O BLOCO DO EU SOZINHO
Separado de seu Hermanos, mas acompanhado de grandes músicos, Marcelo Camelo acerta em seu Sou
Por Gabriel Gurman
MARCELO CAMELO
Sou
[Zé Pereira, 2008]
Marcelo Camelo seria um cara comum. Talvez até comum demais se não fosse seu excepcional talento que o torna comum de menos. Na verdade, este “excepcional” não vem acompanhado de um virtuosismo ou de uma voz impecável, e sim de sua arte simplista e imperfeita. E são exatamente estas características que tornam seu primeiro e recém-lançado disco solo Sou + Nós uma experiência agradabilíssima.
Avesso à batida perfeito, Marcelo Camelo navega em horizontes tranquilos. Como sugeria em “Cade meu Suín-“, do segundo álbum do Los Hermanos, quer controlar seu guidão, quer bater no descompasso. Talvez esteja aí o motivo do convite à banda underground instrumental paulistana Hurtmold para acompanhá-lo em algumas das músicas desde novo álbum, assim como na turnê que realizará por algumas cidades brasileiras. Apesar de mais discreto do que nunca, o sexteto imprime novas texturas às delicadas canções, o que fica evidenciado na música “Tudo Passa”
E a solidão? Deixa estar… Este sentimento que permeia suas composições desde os primeiros álbuns dos Hermanos, está em Sou mais presente do que nunca. Em uma das músicas mais belas do disco, “Liberdade” – que conta com a participação do sanfoneiro Dominguinhos – o carioca canta: “Eu vivo a vida na ilusão / entre o chão e os ares / vou sonhando em outros ares / vou fingindo ser o que eu já sou”. “Téo e a Gaivota”, música que abre o álbum, também trata do assunto e coloca em forma de canção tudo aquilo que pensamos em um dia chuvoso e solitário: “É de imaginar bobagem / quando a gente liga a televisão / toda dor repousa na vontade / todo amor encontra sempre a solidão”.
Se Marcelo Camelo não cumpriu uma promessa feita após a pausa (término?) do Los Hermanos de que seu trabalho solo seria baseado apenas em violão de nylon e voz, em Sou – título retirado do poema visual de Rodrigo Linares que imprime a capa do disco – fez ainda melhor. O desfile de canções que misturam rock, MPB, marchinhas e músicas para assoviar conquistam o ouvinte logo de cara. Impossível não acompanhar o ritmo de “Doce Ilusão”, impossível não soltar um sorriso com “Janta” – esta dividida com o fenômeno teen Mallu Magalhães. Sua versão de “Santa Chuva”, música de sua autoria e gravada por Maria Rita abusa dos violinos e a deixa com o peso certo para a letra tempestuosa. “Copacabana”, por outro lado, chama o sol e o carnaval carioca, mais especificamente do Bairro do Peixoto, onde os “velhinhos são bons de papo” e “as gordinhas um alvoroço”.
Por outro lado, também é impossível não comparar este trabalho solo com os outros já lançados pelo Los Hermanos, até porque o nome Marcelo Camelo ainda vem diretamente colado ao nome de sua (ex?) banda. Camelo e Rodrigo Amarante possuíam estilos diferentes, mas que como unidade, se completavam e se tornavam uniformes. Navegando sozinho, Marcelo explora com todo vigor essa simplicidade que às vezes ficava escondida atrás da maior intensidade de seu colega. Mas agora, sem ninguém mais para defendê-lo de críticos e críticas, Camelo está aí, dando a cara a bater… e sinto muito àqueles que não entendem, mas muito sentem os que compreendem.
NOTA: 8,0
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=CO0o02_mpfQ[/youtube]
Marcelo Camelo – “Téo e a Gaivota”