PARA EDUCAR A MENINADA
High School Musical 3 mantém a mesma linha de valores morais justo quando os estudantes queridinhos da América chegam ao último ano e se vêem frente ao dilema de ir para universidade
Por Fernando de Albuquerque
HIGH SCHOOL MUSICAL 3: Ano de Formatura
Kenny Ortega
[High School Musical 3 – Senior Year, EUA, 2008]
O duo pipoca combo e coca-cola de 700ml do circuito Multiplex era o principal ingrediente daqueles que entravam na sessão de High School Musical 3 – Ano de Formatura. Com o pacote no colo e os pés sem tocar no chão, era fácil notar um certo ar de apreensão no rosto dos que se propuseram assistir o terceiro episódio do fenômeno musical criado pela Disney Channel para ser apenas uma atração de tevê e que se tornou uma máquina de fazer dinheiro da companhia com a reprodução de CDs com a trilha sonora à vela de aniversário de criança. E para além do lucrativo negócio, o filme reflete com uma intensidade inédita a nova onda de valores morais que estão sendo transmitidos para os pré-adolescentes dos países com classe-média-pequeno-burguesa-pulsante. E na lista, lá pelo quinto lugar, está o Brasil.
Na aventura escolar, ao invés da rebeldia (mesmo contida), o HSM projeta na tela heróis bem-comportados que gostam das aulas, respeitam os pais e se solidarizam com os amigos. Todos levam uma vida para lá de saudável. E o filme não prega esses valores sozinho já que faz parte de um circuito muito maior de filmes, programas de televisão, livros e músicas que transmitem exemplos edificantes para nossos pimpolhos. Desde a Branca de Neve e os Sete Anões, clássico que data de 1937, a Disney vem administrando uma turminha de bons moços responsáveis por conter a fúria columbine em nichos sociais com a cantora Miley Cyrus, a Hanna Montana, e a banda Jonas Brothers, um sucesso gigante de camp rock.
Tal como as duas edições anteriores, o musical acompanha as aventuras de um grupo de colegiais que tem como trio central Sharpay (Ashley Tisdale), fashionista do pedaço que faz sucesso com vestidos de festa adaptados às ruas e o estilo meio peruete, com muito brilho e pencas de acessórios; Gabriella (Vanessa Hudgens) a boazinha da trama e como a personalidade pede, investe nos vestidos românticos, com flores e laços e Taylor (Monique Coleman) a mais normal de todas e ousa mais nas cores. Ao lado delas estão Zac Efron, Lucas Grabeel e Corbin Bleu que, em meio a um campeonato de basquete e uma festa de formatura tem de dar conta de um grande musical de primavera com a presença de todos os Wildcats. Nesse imbróglio Troy e Gabriella juram eternizar cada momento de suas vidas.
Qualquer pessoa que se preze e que já tenha passado dos 15 anos tem meros três motivos capitais para assistir HSM 3. Primeiro: se adora histórias melosas e sem muita consistência. Segundo: não perde um musical que apareça pela frente. Terceiro: vai ao cnema sem ter a mínima preocupação com o filme que está sendo projetado na tela, porque quer, apenas, se divertir. Se o caro internauta não sentir nenhuma afinidade com um desses itens acima, é melhor pesar todos os prós e principalmente os contras (!) antes de encarar as horas diante do bufonismo careteiro que rodeia todos os menores momentos de High School Music 3 – O Ano de Formatura.
O que se passa em HSM? O mesmo que se passou nos filmes anteriores. Ou seja: se você perdeu algum da série não vai ficar com aquela sensação estranha de “hummm, de onde veio esse personagem”. Sem máscaras, mas com exuberantes pantomimas e muita exatidão coreográfica, os personagens interpretam um sonho dourado do american dream materializar-se quando se vai dançando às aulas de matematica do primeiro horário matinal.
E as crianças quase se tornam uma miríade de marionetes adoráveis com a genitália protuberante, todos os músculos devidamente no lugar e um alter ego digno de uma Ana Botafogo versão mainstream. E a mão na consciência do lado bom encerra a narrativa com um indefectível happy end mesmo que o drama da separação com o fim do colégio seja abordada a cada segundo. Mas que não se conte o desfecho, afinal, você quer comprar o bilhete e ter o direito à surpresa (enfim, não tão grande assim).
No que diz respeito aos outros itens que fazem de um filme, um filme de verdade, está tudo ok com o elenco de apoio, a fotografia, a cenografia, o figurino, a direção, o roteiro, a edição, a música. O problema são as idéias, mesmo.
NOTA: 6,0
Trailer – HSM 3