Pelo quinto ano consecutivo realizamos a lista das HQs de destaque no mercado editorial brasileiro. Convidamos jornalistas e críticos especializados em quadrinhos para escolher as melhores obras. No ano em que uma lei de cota para autores nacionais está sendo discutida, temos muitos brasileiros neste Top 20.
O ano também foi muito bom para as editoras estreantes. Nemo, SM Edições e Agaquê, entre muitas outras trouxeram ainda mais diversidade para as livrarias. E os independentes mostraram força: Vitor Cafaggi, a dupla Eduardo Damasceno e Luís Felipe Garrocho conseguiram repercussão e elogios da imprensa com seus álbuns.
Para compor a lista, pedimos que os votantes listassem 10 HQs lançadas no Brasil em 2011. Cada posição equivale a um ponto, em modo decrescente. O primeiro lugar ganha 10 pontos, o segundo, 9 pontos e assim por diante. No final, os pontos de todas as listas individuais são somados e chegamos ao ranking final. Como critério de desempate, levamos em conta o número de vezes que a obra é citada.
O texto de apresentação das HQs nessa lista tiveram a colaboração de posts do Papo de Quadrinho, nosso blog de HQ. Que 2012 seja ainda mais incrível que este ano.
ESPECIAL MELHORES DE 2011
Top 30 Videoclipes de 2011
Top 50 Músicas de 2011
Top 50 Discos de 2011
QUEM VOTOU NA LISTA DE MELHORES HQS
20
GENESIS APOCALÍPTICOS E OS INEFÁVEIS
Lewis Trondheim (Marca da Fantasia)
Cofundador da importante editora francesa L’Association, Trondheim não tinha nenhuma de suas obras lançadas no Brasil. A independente Marca de Fantasia, de João Pessoa, driblou essa nossa deficiência e trouxe o incrível trabalho do francês para o País. Ele esteve inclusive no País, em outubro, onde passou até pelo Recife. Neste livro que reúne dois livros do autor, ele trata da origem do mundo, do apocalipse e um curioso universo de homens e mulheres “batatas”.
19
O LOUCO A CAIXA E O HOMEM
Daniel Esteves e Will (Independente)
Esta HQ indie é uma colaboração entre Will (MSP + 50) e Daniel Esteves (da Nanquim Descartável). “À medida que o diálogo entre o Louco e o Homem avança, o humor vai cedendo lugar ao drama, até a conclusão em que o leitor se questiona quem é mesmo o Louco e quem é o Homem. Diferente da outra HQ, o traço futurista de Will parece conflitar com a trama fortuita de Esteves, o que deixa a leitura ainda mais interessante. Na verdade, este aparente conflito deixa a história mais universal, provando que poderia se passar em qualquer tempo ou espaço.” — Jota Silvestre, no Papo de Quadrinho.
18
VALENTE PARA SEMPRE
Vitor Caffagi (Independente)
Valente para Sempre é uma compilação das 72 tiras publicadas no jornal O Globo. Num mundo habitado por animais, Valente é o cãozinho apaixonado e idealista, numa busca ansiosa pela garota disposta a receber todo o amor que ele tem para dar. Apesar do tom de fábula, o mundo de Valente é o mundo real, com sua cota de dissabores, dúvidas, angústias e aquela insegurança típica da pré-adolescência, que o protagonista não sem importa em compartilhar com sua melhor amiga Bu e com todos os leitores. — Jota Silvestre.
17
PREACHER VOL. 9 – ÁLAMO
Garth Ennis e Steve Dillon (Panini)
A edição era uma lenda dentro do mercado nacional de quadrinhos: que maldição tinha a série Preacher, da Vertigo, que nenhuma editora consegue concluí-la? A Panini cumpriu sua promessa de encerra a série por aqui, fazendo a felicidade dos colecionadores. Aqui vemos Jesse Custer no fim da sua missão de destruir ninguém menos que Deus. Toda a insanidade de Garth Ennis levado às últimas consequências.
16
A BALADA DE JOHNNY FURACÃO
Eduardo Felipe (Editora Flaneur)
A jovem editora carioca Flaneur lançou esta HQ de Eduardo Felipe, também conhecido como Mestre Sama, que se baseou em um verso de Roberto Carlos e Erasmo Carlos. Bebendo na fonte do cinema pulp, o livro mostra uma história de vingança e seu traço preto e branco tem forte inspiração de nomes como Alfred Hitchcock. Com passagens pela TV e já tendo colaborado em publicações como piauí e Heavy Metal, Sama ainda precisa conquistar seu merecido reconhecimento.
