O REINO DO AMANHÃ
J.G. Ballard
[Companhia das Letras, 368 págs, R$ 54]
Neste seu novo romance, J.G. Ballard retoma suas perturbadoras profecias modernas ao associar o consumo com o surgimento de um novo fascismo. Autor de Crash e Império do Sol, ambos adaptados ao cinema, O Reino do Amanhã mostra a capacidade de Ballard em canalizar as pressões da mundo cotidiano e sua urgência de consumir, competir, ao mesmo tempo em que se aflige em buscar sentido à existência. Na trama, o londrino Richard Pearson, um publicitário desempregado vai ao Brooklyn para enterrar seu pai, vítima de uma bala perdida num shopping center local. Ao investigar a morte, ele nota o quanto aquela sociedade gira em torno do Metro-Centre, um gigantesco templo do consumo que tem hotéis, clubes esportivos, praia com ondas artificiais e até um canal de tevê a cabo. Nesse panorama, o autor ainda confronta o leitor com situações que envolvem violência, xenofobia e conflitos sociais e étnicos – entre eles ataques a imigrantes asiáticos e do leste europeu. Tanta realidade provoca um misto de enjoo e consternação em quem lê. O Reino do Amanhã aponta ainda mais Ballard como uma das vozes que melhor traduzem – e imaginam – o tempo em que vivemos. [PF]
AS CONFISSÕES DO HOMEM INVISÍVEL
Alexandre Plosk
[Bertrand Brasil, 394 págs, R$ 49]
A premissa de As Confissões do Homem Invisível pode remeter a diversos exemplos da literatura: um homem descobre repentinamente que não vê mais seu próprio reflexo no espelho. E o protagonista ainda tem essa revelação dentro de uma casa de espelhos, potencializando – até um tanto grosseiramente – a metáfora. De Lewis Carrol a H.G. Wells, muitas são as referências utilizadas pelo autor carioca Alexander Plosk, aqui em seu segundo livro. Chama atenção a inventividade do roteiro e também o ritmo da narrativa, ágil, alucinada, cheia de reviravoltas. Percebemos que o livro não tem apenas um personagem protagonista, mas vários. São pessoas que perdem não só o contorno e reflexo no espelho, mas diversas outras coisas, que metaforicamente, fazem o livro ganhar em significado, profundidade. É essa complexidade da obra, repleta de tantas vozes, tantos caminhos que jogam Plosk para um time promissor de bons autores nacionais. Ele é ousado, abusado, e isso cria aos poucos uma literatura de coragem nesse século que começa. Uma força criativa e intelectual muito bem vinda. [PF]
ANJO DE QUATRO PATAS
Walcyr Carrasco
[Gente, 200 págs, R$ 29,90]
Walcyr Carrasco tem um produção literária consistente nos livros infanto-juvenis lançados (A Estrela Curiosa e Lendas e Fábulas do Folclore Brasileiro pra citar alguns). Mas é impossível não desconfiar do insight mercadológico por tras desse Anjo de Quatro Patas, onde no melhor estilo Marley & Eu, o famoso autor de novelas da Globo conta suas lembranças ao lado de seu fiel cão Uno, um husky siberiano. Mas antes que inevitáveis comparações com o famoso cão do best-seller de John Grogan apareçam, Carrasco explica no livro que escreveu sobre seu cachorro desde 2006, para uma coluna na revista Veja São Paulo. Ok, ninguém está querendo ser rabugento e o livro, de fato, tem bons momentos e leitura agradável. Mas a sacada e o mote do lançamento nada tem de emotivo. [PF]