É cada vez mais rica a experimentação da linguagem videoclipe pela música pop, notadamente a cena independente. Depois do declínio da importância da TV para a veiculação dessas produções, a internet mostrou ser o lugar mais propício para as bandas mostrarem seus trabalhos em imagem e som. Este ano de 2010 foi muito fértil em novas ideias, seja a militância de Erykah Badu, a psicodelia do Animal Collective ou a narrativa nonsense de Lady Gaga e Beyoncé.
Outra característica que pareceu pautar as produções deste ano é a crítica ao militarismo americano e suas consequências nas pessoas comuns, a exemplo de M.I.A. com seu raivoso “Born Free”, e a destreza de Spike Jonze para falar da perda da inocência da juventude em “The Suburbs”, do Arcade Fire. A Revista O Grito! escolheu os clipes mais inovadores e interessantes deste ano que passou, como parte do especial Melhores do Ano.
Por Eduardo Dias e Paulo Floro
Ilustração: Revista O Grito! sob foto de Chefraden
30
FLYING LOTUS “Kill Your Co-Workers”
Todo ano, a animação reserva boas surpresas ao videoclipe. O Flying Lotus chamou o estúdio Beeple, conhecido pelos trabalhos em computação gráfica para uma viagem experimental em que muito lembra os videogames de 8-bit. A banda é conhecida por fazer vídeos sempre pautados pelo experimentalismo, em que as ideias são maiores que a própria música, e mais uma vez, conseguem emplacar um novo vídeo no top 30 do ano. [Paulo Floro]
29
B.o.B. “Don’t Let Me Fall”
Usando o truque antigo que o Batman da TV usava para escalar um prédio – “deitando” a maquete cenográfica de um prédio -, o clipe não deixa claro quem está na posição “normal” e até se há essa posição em suas cenas. Uma música muito envolvente com um clipe muito divertido. [Eduardo Dias]
28
TORO Y MOI “Low Shoulder”
Uma viagem psicodélica que faz referências a filmes mod antigos da Itália, repletos de momentos nonsense. Dirigido por Elisha Smith-Leverock e Chris Murdoch ganha o espectador pela estética lo-fi que lembram as ingênuas produções de terror dos anos 1970. [Paulo Floro]
27
ARIEL PINK’S HAUNTED GRAFITTI “Round and Round”
Filmado em um iPhone por Wayne Coyne, do Flaming Lips, o clipe é carregado de psicodelia e teve a mão do diretor antigo dos Flamings, George Salisbury. Esse clipe do Ariel Pink é propositadamente distorcido e cheio de erros, o que fez com que sites que hospedam clipes como o Vimeo e o YouTube tentassem melhorar a qualidade da imagem. É uma ironia nos tempos em que a sigla HD anda pautando todas as produções em vídeo. [Paulo Floro]
26
OK GO “White Knucles”
OK Go se especializou em fazer clipes melhores que músicas. “White Knuckles” acaba ganhando destaque frente aos outros clipes lançados este ano por ter envolvido os cães em toda a coreografia.[Eduardo Dias]
25
LCD SOUNDSYSTEM “Drunk Girls”
Os pandas psicóticos são o grande termômetro do clipe: das cenas mais cômicas às mais trágicas são eles que comandam. [Eduardo Dias]
24
BRUNO MORAIS “Cidade Baixa”
Com seis câmeras sobrepostas, o clipe apresenta diversas visões de uma mesma obra. O grande mérito é do montador Oswaldo Santanda, que conseguiu explorar todas as possibilidades do local. [Paulo Floro]
23
MARINA AND THE DIAMONDS “Oh No”
“Oh!No!” tem muito do artista plástico Roy Lichtenstein e da linguagem dos quadrinhos em cada cena. É um visual mulherzinha que se encaixa perfeitamente à música. Nascidos um para o outro. [Eduardo Dias]
22
LADY GAGA Feat. BEYONCÉ “Telephone”
Quando apareceu essa epopéia foi tida como o “Thriller” dos anos 00. Não chega a tanto, mas se sobressai em todos os outros clipes de Gaga por condensar todo o ideário pop e plasticidade que são referências do estilo da cantora. A interpretação de Beyoncé também é diferencial. [Paulo Floro]
21
RIHANNA “Who’s That Chick
Rihanna lançou duas versões – uma diurna e outra noturna – para o “Who’s That Chick”. David Guetta produziu a música e não se sabe se a música será trabalhada no futuro. Porém, os clipes são os melhores da safra de 2010: muita cores, imagem saturada, cenários exagerados, muitos grafismos e um toque quase cafona. [Eduardo Dias]
20
GIL SCOTT-HERON “Me & The Devil”
A volta de Gil Scott-Heron ganhou contornos ainda maiores com esse clipe, que alimenta o tom de protesto e crítica social que pauta grande parte da carreira do músico. [Paulo Floro]
19
CEE-LO GREEN “Fuck You”
“Fuck You” teve uma das melhores letras do ano e revisitou os restaurantes americanos dos anos 1950, 60 e 70 como ninguém. O roteiro é muito bem feito e muito bem executado contando com o apoio dos grafismos. Deleite visual. [Eduardo Dias]
18
KELIS “Acapella”
Um clipe tem que agradar os olhos “antes” de chegar ao cérebro. “Acapella” é construído em atos com cores específicas para cada momento. Fora isso, a saturação da imagem está quase no máximo o que já garante boa parte da nossa atenção. [Eduardo Dias]
