Buscando uma abordagem de temas sensíveis do cotidiano periférico, o cantor e compositor Levi Oficial lança “Mágoa Abaixo”, primeiro videoclipe em formato de curta-metragem da sua carreira. A história, adaptada de uma coletânea publicada por Hélio Pajeú, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), é uma das primeiras da cena do brega recifense a tratar da questão das drogas.
Inspirado em cena do filme Psicose (1960), o curta inicia com o rosto pálido de uma mulher no chão, o olhar petrificado, iluminado por sirenes de polícia e cercado por uma multidão. A tomada, protagonizada pela atriz Natália Júlia, é um flashfoward da história do personagem de Levi Oficial, um vendedor ambulante que se apaixona por uma mulher que convive com a adicção.
O roteiro é uma adaptação do conto “Um Anjo Que Caiu No Céu”, de Lúcio Correia, publicado em 2017 pela editora Pedro & João Editores na coletânia Literatura de Quinta. O lançamento, organizado anualmente pelo Professor Hélio Pajeú, divulga textos dos estudantes de Biblioteconomia e outros cursos.
No conto, os dois protagonistas são rapazes, mas o gênero de um deles foi trocado no curta-metragem para alcançar um público que ainda se limita a não consumir obras com personagens LGBTQIA+. A abordagem das consequências da dependência química, no entanto, permanece.
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“Nós acreditamos que o brega precisa tratar também de temas sensíveis do cotidiano”, explica Dominyque Regison, diretor do videoclipe. Ele observa que parte do público tem familiares ou amigos que sofrem os danos da dependência química, mas têm receio de debater o assunto.
“Nos shows de brega e brega funk, a gente vê dezenas de jovens perdidos nas drogas, tremendo, o corpo desnutrido”, comenta Thales Martins, assistente de produção. “Se a gente traz isso em um videoclipe, que é a forma mais lúdica de entrar na casa do espectador, já é um primeiro passo para normalizar o diálogo e, assim, buscar soluções”, complementa o diretor.
Gravado em quatro comunidades da Região Metropolitana do Recife (Cohab, Sítio dos Pintos, Jardim Piedade e Joana Bezerra), o videoclipe apoia uma rede de produção cinematográfica periférica, com quase 30 figurantes, assistentes e apoiadores. O curta-metragem teve financiamento de pequenos negócios das favelas e distribuição da produtora independente DomyFilms.



