21 anos depois da morte dos cinco integrantes da banda, o grupo mais escrachado do rock brasileiro segue um fenômeno
Até parece que foi ontem quando cinco rapazes da cidade de Guarulhos movidos pelo rock clássico começavam a jornada que o levariam para o sucesso apoteótico. Passou rápido demais. O clima por aqui ainda é de saudades entre os fãs da banda. Nas baladas, “Pelados em Santos” e “Vira-vira” ainda fazem sucesso e uma legião de fãs os eternizaram na memória. Foram-se rápido demais.
Quem não lembra das roupas e letras escrachadas da banda? Já são 21 anos desde a morte dos Mamonas Assassinas.
Considerados inusitados pela época, eles inovaram dentro do rock nacional e trouxeram uma cara nova para música popular brasileira. Uma face marcada pelo cômico combinada com uma carga de dramaticidade. Durante a carreira da banda foram mais de 2 milhões de espectadores em cerca de 300 shows que por onde passava conquistava mais seguidores e, ainda hoje, conta com aproximadamente 2 milhões e meio de fãs em comunidades nas redes sociais.
A saudade rendeu aos produtores Rose Dalney, Márcio Sam e Túlio Rivadávia a ideia de reviver a trajetória da banda através de um espetáculo. Após três anos, desde a concepção até a aprovação da família, Mamonas: O Musical nasceu e, no último final de semana o grupo se apresentou no Recife. Com o teatro lotado, o público reviveu os melhores momentos do fenômeno.
É quando as luzes se apagam e o silêncio toma conta no teatro que o coração acelera e naturalmente avisa: o show está prestes a começar. Em minutos o palco do Teatro Guararapes, Centro de Convenções, no Recife é tomado pelo Musical Mamonas; foi dada a largada para a montagem dirigida por José Possi Neto, texto de Walter Daguerre (autor do musical Jim, sobre Jim Morrison), direção de Miguel Briamonte e coreografias de Vanessa Guillen.
Nesse momento, o que esperar do roteiro e da interpretação dos atores quando o que se está em cena é a história já conhecida de um grupo que, meteoricamente, estourou nas rádios e TVs e conquistou o coração do público? O desafio principal é relembrar momentos já eternizados pelos fãs e conseguir mostrar o sucesso que foi a banda. Nas duas horas e meia de espetáculo, o que se observa é uma introdução que procura contar a história como se fosse uma autobiografia póstuma, atores sintonizados (com os integrantes e o público), com coreografias bem marcadas e sequências de hits.
Os Mamonas começaram como a banda Utopia, onde cantavam covers mundialmente conhecidas como Guns N’Roses e Pinky Floyd. O público embora formado por crianças e adolescentes dos anos 1990, também é composto por gerações mais novas que não conheceram o início do grupo. Nas duas horas e meia de espetáculo, o musical cumpriu o papel de abordar alguns momentos importantes para o reconhecimento da banda, como os percalços na apresentação do show de talentos no programada Freguesia do Ó, a transição para o nome Mamonas Assassinas; além do descobrimento pela gravadora EMI e a entrevista no Jô Soares; mostrando o sucesso na TV, e a briga pela audiência entre os programas televisivos onde se apresentavam; até o show memorável realizado no “Thomeuzão”.
No entanto, as longas cenas descrevendo o surgimento da banda podem ter incomodado alguns fãs que aguardavam, de fato, adentrar no mundo Mamonas. Após o intervalo de 15 minutos o que se viu foi cenas apresentadas mais rapidamente – algumas vezes com uma preocupação mais musical.
Entretanto, as semelhanças físicas contribuem para que os atores – Ruy Brissac (Dinho), Yudi Tamashiro (Bento Hinoto), Elcio Bonazzi (Samuel Reoli), Arthur Ienzura (Sergio Reoli) e Adriano Tunes (Júlio Rasec), que interpretam os cinco integrantes da banda arrebatem o público e o envolvam no universo do humor escrachado dos Mamonas, conseguindo na maioria do tempo entreter a plateia. Destaque também para a encenação dos atores Bernardo Berro, que em algumas cenas interpreta Rafael, filho do empresário João Augusto e Patrick Amstaldem, como o anjo Gabriel e produtor Rick Bonadio, onde o trabalho de pesquisa teatral parece funcionar muito bem.
A maioria das trocas de roupas foi feitas no palco, onde os integrantes da banda provocavam o público, mexendo com a sensualidade, sexualidade e tabus. Já a composição do cenário procurou obedecer uma estética mais simples e limpa, com poucos adereços no palco, e maior interação dos dançarinos com os integrantes da banda – 16 profissionais bem entrosados e ensaiados coreograficamente. Com uma dramaturgia que em alguns momentos não obedece à linearidade dos fatos, os atores procuraram anunciar a passagem do tempo brincando com o improviso. O público, por sua vez, precisou esperar pouco mais de uma hora de espetáculo para ouvir o solo do trombone anunciar a canção “Pelados em Santos”.
A plateia não se poupou e a banda foi acompanhada pelo coro dos fãs, que ovacionaram a banda após cantar o hit – um dos mais esperados. O musical ainda teve no repertório, clássicos como “Robocop Gay”, “Sabão crá-crá” e “Vira-vira”.
Se o intuito era trazer um musical autobiográfico, como assim se propõe o espetáculo, o grupo obteve êxito e conseguiu representar a potência que foi a banda Mamonas Assassinas, levando o público ao êxtase nas sequências de músicas tão aguardadas e relembradas até hoje. Embora, os 120 minutos não tenham sido suficientes para trazer ao palco todas as canções, o diretor conseguiu passear bem pelo único disco lançado pelos Mamonas – cujo título leva o nome da banda. O final que poderia ter sido representado por um clima mais introspectivo – visto o acidente área no dia 2 de março de 1996, deu espaço para a foto oficial da banda no telão do teatro, e logo foi preenchida pela irreverência e humor da banda, até mesmo pós a morte. Só para não perder o costume.
Todas as fotos por Rodrigo Rosa/Divulgação, com exceção dos Mamonas no Jô Soares, de Carlos Costa/Divulgação.