Luna Vitrolira é poeta, cantora, compositora, atriz, pesquisadora, palestrante e Mestra em Teoria da Literatura, com ênfase em oralidade e poética das vozes. Com um trajetória renomada — Luna foi finalista do Prêmio Jabuti em 2019 e já foi jurada do prêmio Jabuti e do Oceanos — a autora lança, pela editora Diadorim, “Memória tem Águas Espessas”, livro que permeia os temas da memória, retorno ao passado ancestral, perdão e cura.
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Os eventos de lançamento estão previstos para acontecer em Pernambuco e São Paulo a partir de setembro, quando também devem acontecer vivências em escolas pernambucanas para alunos a partir do nono ano, como ação de contrapartida do edital do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura). A escritora deve passar por escolas de Recife e região metropolitana, além das cidades Tracunhaém, localizada na Zona da Mata, Caruaru, no Agreste, e São José do Egito, no sertão do Pajeú. Cerca de 100 exemplares da obra também serão doados para instituições culturais, sociais e educativas do estado.
“É de extrema importância levar a literatura contemporânea para a sala de aula, conversar com os jovens sobre a nossa história, região, memória e ancestralidade do povo negro e originário através da poesia, de modo que possam se reconhecer como parte de seu próprio território”, reforça Luna.
Conheça “Memória tem Águas Espessas”
Trata-se de um longo poema narrativo escrito a partir de uma experiência imersiva em busca de sua ancestralidade canavieira, natural da zona da mata de Pernambuco. Uma parte apagada da sua história e vida sobre a qual nunca teve conhecimento ou contato. Luna escreve sobre o peso do sentimento de não ter família e desconhecer o passado, o que é comum na vida das pessoas brasileiras, devido ao processo de colonização e ao sistema escravocrata que dispersou a genealogia do povo negro e originário.
Para Luna, essa investigação, além de ter um tom pessoal, também levanta questões sociais. “O meu ponto de partida é a minha vivência, mas essa é a história de muitas pessoas nesse país e mundo”, afirma a escritora. “Sofremos a dispersão dos nossos familiares durante a escravidão, com o trafego ilegal de pessoas. Fomos vendidos, perdemos contato, perdemos a relação e a possibilidade de viver esse afeto familiar, porque fomos separados. De alguma forma isso continua, seguimos nos desintegrando, sem saber quase nada sobre nosso passado.”
Luna traz o cenário canavieiro da Zona da Mata e questiona a manutenção do sistema colonial na cultura da cana-de-açúcar até os dias de hoje. A poeta faz o trajeto de volta, de retorno ao território em busca dos ossos da família para curar, se libertar e libertar seus ancestrais ainda presos, enterrados vivos, sob o mar de cana.