17
GORILLAZ “Stylo”
O videoclipe sempre foi um meio de importância vital para o Gorillaz, uma banda que existe baseado num conceito ligado à animação (seus personagens de cartum escondem músicos de peso, como Damon Albarn). “Stylo” retoma o tom conceitual por trás dos vídeos e mistura computação gráfica com live-action. A aparição-homenagem de Bruce Willis é a cereja do bolo de um clipe impecável. [Paulo Floro]
16
FLORENCE AND THE MACHINE “Dog Days Are Over”
A versão de 2010 de “Dog Days Are Over” deu um delicioso e delirante tom de esquisitice estilizada à música. [Eduardo Dias]
15
ANTONY AND THE JOHNSONS “The Spirit Was Gone”
A tocante interpretação do dançarino japonês Kazuo envolve de maneira indescritível. Destaque ainda para as imagens recuperadas em VHS. [Eduardo Dias]
14
MOMBOJO “Papapa”
Banda mais pop do Recife, o Mombojó abusou do bom-humor ao fazer um clipe vestidos como uma espécie de power-ranger. Mas talvez, há quem diga que o destaque mesmo sejam as coreografias dos integrantes. [Paulo Floro]
13
ERYKAH BADU “Window Seat”
A militante Erikah Badu radicalizou nesse vídeo super simples que a mostra desfilando pelas ruas enquanto se despe. Causou polêmica e problemas com a polícia, que a abordaram por tentativa de atentado ao pudor, por ficar nua em público. A cara das pessoas assustadas com a performance é uma atração à parte. [Paulo Floro]
12
ANIMAL COLLECTIVE “Bluish”
Não causa mais estranheza um videoclipe do Animal Collective cheio de experimentações. Por isso, este “Bluish” é mais outro exemplo de como a banda ainda consegue ser criativa no seu antigo modo de causar estranheza. [Paulo Floro]
11
ZEMARIA “The Space Ahead”
A Levi’s Music é responsável por patrocinar boas surpresas musicais – e clipes idem. Um dos nomes mais interessantes a despontar este ano, o Zemaria fez um clipe que homenageia Projeto Cora Garrido Boxe, que faz trabalhos sociais com o esporte. Um das mais bem acabadas produções nacionais do videoclipe. [Paulo Floro]
10
JANELLE MONÁE “Tightrope”
É difícil não se envolver com o estilo retrô do figurino, do cabelo, da música, com a coreografia e com as inúmeras cenas de dança. [Eduardo Dias]
09
THIAGO PETHIT “Mapa-Mundi”
A delicadeza de “Mapa-Múndi”, clipe e música, deixa aquele apertinho bom no coração. Uma animação em stop motion misturada com live action muito “pessoal” que deixa tudo muito lindo.[Eduardo Dias]
08
LCD SOUNDSYSTEM feat. Anna Kendrick “Pow Pow”
Superprodução de James Murphy, homem por trás do LCD Soundsystem que mostra a nova queridinha de Hollywood Anna Kendrick como uma ameaça aos homens (contar mais estraga a surpresa). [Paulo Floro]
07
HEALTH “We Are Water”
Clima tenso do início ao fim, mais uma produção do HEALTH cuja produção do clipe ultrapassa a música. Violento, cheio de sangue, causou problemas a algumas emissoras e sites que acharam o vídeo muito ofensivo. [Paulo Floro]
06
LYKKE LI “Get Some”
Lykke Li transformou “Get Some” em uma performance em vídeo e ao vivo. Ela sempre garante imagens bem fora do comum. [Eduardo Dias]
05
ARCADE FIRE “Wilderness Downtown”
Em parceria com o Google, o Arcade Fire levou a um novo patamar a experiência de ver videoclipe, tornando pessoal o antigo modo de assistir vídeos. Mostra uma maneira mais criativa de ver TV no computador, usando todas as possibilidades que as novas tecnologias web proporcionam. Falando diretamente com o passado do espectador, cada exibição tem a intenção de ser única. [Paulo Floro]
04
KANYE WEST “Runaway”
Um videoclipe de mais de 30 minutos foi o suficiente para os detratores de Kanye West dizerem que ele atingiu o ápice do egocentrismo. O clipe é muito bom, e mostra que apesar de todas as prepotências do rapper, ele ainda é um dos artistas mais inventivos seja na música ou em produções de vídeo. [Paulo Floro]
03
M.I.A. “Born Free”
Primeiro vídeo do novo disco de MIA, radicalizou todas as questões com as quais a rapper inglesa milita desde que surgiu no mundo pop. É a afrontra mais afoita ao militarismo e violência dos EUA, com o retrato desses soldados ianques que praticam um massacre contra uma minoria oprimida e malquista, representado como ironia aqui por bonitos e jovens ruivos. [Paulo Floro]
02
EL GUINCHO “Bombay”
A boa e velha colagem de imagens sempre deu origem a bons videoclipes – e é uma das formas mais clássicas de se fazer clipe. El Guincho fez uma bonita viagem sobre o universo, usando uma produção lo-fi para falar da aventura humana no cosmo de uma maneira bem subjetiva. [Paulo Floro]
01
ARCADE FIRE “The Suburbs”
“The Suburbs” não fala somente das “suburbans wars” que aparece na letra. É mais um retrato de uma juventude em meio a um caos social e a chegada forçada da vida adulta. As cenas com as bicicletas são o contraponto para nos dizer que aqueles jovens permanecem jovens apesar de tudo. [Eduardo Dias]