A sede de ser de Jam da Silva e a farta homenagem a Dominguinhos. O copo, o corpo, o desejo e a sobrevivência através de ambos. A busca por matar “a(s) sede(s)” na letra e a busca pela tradução do sentimento através do som. Foi assim que o músico, cantor e compositor Jam da Silva trouxe de volta à nossas memórias, “Tenho Sede”, canção composta por Dominguinhos e Anastácia, também gravada por Gilberto Gil no álbum Refazenda (1975), e que tornou-se próxima a Jam logo após longa temporada de “Dominguinhos, o Musical”, onde interpretava a emblemática canção pelos palcos dos teatros do Brasil.
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Sentindo o impacto de cantá-la e percebendo a reação comovida do público diante da releitura intimista e pessoal que trazia, Jam intuiu que a versão merecia registro em estúdio como seu mais novo single, desde que lançou “VUKO VUKO”, seu terceiro álbum solo e totalmente autoral. Trazendo aqui para nós uma novidade, já que nesse lançamento temos um Jam da Silva intérprete.
O artista levou ao estúdio a aura intimista da sua performance em palco e adicionou outros instrumentos percussivos, como tambores ou um naipe de moringas inusitadamente tocadas por ele. Ampliou a atmosfera do arranjo somando a riqueza sonora de Hugo Lins com sua viola dinâmica e o contrabaixo acústico preciso tocado por Areia. O trio conseguiu trazer um resultado leve à música mesmo usando timbres fortes, profundos e marcantes, dada a experiência de Jam como um produtor musical sensível, inventivo e inteligente nas resoluções sonoras.
A evolução da interpretação vocal de Jam é ponto notório. O seu cantar cativante e amadurecido, traz uma ternura no tom de voz, além de personalidade nos vocalizes etéreos, que deixam a conhecida canção com ar de nova e nos dá, junto ao inspirado arranjo, a sensação de acolhimento, como um abraço mesmo, em uma nova dimensão. “Meu coração só pede…” Assim encerra Jam, a sua releitura inspirada de “Tenho Sede”, lançando a deixa para reflexão que, uma vez sendo atendido o coração, toda a falta cessará.