CAPA 00. NEURODIVERGENTE Mateo 2025
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Mateo discute adicção e humanização em “NEURODIVERGENTE”

O primeiro álbum solo de Mateo faz um retrato sensível da dependência química

Mateo discute adicção e humanização em “NEURODIVERGENTE”
3.5

Mateo
NEURODIVERGENTE
Dorsal Lab, 2025 | Gênero: Música Latina


A relação com as drogas é um assunto interminável no debate social, difícil de se abordar, principalmente porque quando discutida de forma objetiva, perde-se o aspecto que deveria ser central no assunto: o humano por trás da substância. De um jeito direto e sem floreios, Mateo faz esse ajuste na discussão em NEURODIVERGENTE, sua estreia solo. 

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Do ponto de vista da narrativa, a história contada por Mateo – que também foi vivida por ele – se assemelha a outras representações que a adicção tem na música. O disco nos apresenta aos momentos de recaída, à luta entre os comportamentos autodestrutivos e a sensação perene de derrota que existem em quem convive com o vício. 

Todas as questões são postas de forma direta, sem muitas camadas poéticas e interpretativas, o que faz parecer que Mateo não colocou diretamente aqui a sua experiência na recuperação, mas as direcionou neste eu lírico que representa não só a ele, mas todos que estão envolvidos em uma relação abusiva com substâncias. 

Essa rota tomada pelo integrante de Francisco El Hombre leva ao entendimento do adicto como figura, mas ainda assim não o desumaniza. As letras demonstram também os sofrimentos e as questões internas que caminham junto às substâncias – uma relação que é esquecida ou apenas ignorada quando o tema é discutido. 

E é a partir dessa representação sensível do indivíduo que Mateo consegue expandir sua narrativa para o campo social. “La Insanidad”, uma das melhores faixas do disco, é um acerto na sua intenção em expor a ligação entre desigualdades sociais e a dependência química. 

Mateo por Julia Mataruna 02

NEURODIVERGENTE também é direto na sua produção, pra onde Mateo trouxe uma identidade bem parecida com a que ele já fazia em sua banda: um entrecruzamento de referências latinas e brasileiras. O diferencial aqui está nos beats eletrônicos, que incrementam os arranjos compostos, principalmente, pelas cordas e pela percussão. 

Neste ponto, o disco sofre com uma faixa de encerramento anticlimática, “QUERIDA” acaba desmanchando a tensão construída ao longo da reprodução do álbum. De certo modo, o contorno mais pop da canção tem uma leveza e um otimismo que não parecem estar de acordo com a densidade proposta pelo álbum e destoam até da própria letra da faixa.

Em NEURODIVERGENTE Mateo reflete sobre o as lutas do papel social a partir da sua experiência, o que já era algo bastante comum a ele desde a época do Francisco El Hombre. De toda forma, é um álbum inteligente, com uma crítica afiada a algo contemporâneo, mas não necessariamente inovador.

Ouça NEURODIVERGENTE, de Mateo