Liniker
Caju
BREU ENTERTAIMENT, 2024. Gênero: MPB, Pop
“Eu acho que a Caju, ela é tudo o que eu sou para dentro e que, às vezes, tímida, eu tenho dificuldade de botar para fora”, disse Liniker em entrevista no programa Conversa Com Bial sobre seu novo álbum, Caju, lançado nesta segunda (19). Com essa proposta de externar todos os sentimentos (bons e ruins), de maneira clara e limpa, a cantora paulista deu lugar para essa nova persona sua e nos entregou um dos melhores álbuns nacionais de 2024.
Liniker já falou outras vezes que é alguém emocionalmente intensa, rendida com facilidade pelas paixões, e é esse o motor que impulsiona Caju, um sucessor forte ao aclamado, e vencedor do Grammy Latino, Indigo Borboleta Anil (2021).
Se formos falar do papel que as emoções ocupam no disco, é importante começar pelas letras, todas com a assinatura de Liniker, ora sozinha, ora acompanhada. Os versos são ricos em profundidade, e conseguem trabalhar toda a carga abstrata das nuances afetivas. Como toda boa poesia, a lírica desse disco consegue extrair um momento de seu espaço pessoal e transformá-lo em uma representação em que muita gente pode se enxergar.
Ainda com toda a beleza das letras, o brilho de Caju está na sua produção. É entusiasmante perceber a maneira como Liniker cria a partir dos gêneros que ela consome, da maneira que o seu último disco é construído nos gêneros da black music, MPB e bossa nova, este disco trabalha outras possibilidades além disso.
É uma tapeçaria de gêneros que engloba e cria coerência em um repertório que passa pelo piano elegante de Amaro Freitas em “AO TEU LADO”, o Brega cantado junto de Priscilla Sena em “POTE DE OURO”, o Dub marcado pelas cordas em “ME AJUDE A SALVAR OS DOMINGOS”, o pagode em “FEBRE” e ainda segue pela Disco, House e mais. Uma execução pelas mentes e ouvidos habilidosos da própria Liniker junto de Júlio Fejuca e Gustavo Ruiz, seus colaboradores também na produção de Indigo Borboleta Anil.
Aliás, explorar essa gama tão grande de gêneros demanda tempo, e nesse quesito Caju vai na contramão das tendências mais recentes no mercado da música. O álbum chega a uma hora de reprodução, com algumas faixas de sete minutos. É entusiasmante ter um disco extenso em um momento em que os artistas – principalmente aqueles que têm recursos – parecem ter medo de canções acima de três minutos de duração.
Liniker parece ser o tipo de artista que guia sua arte pensando no que determinado trabalho agrega em sua carreira como um todo – não a toa que é uma das maiores artistas do Brasil hoje -, e Caju é a evidência de que esse processo traz resultados positivos. É um disco profundo, bem pensado e coerente, um sopro de ar fresco para o pop nacional.
Escute Caju, de Liniker
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