15
CASTELO DE AREIA
Pierre Oscar Lévy e Frederik Peeters (Tordesilhas)
Um dos concorrentes do prestigiado festival Angoulême este ano, esta HQ chega pela editora estreante nos quadrinhos, a Tordesilhas. Vencedor de um Oscar e sendo conhecido pelo seu trabalho como documentarista, Oscar Lévy ainda é pouco conhecido no Brasil. O mesmo vale para o sueco Peeters. A história do álbum se passa em uma praia, onde uma criança encontra um cadáver de uma mulher.
14
ERA A GUERRA DAS TRINCHEIRAS
Jacques Tardi (Nemo)
Vencedora de diversos prêmios internacionais, a HQ chega pelo novo selo da editora Autêntica, Nemo. Tardi revela todos os horrores da Primeira Guerra Mundial, como pano de fundo para denunciar o lado desumano dos conflitos. Publicada originalmente em 1993, esta obra é baseada nas memórias do avô do autor, assim como outras de suas HQs anti-guerra.
13
676 APARIÇÕES DE KILLOFFER
Patrice Killoffer (Leya / Barba Negra)
Um dos principais nomes das HQs francesas hoje, Killoffer trabalha num campo muito experimental que vem propondo novos caminhos para o gênero. Esse álbum narra diversas reflexões do autor a respeito do seu cotidiano e também sobre relacionamentos.
12
QUANDO MEU PAI ENCONTROU O ET FAZIA UM DIA QUENTE
Lourenço Mutarelli (Quadrinhos na Cia / Companhia das Letras)
Demorou para que Lourenço Mutarelli retornasse aos quadrinhos. Desiludido com o gênero e empolgado com a boa repercussão de sua carreira literária, o autor deixou de lado os desenhos. Por isso, Quando Meu Pai… é uma obra tão aguardada e recebida como o retorno de um dos mais conhecidos autores nacionais. E sua volta é controversa. Com apenas um quadro por página, o livro chegou até a despertar indagações: é uma HQ, um livro ilustrado? O que temos, com certeza, é a força criativa intacta de Mutarelli, que segue experimentando.
11
ORDINÁRIO
Rafael Sica (Quadrinhos na Companhia / Companhia das Letras)
Esta HQ reúne tiras que foram publicadas na internet, quando Rafael Sica foi revelado em seu blog. A edição da Companhia das Letras ainda traz algumas ilustrações exclusivas. O traço de Sica revela o desespero presente nos momentos mais banais do cotidiano.
10
O BEIJO ADOLESCENTE
Rafael Coutinho (Publicado no portal IG e em formato independente, em livro)
Depois de ganhar muita repercussão na imprensa com Cachalote, ao lado do escritor Daniel Galera, o desenhista e artista plástico Rafael Coutinho se jogou em um projeto autoral que ganhou espaço no portal de HQs do IG. A história trata de uma epidemia que atinge apenas adolescentes. Coutinho reuniu todas as páginas em um livro lançado de forma independente.
09
MSP NOVOS 50
Vários Autores (Panini)
Este novo volume marca o encerramento de uma trilogia que provou a força da influência de Maurício de Sousa no mercado nacional. A ideia foi chamar nomes promissores da cena independente e conhecidos autores brasileiros de quadrinhos para mostrar sua visão sobre os personagens da Turma da Mônica. Com esta série, Maurício atingiu novos públicos, reafirmou sua posição de destaque entre os novos autores e iniciou uma nova e rica fase, que em 2012 terá graphic novels.
08
ACHADOS E PERDIDOS
Eduardo Damasceno e Luís Felipe Garrocho (Quadrinhos Rasos)
A dupla Damasceno e Garrocho ganhou grande repercussão em 2011 com sua HQ Achados e Perdidos, que fisgou a imprensa especializada durante o Festival Internacional de Quadrinhos (FIQ), em Belo Horizonte. A história do adolescente com um buraco negro em sua barriga serve para mostrar com muita sensibilidade e bom humor todas as provações dessa fase tão difícil – e ainda tão misteriosa – a adolescência.
07
MORRO DA FAVELA
Baseado na vida de Maurício Hora, fotógrafo que acompanhou a gênese do Morro da Previdência, no Rio de Janeiro, Morro da Favela traz um dos melhores trabalhos de André Diniz. “Não se trata de uma biografia, mas sim de uma narrativa em primeira pessoa onde diversos temas são abordados através do olhar de Hora, como tráfico de drogas, corrupção da polícia, política, preconceito racial e discriminação social dos habitantes dos morros. O tom do texto chega a ser infantil e didático algumas vezes, mas nunca ingênuo. Existe uma veracidade nas páginas que ganha contornos dramáticos quando reconhecemos que todos os problemas relatados ainda são muito presentes.” — Paulo Floro, na Revista O Grito!
