O Festival Janela Internacional de Recife deu continuidade à sua programação nesta quinta-feira (7), com a exibição de filmes e debates sobre cinema, cultura e identidade. O evento, que segue celebrando a reabertura do Cinema São Luiz, reuniu cineastas, artistas e um público de cinéfilos, oferecendo uma série de sessões e encontros que refletem a diversidade e a riqueza da produção audiovisual contemporânea.
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A noite contou com a exibição do curta Queimando por Dentro, que foi seguido pela exibição de Apocalipse nos Trópicos, documentário da diretora Petra Costa. O curta, dirigido por Enock Carvalho e Matheus Farias, teve a presença do protagonista Pedro Lucas, que inicialmente não estava escalado para atuar no projeto. Durante o processo de testes, realizado em uma escola, Pedro pediu para participar da seleção.
“Foi algo inesperado, mas acho que quando é para acontecer, acontece. Tem muita gente aqui hoje! E nós estamos em casa, isso é muito especial”, comentou o protagonista.
Logo após, Kleber Mendonça Filho introduziu Apocalipse nos Trópicos, uma análise da crescente influência dos líderes religiosos na política brasileira. O filme examina as relações entre o movimento evangélico e figuras como os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro, e questiona as consequências dessa aproximação entre fé e política no Brasil contemporâneo. Petra Costa, diretora do longa, esteve presente na sessão.
O festival também contou com uma masterclass da cineasta Katia Mesel, homenageada da edição deste ano, que discutiu sua trajetória e as dificuldades de ser mulher na indústria cinematográfica. A palestra ofereceu uma perspectiva sobre as dinâmicas do mercado cinematográfico e as transformações necessárias para garantir a diversidade de vozes na produção de filmes.
Em seguida, o cinema São Luiz recebeu a exibição do filme Malu, que aborda os conflitos geracionais e emocionais entre três mulheres. Dirigido por Pedro Freire, o longa é uma adaptação da história pessoal do diretor, inspirado na vida de sua mãe, a atriz Malu Rocha.
Carol Duarte, que interpreta a filha de Malu, comentou o processo de estruturação das personagens. “Esse filme foi uma construção coletiva. Tivemos três semanas de preparação e mais três semanas de filmagens. Isso não é algo comum, mas o Pedro tem um cuidado muito grande com a preparação das personagens”.
“Para mim, era um frio na barriga estar com duas atrizes que admiro tanto. A construção dessa relação foi feita de forma muito profunda, e o filme revela essa intensidade das relações familiares”, afirma a atriz à Revista O Grito!, destacando a importância da colaboração no set de filmagens.
O diretor Pedro Freire, por sua vez, expressou sua gratidão ao público e sua emoção com a recepção do filme no festival. “O Janela é um festival feito por cinéfilos e para cinéfilos. O público que vem aqui tem uma paixão genuína pelo cinema. Isso torna o evento ainda mais especial para mim”.
“Passei cinco anos escrevendo esse roteiro e, antes disso, passei anos tentando encontrar coragem para escrever um filme sobre minha mãe. Mas percebi que não era para mim, era para o público. Estou emocionado com a forma como as pessoas têm recebido o filme”, disse Freire, refletindo sobre o processo criativo e a exposição pessoal do projeto.
Juliana Carneiro da Cunha, que interpreta a mãe conservadora de Malu, falou sobre sua conexão a sua experiência na obra “O Pedro me convidou para este papel em 2018, e desde o início, eu sabia que esse seria um projeto de muito prazer para mim. Essa recepção de prêmios foi inesperada, mas muito gratificante. Cada vez que assisto ao filme, fico ainda mais impressionada com a reação do público. A identificação das pessoas com a história e os personagens tem sido muito forte”, afirmou a atriz.
Yara de Novaes, que interpreta Malu, também compartilhou sua relação com a personagem. “A Malu é uma personagem que qualquer atriz gostaria de interpretar. Ela tem um arco muito grande, uma jornada emocional intensa. Quando lidamos com alguém assim, é como se encontrássemos um mundo inteiro. Eu me identifiquei profundamente com ela. O teatro tem um significado muito forte para a personagem, e eu me sinto muito conectada a isso”.
“A Malu não está apenas tentando se entender, ela está lidando com um passado e tentando se reencontrar. Foi um processo de muita disciplina, mas também de grande satisfação”, comentou Yara, que destacou a importância do filme em mostrar as complexidades da relação entre as gerações de mulheres na história.
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O filme Malu recebeu elogios pela sua abordagem emocional e pela atuação do elenco. Com uma narrativa que explora a busca por identidade e a tensão familiar, o longa-metragem foi premiado e reconhecido em diversos festivais internacionais, como Sundance, o Festival do Rio e a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Malu, que recebeu destaque no Festival do Rio, ganhou prêmios em quatro categorias, incluindo Melhor Longa de Ficção e Melhor Roteiro. O filme também foi aplaudido por sua sensibilidade ao retratar a crise existencial da personagem principal e as relações familiares de forma honesta e tocante. Confira a nossa crítica.