desejos de toda ordem. É de se comemorar que esse título chegue por aqui em tão pouco tempo depois de sair nos EUA. | Compre.
14
O PERFURANEVE, de Jacques Lob, Jean Marc-Rochette e Benjamin Legrand
[Aleph]
Clássico cult da ficção científica, a graphic novel francesa O Perfuraneve (Le transperceneige, 1982) finalmente chegou ao Brasil. Confinados no trem, a convivência entre os passageiros se torna cada vez mais tensa com o passar do tempo. Num inquietante reflexo às organizações de nossa realidade, pessoas do Perfuraneve se unem em entidade militar e culto religioso, por exemplo. – Caio Delcolli.
13
UMA VIDA CHINESA – O TEMPO DO PAI, de Li Kunwu e P. Ôtié
(WMF Martins Fontes)
O quadrinista chinês Li Kunwu fez um trabalho de mais de 700 páginas sobre a vida de uma pessoa comum na China a partir da década de 1950. A obra, feita em parceria com o diplomata francês Philippe Ôtié, aborda os impactos da história recente do país no cotidiano da população. Neste primeiro volume vemos um país em ebulição após a revolução cultural e chegamos até a morte de Mao Tsé-Tung em 1976. Li é um caso raro de autor que vive de HQs na China e tem uma produção volumosa, com mais de 30 livros. | Compre.
12
MEU PAI É UM HOMEM DA MONTANHA, de Bianca Pinheiro e Gregório Bert
[Independente]
Bianca Pinheiro é uma grata novidade do quadrinho nacional. E sua versatilidade é impressionante. Vai de narrativas de terror a fantasia com enorme disposição. Em Meu Pai É Um Homem da Montanha, ela se une a Gregório Bert para trazer um pequeno conto sobre identidade, superação e laços familiares. A composição das páginas e o uso da iluminação colocam o leitor dentro daquele universo. O final emocionante perdura por muito tempo após o fim da leitura. Um pequeno clássico nosso. | Compre.
11
DOIS IRMÃOS, de Fábio Moon e Gabriel Bá
[Companhia das Letras/Quadrinhos na Cia]
A densidade da obra de Miltom Hatoum foi contornada com maestria por Moon e Bá, quadrinistas acostumados a retratar a vida privada brasileira e cujo traço traz um equilíbrio entre o detalhismo quase contemplativo e o minimalismo. Na HQ, os autores precisaram explicitar muito do que no livro é apenas sugerido, como a relação quase incestuosa da mãe, Zara, pelo filho mais novo e a distância que o pai, Salim, nutria por ambos. Outras nuances também foram desnudadas através da narrativa em quadrinhos, entre elas o complexo jogo de poder na casa da família. | Compre.
10
O ÁRABE DO FUTURO, de Riad Sattouf
[Intríseca]
O Árabe do Futuro, de Riad Sattouf, traz uma enorme contribuição para uma maior compreensão da sociedade síria. E chega em um momento importante para a história do país, bem como do chamado “mundo árabe”. Sattouf, nascido na França e criado na Síria, traz diversas camadas para a complexa cultura e sociedade do Oriente Médio. O livro reúne memórias do autor e levanta questões importantes para nós, estrangeiros. É uma obra que está para a Síria assim como Persépolis, de Marjane Satrapi, está para o Irã. A contribuição trazida para propor uma visão menos deturpada da cultura síria é muito grande. O livro fez bastante sucesso no exterior (ganhou o 42º Angoulême em 2014) e chega ao Brasil em um momento bem oportuno. | Compre.
09
DUPIN, de L.M. Melite
[Zarabatana]
Leandro Melite, em seu segundo livro, trouxe uma obra delicada sobre infância, família. A HQ é baseada livremente no detetive C. Auguste Dupin, criado por Edgar Allan Poe e introduzido em Os Assassinatos da Rua Morgue (1841). Melite colocou o personagem como um menino português que vem morar com o primo brasileiro após perder os pais. Bem mais “acessível” que sua ótima estreia, Desistência do Azul, Dupin parte da capacidade imaginativa das crianças para criar uma história de aventura e suspense. Destaque para as soluções criativas de enquadramento e design criadas por Melite. | Compre.
08
PÍLULAS AZUIS, de Frederik Peeters
[Nemo]
Frederick Peeters, o mesmo autor de Aâma, fez do seu registro autobiográfico uma obra-prima. Mais do que um passeio em busca de autoconhecimento e redenção, a HQ contribui muito para um olhar menos preconceituoso das pessoas vivendo com HIV. Pílulas Azuis mostra a relação do autor com sua esposa, portadora do vírus da aids. Com uma narrativa que mescla o registro banal do cotidiano com reflexões metafísicas, a obra é uma das mais belas histórias de amor já registradas em quadrinhos. | Compre.
