Além de tornar-se a primeira poeta a levar poesia para o palco do Marco Zero na abertura oficial do Carnaval do Recife 2024, Luna Vitrolira prepara o lançamento do seu segundo livro, Memória tem Águas Espessas, para o ano de 2024. A obra da multiartista recifense surge de uma experiência imersiva na Zona da Mata de Pernambuco, onde ela busca sua ancestralidade.
Luna Vitrolira realizou o sonho de recitar poesias no maior palco carnavalesco do Recife, fato que aconteceu pela primeira vez na história, tendo a poesia como protagonista na abertura. Ela, declamou alguns dos poemas que fazem parte do novo livro durante o espetáculo Tumaraca, uma homenagem a Naná Vasconcelos, referência percussiva mundialmente, com a presença de 700 batuqueiros e batuqueiras.
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“O livro é uma parte apagada da minha história e vida sobre a qual nunca tive conhecimento ou contato. Escrevo sobre o peso do sentimento de não ter família, nem passado, o que é comum na vida das pessoas brasileiras devido ao processo de colonização e ao sistema escravocrata que dispersou a genealogia do povo preto e dos povos originários”, conta.
Em “Memória tem Águas Espessas”, Luna também questiona sobre o fato da manutenção do sistema colonial na cultura da cana-de-açúcar até os dias de hoje, ao falar do cenário canavieiro da Zona da Mata. “O racismo no Brasil faz parte do projeto político hegemônico de dominação e extermínio de povos não brancos, que dentre suas estratégias estão o apagamento étnico-estético cultural, o silenciamento e a invisibilidade do povo que vive em exílio dentro do território do país que lhe confere nacionalidade”, argumenta.
A poeta de 31 anos de idade, que também mergulha no universo artístico como cantora, escritora, compositora, atriz, performer, pesquisadora, apresentadora, educadora e Mestra em Teoria da Literatura pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), traz poemas a partir do seu trajeto de volta ao território no qual há pertencimento e memórias ancestrais. A partir da escrevivência, Luna elabora e revela processos de autorreconhecimento da própria história, imagem, origem, território, ancestralidade, herança imaterial e simbólica.
Com o livro de poemas Aquenda: o amor às vezes é isso (2018), lançado pelo Selo Livre, ela foi finalista do Prêmio Jabuti em 2019, recebendo destaque na crítica nacional. Após o lançamento da obra, a artista gravou seu primeiro disco homônimo (Selo Deckdisc), iniciando assim a carreira musical em 2021. Com dez faixas autorais, o álbum une poesia e música. Também em 2021, lançou o filme curta-metragem de mesmo nome.