06
A CHEGADA
Shaun Tan (SM Edições)
O álbum A Chegada, de Shaun Tan trata da velha aventura dos imigrantes em busca de melhores oportunidades longe de sua terra natal. Aqui, o protagonista chega num país cheio de mistérios, onde conhece outros imigrantes. O traço do autor é bastante experimental e casa bem com o tom memorialista da história, o que chega a se aproximar do surrealismo. O livro foi lançado por outra editora novata, a SM.
05
QUANDO EU CRESCI
Pierre Paquet e Tony Sandoval (Agaquê / Ática)
Outra estreia no mercado de quadrinhos, a Ática lançou esta HQ francesa, Quando Eu Cresci pelo seu selo Agaquê. Pierre Paquet e Tony Sandoval contam a história de Pepe, um menino que atravessa a parede da sua casa e vai parar num mundo extraordinário. Cheio de pistas escondidas, a leitura proporciona uma intrigante imersão do leitor nesse universo fantástico. Um exercício de imaginação como nos acostumamos a ver nos quadrinhos franceses.
04
MUNDO FANTASMA
Daniel Clowes (Gal Editora)
Depois de anos aguardada, a cultuada HQ Mundo Fantasma (que ganhou adaptação para os cinemas sem muita repercussão, com Scarlett Johnasson), chega ao Brasil, pela Gal. “O autor Daniel Clowes, um astuto observador de seu tempo (Mundo Fantasma foi concebida no final dos anos 1980), faz de suas protagonistas um retrato em preto, branco e sépia dos jovens de então, armados de todo niilismo e descompromisso que pudessem carregar para enfrentar um mundo que não compreendiam. Neste sentido, Clowes é um visionário. Hoje, deve estar rindo ao constatar o quão maduras eram Enid e Becky se comparadas à atual Geração Z. Mas Clowes também é um pragmático. Com 30 anos incompletos à época da primeira publicação de Mundo Fastama, ele sabia que a fase adulta chega para todos, inexoravelmente e sem distinção.” — Jota Silvestre.
03
TRÊS SOMBRAS
Ciryl Pedrosa (Quadrinhos na Companhia / Companhia das Letras)
O épico em que o personagem Louis se joga para tentar dar uma chance ao filho, que estava destinado a partir com misteriosas sombras, pode ser entendida como uma forma de adiar o que parece inevitável, no caso, a morte. Nas quase 300 páginas do livro, vemos as mudanças no relacionamento entre pai e filho e o mais emocionante, o amadurecimento de Joaquim sobre o que está acontecendo com ele. Lançado na França em 2008, a obra venceu o prestigiado festival de Angôuleme. — Paulo Floro
02
DAYTRIPPER
Fábio Moon e Gabriel Bá (Panini)
Uma das HQs mais aguardadas por nós, brasileiros, Daytripper dos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá conquistou a crítica americana quando esta HQ saiu pela Vertigo, nos EUA. Lançada no Brasil este ano pela Panini em formato de luxo, teve duas edições esgotadas. “Em qual momento a morte nos dará seu abraço fatal? No dia mais importante da nossa vida, como o nascimento de um filho ou a descoberta do amor verdadeiro? Num instante frugal de brincadeira de criança? Estaremos perto ou longe de nossos entes queridos? Daytripper, que poderia chamar-se também “As Muitas Vidas de Brás Domingos”, levanta mais perguntas que respostas. É uma HQ adulta sem deixar de ser lúdica. É uma história realista, uma sequência de crônicas, sem deixar de ser onírica. O traço firme, porém sublime, de Fábio Moon reforça essa sensação dúbia.” — Jota Silvestre
01
ASTERIOS POLYP
David Mazzucchelli (Quadrinhos na Companhia / Companhia das Letras)
Aos 50 anos, Asterios é um arrogante arquiteto que apesar da reputação e prestígio de seu nome, nunca construiu nada. Num momento de crise de identidade catalisada por um incêndio, ele decide sair numa viagem em busca de autoconhecimento. É então que somos expostos de maneira fragmentada ao passado do personagem, que cavuca memórias sobre seu casamento, família, universidade, mercado da arte, academia, carreira e até o seu tão falado irmão gêmeo, que por vezes atua como seu duplo.
Cheio de referências ao universo da arte, a HQ tem como seu maior trunfo o modo como utiliza os elementos inerentes ao gênero HQ, fazendo como que a obra ganhasse uma relevância única pelo modo como explora o formato. As cores primárias, os balões, os quadros e até as onomatopéias colaboram para expressar sentimentos dos personagens e conduzir a história. Muito premiada e bastante aguardada pelos fãs de quadrinhos, Asterios Polyp reforça seu prestígio com esse primeiro lugar.