O LUTO PELO METAL
A perda de alguém já foi diversas e diversas vezes explorada pelo cinema – com exemplos muito bons. O longa islandês Metalhead conseguiu encontrar uma brecha de criatividade para se inserir com destaque nesta longa lista de filmes por usar o heavy metal como fio condutor da narrativa. A história mostra o drama de uma família que perde o filho em um trágico acidente com um trator e a repercussão dessa morte nos anos seguintes.
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Nas primeiras cenas a pequena Hera, de 12 anos, chama o irmão Baldur para jantar. Logo em seguida ela presencia a morte violenta dele, fato que irá repercutir em sua vida até a idade adulta. Como forma de lidar com o luto, ela decide conhecer as bandas de heavy metal adoradas pelo irmão. Certa noite, bastante abalada, ela vai até o quarto dele, empunha sua guitarra e praticamente assume sua identidade.
O longa aborda Hera já adulta, ainda usando a mesma jaqueta de couro do irmão e agora já uma fã experiente de metal. Ela é uma garota desconectada da pequena comunidade onde vive, na zona rural da Islândia e vive em um emprego que despreza. Também ajuda os pais na pequena fazenda leiteira familiar, tudo em um tédio embalado por trilha sonora metaleira. Sem conseguir sair do pequeno ambiente que lhe serve de clausura, ela vive a cometer pequenos atos autodestrutivos e a causar confusão na vizinhança, quase sempre impulsionados por porres de álcool. Seus únicos momentos de tranquilidade parecem ser ao lado dos discos de vinil e das revistas de heavy metal em seu quarto, onde se arrisca a compor suas próprias músicas.
A presença de Hera é também perturbadora para os pais, já que a personalidade da garota e seu modo de se vestir é uma forma dolorosa de se lembrar do filho morto. Cada um vive o luto de uma forma, mas é certo que o episódio comprometeu o casamento dos dois. Tudo muda com a chegada de um novo padre, ele também um antigo fã de bandas como Iron Maiden e Judas Priest. O diretor Ragnar Bragason foi original ao usar o heavy metal em um drama tão pessoal e delicado. Em geral, o gênero está presente em comédias ou como estepe de momentos mais pesados em dramas ou longas de ação.
O modo como abordou o metal é inédito até aqui. Ele também conseguiu utilizar belos planos da Islândia, que contrastam com a desolação interior da protagonista. Para os fãs do gênero, o filme parece ser ainda mais envolvente, mas seu tom humano é capaz de qualquer pessoa. O filme foi um dos mais aplaudidos do Janela de Cinema até agora. Ainda não há previsão de estreia no Brasil, mas ele poderá ser visto novamente nesta quarta (16) no Cinema da Fundação.