MaXXXine
Ti West
EUA, 2024. 1h44. Terror. Distribuição: Universal
Com Mia Goth, Elizabeth Debicki, Kevin Bacon, Halsey
Era difícil não criar altas expectativas para MaXXXine, última parte da trilogia de horror vintage do diretor Ti West. Após o sucesso estrondoso com X – A Marca da Maldade (2022) e, especialmente, Pearl (2022), olhos cinéfilos de todo o mundo ansiavam pela empreitada seguinte do cineasta estadunidense. Mantendo a estética retrô característica da franquia, o novo filme – que estreia, nesta quinta (11), nos cinemas brasileiros – destoa dos antecessores e vai deixar um gosto avinagrado na boca de quem, como eu, esperava por algo mais refinado.
A história acompanha a personagem Maxine (Mia Goth) em 1985, após os traumáticos eventos de X – A Marca da Maldade. Cansada do universo de filmes pornográficos, Maxine quer se tornar uma grande estrela de Hollywood. Em Los Angeles, enquanto luta para conseguir um papel de destaque, a jovem atriz se depara como um assassino em série (o “Perseguidor Noturno”), enquanto lida com os assombros do seu passado recente.
Mais uma vez, Ti West monta o palco para Mia Goth brilhar. Em uma sequência sem cortes, logo no início do filme, onde a personagem Maxine participa de um teste de elenco, o diretor captura a capacidade dramática da atriz em breve monólogo: é o ponto alto da atuação de Goth neste filme. Diferente de Pearl, personagem extremamente carismática, expansiva e impulsiva, Maxine é construída a partir de longos silêncios; é uma mulher endurecida, pronta para afastar qualquer perigo que a cerca. Tal introspecção, apesar de fazer jus à concepção da personagem, resulta numa atuação modesta de Mia Goth, sem densidade. Menos culpa da atriz que do roteiro tolo de Ti West.
O enredo nada traz de original à representação de Hollywood enquanto seara de glamour e perversidade. Enquanto a cinematografia de Eliot Rockett – mesmo diretor de fotografia dos dois filmes anteriores – é belíssima e recria a atmosfera oitentista de filmes B com primazia, as decisões narrativas de Ti West recaem em clichês bem aborrecidos. Por exemplo, o uso excessivo de notícias televisivas como artifício para oferecer informações importantes sobre a trama. Pior: o filme fracassa nas tentativas de estabelecer a sensação de perigo latente; MaXXXine é um filme sem tensão.
Novos personagens são inseridos ao universo da história e nenhum, repito, nenhum deles acrescenta algo notório à narrativa. É uma pena presenciar Kevin Bacon, ator admirável, assumir o papel de um personagem tão caricato quanto John Labat, desprovido de qualquer camada; é vexatória a passagem onde o seu personagem persegue Maxine. Mesmo em seus momentos mais gore, o filme sobrepaira num meio-termo insípido, sem criatividade, com pontuais exceções (ponto positivo para a cena na qual um homem tem uma parte específica do corpo, digamos, esmagada).
Abraçado a aspectos visuais que nos remetem às fitas VHS, o filme se excede nas inserções fragmentadas e cortes bruscos da montagem. Sem fluidez, o ritmo é irregular e a história vai se apresentando mais e mais enfastiante. Já no terceiro ato, Ti West pesa a mão de vez e emprega uma sequência apressada de flashbacks para explicar como e por que Maxine chegou a determinada decisão. Entre atropelos, a obra descortina uma revelação final tão ordinária que beira o pueril. Sem entrar em detalhes, reservo-me a dizer que a crítica do filme ao neopentecostalismo tem a profundidade de um pires.
Para completar o álbum de figurinhas de referências clichês, MaXXXine nos brinda com um letárgico clímax sob os famosos letreiros de Hollywood. Até mesmo o mantra bradado pela protagonista – “Eu não aceitarei uma vida que não mereço” – soa dissimulado, como uma tentativa de o filme emplacar uma frase de efeito nos espectadores. Na verdade, o público é que não merecia um filme tão decepcionante para encerrar a trilogia.
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