Isabella Valle lança “Fotógrafas (Uma Ciranda no Recife)” no Instituto Casa Astral

Obra percorre experiências de mulheres na fotografia recifense entre os anos 1970 e 2010

Copia de Imagem post padrao 2 12
Foto: Fernando Figueiroa/Divulgação.

A Companhia Editora de Pernambuco (Cepe Editora) lança neste domingo (31), às 15h, no Instituto Casa Astral, no Recife, o livro Fotógrafas (Uma Ciranda no Recife), da pesquisadora e fotógrafa Isabella Valle. A obra apresenta uma abordagem inédita sobre a fotografia na capital pernambucana, a partir das experiências de quase 50 mulheres que atuaram em diferentes áreas, como fotojornalismo, cinema, publicidade, política, fotografia de casamento e artes.

Com 344 páginas, o título não pretende criar uma história oficial da fotografia feminina no Recife, mas ampliar a visibilidade de relatos que atravessam questões de gênero, maternidade, sexualidade, assédio, preconceito e redes de solidariedade. “Neste livro não proponho a construção de uma História da fotografia de mulheres no Recife, até porque acredito que esse H maiúsculo é o mesmo que atravessa a ideia de Homem como sinônimo de humanidade: uma ficção totalitária e violenta”, escreve Valle na abertura da publicação.

Ela explica que sua proposta é reunir narrativas diversas: “Pretendo apresentar narrativas que levantam memórias e questões diversas, importantes e, sobretudo, partilhadas, uma abordagem atenta à situação das fotógrafas participantes, em diálogo com suas particularidades, com respeito a suas biografias e seus enfrentamentos.”

Entre as entrevistadas está Gleide Selma, considerada pioneira no fotojornalismo no Recife nos anos 1970. “Do jornalismo, com certeza, eu fui a primeira fotógrafa mulher no Recife. Era uma profissão para homem. (…) Quando cheguei no Recife, eu fui procurar trabalho no jornal. Tinham dez homens na fotografia. Eu fui a primeira mulher a trabalhar na fotografia no Diario de Pernambuco. (…) E eu entrei no laboratório como laboratorista, para fazer o estágio. Eu fiquei três meses sem ganhar um ‘tostão’. Já era sacanagem dos homens, que não queriam mulher na fotografia”, recorda.

Fotografas uma ciranda no Recife scaled
Foto: Divulgação.

A diretora e roteirista de cinema Tuca Siqueira também participa do livro e comenta os desafios de gênero enfrentados pelas profissionais. “O caminho que a gente tem disponível pra gente é completamente diferente. É muito mais complexo e mais difícil. A gente tem que provar. E o lugar que foi apresentado pra mim é um lugar que eu não quero, era o que se reproduz pra toda mulher, a construção de matrimônio e patrimônio, e de maternidade. Na fotografia, as pessoas ficam sempre esperando que você tenha um olhar mais sensível, porque você é mulher. E aí, que olhar sensível é esse? Que parâmetro é esse?”, questiona.

Segundo Valle, a narrativa vai além da experiência profissional. “O propósito aqui é mover as mulheres e suas questões enquanto fotógrafas do apagamento e das violências sistêmicas que operam no meio, e reverberar algumas vidas e obras, com a força da levada de uma ciranda”, afirma.

A publicação conta ainda com um fotolivro formado por 52 retratos e autorretratos de 26 fotógrafas, organizados no formato de uma ciranda. A proposta é simbolizar identidade, coletividade e continuidade. “É um livro de memória que, pela abordagem, acaba não sendo restrito às fotógrafas, mas a todas as mulheres, a narrativa feita na perspectiva de gênero, é diferente da oficial”, explica a autora.

O editor da Cepe, Diogo Guedes, ressalta a importância da iniciativa. “Fotógrafas (Uma Ciranda no Recife) tem a importância de rever a história da fotografia na capital pernambucana – e no mundo – a partir de uma perspectiva feminista, observando a participação das mulheres e os desafios, barreiras e preconceitos enfrentados por elas. Por meio de entrevistas, Isabella Valle oferece uma visão ao mesmo tempo geral e específica do contexto fotográfico recifense, criando também uma ciranda, que propõe conexões entre essas fotógrafas”, destaca.

Serviço:
Lançamento do livro Fotógrafas (Uma Ciranda no Recife), com roda de diálogo mediada pela pesquisadora Nina Velasco, performance poética de Nathália Queiroz e discotecagem de Priscilla Buhr
Quando: Domingo, 31 de agosto, das 15h às 17h
Onde: Instituto Casa Astral – Rua Joaquim Xavier de Andrade, 104, Poço da Panela, Recife
Preço: R$ 60 (impresso)