O Recife de Clarice Lispector (1920 – 1977) é destaque na HQ Pedra D’Água, de Clarice Hoffmann e Greg. O quadrinho traz uma narrativa que cruza elementos da obra da escritora, o Recife que ela conheceu quando morou na cidade nos anos 1920 e 30 e a cidade nos dias atuais.
A obra faz parte do selo Cepe HQ, da Cepe e será lançada no próximo sábado, 27 de maio a partir das 17h, no Hotel Central, na Boa Vista, bairro onde a também contista e jornalista viveu parte da infância e da adolescência.
Pedra d’água é uma criação de Clarice Hoffmann (argumento, roteiro e pesquisa) e Greg Vieira (ilustrações e capa), artistas que também assinaram a HQ O Obscuro Fichário dos Artistas Mundanos, que foi finalista do Prêmio Jabuti. Clara Moreira colabora com o argumento e o roteiro.
No livro, de 108 páginas, uma personagem fictícia chamada Esther, conduz a história. Ela se hospeda no Hotel Central e de lá parte em busca do Recife que Clarice viu, viveu e sentiu. Esther vai à Praça Maciel Pinheiro, Rua da Imperatriz e Avenida Conde da Boa Vista à procura de sobrados onde a escritora morou, refaz os caminhos por onde ela andou, vê as escolas e os lugares que frequentou. As descobertas são pontuadas por trechos de crônicas e referências a livros e contos, como A Hora da Estrela, Perto do Coração Selvagem e O Ovo e a Galinha.
O diferencial da obra está em conectar Clarice Lispector com o Recife em dois momentos distintos e, a partir de sua obra, abraçar com sensibilidade essas contradições.
Ao circular pelo bairro da Boa Vista, no Centro, Esther se depara com uma nova cidade. “Os palacetes com jardins de rosas aveludadas e acácias amarelas descritos em textos de Clarice já não existem mais. E isso abre uma discussão sobre o patrimônio material e imaterial, a cidade que a gente não mais vê, existe nessa memória que o escritor gerou do lugar”, observa a jornalista Clarice Hoffmann. A HQ, diz ela, oferece diferentes possibilidades de leitura, a depender do conhecimento do leitor a respeito da obra de Clarice Lispector e da cultura judaica.
Também está presente na HQ o olhar de Clarice Lispector para as pessoas oprimidas. “Ela dizia que carregava, em decorrência do tempo que morou em Pernambuco, uma fome de justiça social. Essa fome de justiça e a influência das origens judaicas, embora não falasse abertamente sobre isso, são marcantes na obra dela.” Quem leu ‘Mineirinho’ vai identificar o conto, que narra a crueldade do assassinato de um bandido no Rio de Janeiro, em 1962, na cena da HQ que se passa num bar. “Clarice não era panfletária, mas era muito política”, destaca.
Clarice Lispector nasceu na Ucrânia, numa aldeia chamada Tchetchelnik, e morou no Recife dos 5 aos 14 anos, até se mudar para o Rio de Janeiro com a família.
A jornalista Clarice Hoffmann, em parceria com Abel Alencar, também lançou pelo selo Cepe HQ O obscuro fichário dos artistas mundanos (2019), que tem ilustrações de Greg Vieira, Paulo do Amparo, Maurício Castro e Clara Moreira. O título ficou entre os dez melhores quadrinhos do Prêmio Grampo 2020, conferido por jornalistas e críticos especializados e entrou em nossa lista de Melhores HQs do Ano.
Greg é quadrinista, artista plástico e designer. Ele assinou a capa e a HQ principal da edição #6 da Plaf, publicação impressa de quadrinhos da Revista O Grito!. No ano passado Greg assinou a exposição DOIS, ao lado de Bia Mello, na Casa Balea, em Olinda.
Lançamento de Pedra D’Água
O lançamento do livro Pedra D’água trará um com bate-papo entre os autores e os participantes. O livro tem 114 páginas e custa R$ 70. Após o lançamento estará à venda no site da editora, lojas de quadrinhos e livrarias.