eclipse, terceiro livro do jornalista e escritor piauiense Hermes Coêlho, reúne poemas que abordam a força do que não parece visível, mas se faz presente ainda assim, para abordar o trauma da descoberta de que foi contaminado pelo vírus HIV e seus desdobramentos. A obra, publicada pela Editora Patuá, conta com a orelha assinada pelo poeta mato-grossense Nicolas Behr, prefácio do escritor cearense Pedro Jucá e posfácio do também autor, este piauiense, Adriano Lobão Aragão. O autor lança o livro na Festa Literária Internacional (Flip) 2024, no dia 10 de outubro na Casa Gueto, fazendo uma sessão de autógrafos às 14h e integrando a mesa “Entre Letras e Identidades: Diálogos sobre Literatura LGBTQIA+”, às 18h.
Ora pessoal, ora quase filosófico, “eclipse” encerra o que o autor nomeia de “Trilogia do trauma”. Nu e Violado, suas publicações anteriores, compõem, junto do lançamento do momento, uma série de livros de poemas em que o autor expõe angústias que relacionam pertencimento e experiências humanas. Na obra da vez, o poeta destrincha a experiência da descoberta do vírus em seu corpo escancarando os silenciamentos impostos a quem recebe o rótulo de pessoa vivendo com o HIV e lida com o estigma social que isso significa ainda hoje. Segundo ele, a premissa do livro é trabalhar “o trauma de viver na companhia de um inimigo íntimo, um vírus que, tratado, não oferece risco a ninguém, mas que invisibiliza socialmente, segrega, exclui”.
Dividido em quatro partes (a letra h, eclipse, invisíveis e divindades), a coletânea de poemas explora a linguagem para falar de questões humanas. O efeito fonético da letra H, que muitas vezes parece uma letra invisível, ganha protagonismo ao trazer à tona temas relacionados com a homossexualidade, o próprio vírus e até mesmo, como bem lembra Pedro Jucá, no prefácio, a letra inicial do nome do autor.
Hermes considera que a escrita de “eclipse” representa para ele uma libertação: “Me tirou de meu segundo armário (saí do primeiro ao assumir minha homossexualidade)”. Para ele, a poesia não é terapia, mas foi o fazer poético que fez com que ele acreditasse que é resiliente. “Passei a me reconstruir do trauma da descoberta construindo versos inspirados pela força do que não enxergamos e, mesmo, pela força daquilo que tornamos invisível também”, reflete.