Em 2024, o cinema queer brasileiro viveu uma fase bem-sucedida nos festivais internacionais do audiovisual queer e tradicionais. Um destes filmes que tem se destacado é o segundo longa-metragem do diretor mineiro Marcelo Caetano, Baby. O filme já levou prêmios em festivais como Cannes, Rio, e NewFest NY. Em novembro o longa recebeu o prêmio de Melhor Direção no festival Le Gai Cine Mad, em Madri, Espanha.
O 29º festival Les Gai Cine Mad aconteceu de 13 a 24 de novembro em várias salas de cinema da capital espanhola. Nesta edição, mais de 110 filmes de todos os continentes foram apresentados. Este ano, a cinesta norte-americana Rose Troche recebeu o prêmio de honra do festival que homenageia realizadores queer defensores da integração da causa queer através da sétima arte. Rose é mais conhecida por seus trabalhos de temática lésbica como o clássico Go Fish e a séride The L world.
O evento espanhol também premiou mais duas obras brasileiras: o longa Levante de Lilah Halla com o prêmio de Melhor Atuação para Ayomi Dias e o curta Se Eu Tô Aqui é Por Mistério de Clari Ribeiro com o prêmio Cine Dissidente. No total, cinco produções nacionais fizeram parte da curadoria do festival, incluindo o curta Vollúpia de Eri Sarmet e Josimar Dias, e o curta Cavalo Marinho do pernambucano Leo Tabosa.
O coordenador geral de programação do festival, o cineasta espanhol Miguel Lafuente, é um entusiasta do cinema queer brasileiro. “Todo ano sempre programamos filmes brasileiros porque é uma cinematografia valente em relação aos temas queer além de serem populares na Espanha por que temos muitas coisas em comum como a sensualidade e a alegria. Este ano Marcelo Caetano voltou ao festival com Baby, um longa de qualidade excelente, vencedor em Cannes, e que trata de temas sociais importantes com um elenco bem carismático. Há dois anos atrás passamos também Corpo Elétrco, seu primeiro longa. Outro filme aqui foi Levante que chamamos de O Desafio de Sofia, uma obra feminista e ativista que não trata somente de um tema queer, mas uma realidade do desafio das mulheres a terem o direito de abortar”, comentou.
Miguel também destacou os curtas brasileiros selecionados para esta edição do Le Gai Cine Mad. “Se Eu Tô por Aqui é Por Mistério é uma obra de cine fantástico que brinca muito com o horror e fantasia que sempre agrada muito o público. Vollúpia é um curta experimental que trata de forma original e com personalidade a memória histórica de um lugar que pessoas queer podiam ser felizes. Lugares de encontro como esses bares estão cada vez mais desaparecendo. E por último Cavalo Marinho, é um curta muito bonito também sobre dramas familiares que retrata uma família com uma mãe trans,” explicou Miguel.
Segundo Miguel, a proposta do festival eeste ano foi trazer filmes que falassem não só sobre a identidade queer, mas também mostrasse que todos, todas, e todes também são pais, mães, filhos, filhas, e trabalhadores. “ Os filmes sobre saída do armário, desafios da AIDS, e bullying no colégio estão sempre presentes no nosso festival, mas dessa vez queríamos dar um enfoque nas obras sobre protagonistas queer que vivem suas vidas e tem problemas como qualquer outra pessoa. O cinema é um espelho que visibiliza nossas histórias, as histórias de pessoas comuns como personagens queer como eu que tenho muitos outro problemas da vida real que vão além dos temas que disse antes,” completou Miguel.