07
GAVIÃO ARQUEIRO, de Matt Fraction e David Aja
[Publicado em Capitão América & Gavião Arqueiro, Panini]
Inovar no gigantesco mercado de quadrinhos norte-americano requer uma coragem grande o suficiente para poucos se arriscarem na tarefa. A pressão é tão grande que o erro aqui tem uma proporção enorme, desproporcional. E quando falamos inovação não estamos nos referindo apenas às boas histórias, o que já seria incrível, mas novas propostas na narrativa e na forma. E a série do Gavião Arqueiro na Nova Marvel acertou na mira. Criou uma boa trama de super-herói, mas elaborou saídas criativas que estão um nível acima do que o mercado mainstream dos comics mostraram em 2015. O que dizer da genialidade de um gibi sem falas feito em linguagem de sinais, como mostrado em um dos números? Ou da incrível conclusão, já publicada no Brasil, desde já um dos clássicos da Marvel.
06
LAVAGEM, de Shiko
[Mino]
Existe um chamado primal nos trabalhos de Shiko. Ao lado de seus traços realistas e dramáticos, temos um dos estilos mais viscerais dos quadrinhos nacionais. Em Lavagem, Shiko trata com bastante dureza a realidade dos mangues, dando bastante destaque ao embrutecimento das pessoas face às adversidades do ambiente. Seu traço surge aqui com toques ainda mais naturalistas, evidenciando a feiúra dos cenários e as expressões de angústia dos personagens. A narrativa chega ao leitor cheia de tensão, o que culmina em um final surpreendente. – PF.
05
MATE MINHA MÃE, de Jules Feiffer
[Companhia das Letras/Quadrinhos na Cia]
Jules Feiffer é um dos maiores nomes dos quadrinhos mundiais e da ilustração (foi assistente de Will Eisner e já ganhou um Pulitzer e um Oscar) e chega aqui à sua primeira novela gráfica noir. Mate Minha Mãe explora as diversas possibilidades das HQs em uma trama cheia de reviravoltas e com um tom dramático, realista, mas também humorado. Desfazendo a leitura tradicional dos quadros e abusando de uma linha caótica, Feiffer leva o gênero a lugares ainda não explorados. | Compre.
04
TALCO DE VIDRO, de Marcelo Quintanilha
[Veneta]
O mal estar da classe média está escancarado na nova HQ de Marcello Quintanilha, um dos quadrinhistas brasileiros mais reconhecidos no mundo. Na obra, conhecemos os dilemas existenciais de Rosângela, uma dentista bem-sucedida que se vê em um vórtice de inveja e fascinação por sua prima pobre. Talco de Vidro é uma espécie de thriller psicológico que explora a solidão e tristeza dos dias atuais e o preconceito de classe. – PF. | Compre.
03
O ESCULTOR, de Scott McCloud
[Marsupial/Jupati]
Antes do ano acabar, a Marsupial lança uma das HQs mais aguardadas do ano, O Escultor, o trabalho autoral de um dos maiores teóricos dos quadrinhos. Nesta primeira novela gráfica escrita pelo autor em 20 anos temos dilemas e reflexões colocados no papel desde sua juventude. A trama trata da vida do artista David e sua relação com a vida, arte, fama e relacionamentos. Ao colocar em prática todas as teorias apresentadas em seus livros acadêmicos, McCloud cria um clássico sobre arte e vida real. | Compre.
02
AS AVENTURAS DA ILHA DO TESOURO, de Pedro Cobiaco
[Mino]
As Aventuras da Ilha do Tesouro tira sua força da sensibilidade. O traço de Pedro Cobiaco traduz crueza, caos e vulnerabilidade que o afastou do formalismo de qualquer natureza. Esta sua HQ é uma força bruta de paixão e cor. O autor apresenta um Capitão e seu grupo de amigos que exploram uma ilha mágica. Remete aos clássicos das histórias de aventura para experimentar na linguagem dos quadrinhos e trazer uma obra cheia de vigor. Leia nossa entrevista com Pedro. | Compre.
01
A PROPRIEDADE, de Rutu Modan
[WMF Martins Fontes]
Rutu Modan é dona de uma das obras mais premiadas nos quadrinhos dos últimos anos. A Propriedade traz uma história cuja força e sentido residem no bom uso da linguagem dos quadrinhos. E é um gibi que eleva esta arte como poucos. A HQ trata com delicadeza questões políticas de Israel ao mostrar o périplo de avó e neta israelenses em uma viagem à Polônia para recuperar um imóvel da família. Da nossa resenha: “O mundo onde vivem os personagens de Rutu é tão absurdo quanto o que estamos acostumados a ver nos noticiários, mas o peso de sua narrativa recai sobre as pessoas e menos nos agentes históricos. A Propriedade revela pessoas que precisam conviver com o peso de suas decisões e conviver com o passado – e isto nunca é fácil, como iremos descobrir. Contar a história da perspectiva de judeus contemporâneos à Segunda Guerra é sempre falar de uma relação conturbada com o passado. Rutu tem delicadeza para abordar questões difíceis, mas não é condescendente em nenhum momento. Por trazer personagens tão humanos, tão falhos, tão absurdos e até ridículos, Rutu Modan se insere em um campo do realismo ocupado por poucos autores das HQs”. – PF.