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Foto: Paris Filmes/Divulgação.

“Kill”: Quantas cenas de luta podem existir em um único filme de ação?

Longa de Nikhil Nagesh Bhat aposta em coreografias de combate em um espaço limitado, mas falta equilíbrio entre a ação e demais elementos da narrativa

“Kill”: Quantas cenas de luta podem existir em um único filme de ação?
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Kill: O Massacre no Trem

Nikhil Nagesh Bhat
IND, 2024. 1h45. Gênero: Ação. Distribuição: Paris Filmes
Com Tanya Maniktala e Laksh Lalwani


Gravar em um único cenário durante a maior parte de um longa-metragem exige habilidade, prática e criatividade por parte do diretor. A manutenção do movimento, do ritmo e da coerência nos diálogos, bem como no desenvolvimento dos personagens e de suas motivações, torna-se ainda mais desafiadora quando circunscrita a um ambiente restrito e, por vezes, instável, como um trem. Um exemplo dessa abordagem é Invasão Zumbi (Train to Busan), dirigido por Sang-Ho Yeon.

Nikhil Nagesh Bhat assume esse desafio ao dirigir Kill: O Massacre no Trem. Bhat também é coautor do roteiro, em parceria com Ayesha Syed. O filme, essencialmente uma obra de ação nos moldes clássicos, segue a trajetória do comandante do exército Amrit, interpretado por Laksh Lalwani, determinado a impedir que sua amada, Tulika (Tanya Maniktala), se case em uma união arranjada por seu pai. Amrit embarca, acompanhado de seu irmão, em um trem rumo a Nova Delhi, que também transporta a família de Tulika.

No entanto, os planos rapidamente se desintegram quando uma gangue de ladrões, armados com facas, começa a aterrorizar os passageiros. O assalto se transforma em um sequestro quando os criminosos reconhecem o pai de Tulika, um empresário de grande fortuna. A tensão, então, cresce exponencialmente.

A proposta de Kill é, sem dúvida, proporcionar cenas de ação impactantes, que em determinados momentos surpreendem pela carga emocional. Amrit e seu irmão assumem o controle da situação, uma vez que ambos são militares treinados, o que confere às sequências de luta uma precisão técnica e coreográfica notáveis.

A câmera acompanha de forma primorosa os movimentos ágeis dos personagens, proporcionando ao espectador uma perspectiva quase imersiva daquele espaço confinado. A ação é incessante, sem pausas para recuperação de fôlego. Tudo isso, aliado a uma trilha sonora eficaz, mantém a atenção até que… deixa de fazê-lo.

Alguns minutos após o início do filme, um acontecimento altera drasticamente o tom da narrativa e o comportamento dos personagens. Fani, líder da gangue de ladrões, perde a pouca paciência restante quando Tulika tenta feri-lo. Após falhar, Fani não hesita em matá-la. Amrit, observando a cena através de uma porta, testemunha o desfecho trágico.

O que começa como um momento emocionante e capaz de despertar compaixão no espectador, acaba por se tornar quase cômico. Após repetidas tomadas e o uso exagerado de câmera lenta, Amrit abandona seu código militar e transforma-se em uma máquina de matar, movido pela perda de seu amor. Neste momento, o título do filme é revelado em uma montagem de extremo engenho criativo.

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Raghav Juyal como Fani. (Foto: Paris Filmes/Divulgação.)

Destaca-se a atuação de Raghav Juyal como Fani, que se revela cativante do início ao fim, expressando uma gama de emoções mais ampla do que o próprio Amrit, cuja expressão se alterna apenas entre a raiva e uma espécie de tristeza.

A partir dessa reviravolta, as cenas de ação se intensificam. O ritmo se recupera, as lutas tornam-se ainda mais ferozes, e a trilha sonora acompanha a narrativa de maneira crescente. Amrit, tomado pela fúria, consegue instigar o espectador… até que, novamente, a atenção desvanece.

A falha crucial do filme reside na falta de equilíbrio entre a ação e os demais elementos que compõem a narrativa. Pouco é revelado sobre os personagens que acompanhamos, exceto pela recente perda de Amrit. As cenas de combate, embora inicialmente empolgantes, sustentam o ritmo por um tempo limitado, até que se tornam repetitivas – uma sequência contínua de homens enfurecidos esfaqueando-se sem cessar.

Seria injusto afirmar que as cenas de ação não são emocionantes. Elas são, sem dúvida, e destacam-se facilmente, provocando excitação. No entanto, a dependência excessiva deste recurso para preencher a maior parte do filme acaba por tornar a experiência menos impressionante e, em certos momentos, até mesmo enfadonha.

Apesar desses aspectos, Kill se mostra eficaz no desafio de manter a narrativa confinada a um espaço limitado, utilizando-se de maneira hábil dos sons e movimentos, e entregando um resultado que, em última análise, pode ser considerado satisfatório.

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