lula
lula

Lula Queiroga segue criativo em “CAPIBARIBUM”, mas o passeio conceitual pelo rio dura pouco

Sexto disco do cantor pernambucano traz diversas participações especiais de Marcelo Falcão e Chico César

Lula Queiroga segue criativo em “CAPIBARIBUM”, mas o passeio conceitual pelo rio dura pouco
4

Lula Queiroga
CAPIBARIBUM

Independente, 2024 / Gênero: MPB, Pop


Depois de um hiato de cinco anos sem o lançamento de músicas inéditas, Lula Queiroga retorna com CAPIBARIBUM. O disco se inspira, obviamente, no rio Capibaribe e sua simbologia não só no Recife mas ao longo de seu trajeto por todo o estado de Pernambuco.

Assim como em seus outros trabalhos, a produção de Lula aproveita uma gama vasta de instrumentos na composição das canções. Além dos instrumentos mais comuns, entram na mistura sonora o cello, o vibrafone e a kalimba, um acréscimo muito positivo que impede que as músicas caiam no risco da repetição. 

Esse proveito multi-instrumental ganha ainda mais relevância quando se tem faixas no disco com muita personalidade. Por exemplo, “Piaba de Ouro” – feat com Ylana – traz o maracatu de Baque Solto, ou “Forró do Nevoeiro” – que traz a dupla Caju e Castanha. Com a presença de ritmos tão distintos e fortes, Lula sabe equilibrar os sons do disco para que todas as canções ganhem igual destaque.

lula queiroga
(Foto: Sidarta/Divulgação)

Lula é reconhecido pela habilidade como compositor desde o início de sua carreira, e não mudaria isso agora. O artista aparece como autor das letras em todas as faixas do disco, por vezes dividindo o espaço com Yuri Queiroga e outros nomes – incluindo Lenine, parceiro de Lula no primeiro lançamento de sua carreira, ainda nos anos 1980. As letras são todas poeticamente detalhadas, algumas mais profundas que outras, mas sempre liricamente ricas. 

Embora não tenha deslizes na parte da composição, o disco deixa a desejar na exploração da temática do rio. A impressão é que o passeio conceitual proposto pelo trabalho acaba muito rápido. Fica uma sensação de que há mais a ser explorado ou que faltou avançar mais nesse percurso poético. A faixa-título, parceria com Chico César, é ótima para uma canção de abertura e ainda ganha o complemento pela faixa seguinte, “A Ponte” – que tem parceria de Marcelo Falcão.

Em certo momento parece que o disco vai se propor a explorar a simbologia do Capibaribe, sua relação com as comunidades que existem ao longo de seu curso, questões sociais e urbanas, mas a temática desaparece, ainda que deixe o gancho – ou pelo menos a impressão – de que vai ser abordada novamente.

Mesmo que o álbum tenha a quebra de expectativas em relação ao seu conceito, a produção como um todo é bem sofisticada, com boas ideias de arranjos ao longo do repertório. O talento de Queiroga para as letras se sustenta ao longo de toda a ouvida, complementada pela criatividade na produção e variedade de influências sonoras.

Escute CAPIBARIBUM, de Lula Queiroga

Leia também