Lorde se mostra ainda mais vulnerável em Melodrama, um disco intimista que desafia convenções do pop
Lorde chega ao segundo disco ainda mais madura e com uma evolução bem marcante desde Pure Heroine, sua estreia de 2013. Seu maior feito foi ser bastante apegada e intransigente em relação ao seu estilo muito particular, que se baseia na introspecção e exposição de lados mais sombrios de si mesma. Apontando para uma direção pouco usual do pop, Lorde isolou-se como um respiro bem vindo em segmento saturado da cultura pop.
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Melodrama traz momentos dançantes como “Sober” e “Perfect Places” e outros incrivelmente lentos, em levadas quase dolorosas, como é o caso de “Liability”. Mas tudo é preenchido com uma assinatura muito própria de se revelar vulnerável e honesta. É como se ela perfizesse o caminho oposto da “lacração” das divas ao abrir suas feridas, medos, ansiedades e desejos. Dona de sua própria narrativa, Lorde parece fazer um divã público de seu próprio amadurecimento.
Nas letras Lorde ficou ainda mais afiada, sagaz e com o mesmo humor autodepreciativo e irônico. Em “Liability” ela diz que precisa se amar primeiro para poder se envolver em uma relação amorosa. Se em Pure Heroine ela cantava o hedonismo adolescente, aqui ela se depara com algumas desilusões da vida. E por isso o disco é repleto de momento que sugerem diversas frustrações que vêm com a idade adulta. A voz de Lorde, um de seus diferenciais, chegam aqui em diferentes tons, com interpretações que se apegam ao espírito de cada faixa. Mas em nenhum momento a cantora cede à tentação de criar um hino pop tradicional, o que é ótimo.
Musicalmente este disco está mais ousado, arriscado, indo do electro-pop ao indie rock. Lorde mudou de colaboradores para esse segundo álbum. Depois de trabalhar com Joel Little, produtor e músico de seu país natal, a Nova Zelândia, ela agora contou com Jack Antonoff, nome ligado à produção de bandas de rock nos EUA, como Fun. e Bleachers. Mais experiente nas possibilidades de arranjos quando o assunto é embalar sentimentos, ele conseguiu trazer à Melodrama o clima de inquietação e melancolia buscado pela cantora.
Com muito potencial ainda a ser explorado, Lorde vai fazendo uma obra em progresso sobre sua própria maturidade, transformando em canções aspectos que seu público com certeza vai conseguir se relacionar. Musicalmente é um trabalho que tira o pop do conforto e aponta para inovações no gênero. E no cenário da música enquanto indústria revela uma artista que não se preocupa em se adaptar às convenções e que está disposta a ser honesta consigo mesma, algo difícil em um mercado tão competitivo.