Desde 2018 experimentando o formato de duo, os músicos pernambucanos Henrique Albino e Surama Ramos lançam seu primeiro álbum juntos neste ano. O trabalho ganhou o título de SH não só por trazer as iniciais dos artistas que assinam o projeto, mas também porque a sigla sugere o silêncio de um longo período sem lançar nada, em que a dupla desenvolveu o disco. Para dar uma pista do que vem pela frente, o primeiro single do trabalho será a música “Doravante Dora”, que sai hoje (27) em todas as plataformas de streaming.
Com letra do jornalista Julio Moura (autor da biografia de Alceu Valença, Pelas Ruas que Andei), a composição é uma resposta à canção “Dora”, de Dorival Caymmi e Ary Barroso, que se passa no Recife e retrata o amor do cantor por uma brincante do frevo e do maracatu. Em “Doravante Dora”, a personagem reaparece como uma agente da folia que contribui para a continuidade da festa, simbolizando a resistência da cultura popular. A letra foi feita para a música já composta por Henrique Albino e pelo baterista e flautista barroco Asiel Tavares, em 2012. Como referências, Albino analisou estruturas de músicas de Moacir Santos, que foram somadas às formas sonoras usadas na música pop. O resultado é um maracatu engenhoso, cuja originalidade rítmica, melódica e harmônica é reforçada pelos corais comandados por Surama Ramos.
Dois nomes de destaque na cena de música contemporânea pernambucana, Henrique Albino e Surama Ramos vem chamando atenção de plateias do Brasil todo não só pelos seus projetos autorais, mas também pelas suas participações especiais em shows de artistas como Hermeto Pascoal, Amaro Freitas e Guilherme Kastrup, contando com uma turnê conjunta pela Europa com esse último, em 2016. A trajetória individual de cada um também revela a consistência e relevância dos seus trabalhos. Albino com seu álbum solo Música Tronxa, de 2021, além da composição de arranjos e gravações para artistas como Elza Soares, Elba Ramalho, Lenine, SpokFrevo Orquestra, Lia de Itamaracá e Amaro Freitas, pianista pernambucano que também participa do SH.
Surama, por sua vez, é vocalista da Orquestra Contemporânea de Olinda e ex-Voz Nagô, grupo que era liderado por Naná Vasconcelos, acumulando uma vasta experiência como cantora popular e lírica. “Nessa música, a voz está sendo trabalhada em inúmeras camadas, assim como em outras faixas do álbum. Eu e Henrique somos dois artistas de vivências musicais diferentes: eu sou o lado mais pop e ele é o mais experimental. Com o tempo, a gente entendeu que a grande característica do ‘SH’ é mostrar que essas duas bagagens podem se equilibrar num único álbum”, avalia ela sobre o álbum, que conta com incentivo do FUNCULTURA.
Além de fazer parte dos corais de “Doravante Dora”, Henrique Albino ainda toca piano, baixo elétrico, violão, trompete, bombardino e os sax soprano, tenor e barítono. A gravação da faixa também contou com a participação de grandes percussionistas pernambucanos. Gilú Amaral, fundador da Orquestra Contemporânea de Olinda, toca instrumentos de percussão de Maracatu; Hugo Medeiros, que integrou o trio de Amaro Freitas, toca bateria; e Junior do Jarro, atualmente no Ave Sangria, toca congas.
“Essa música é uma pequena parte da nossa identidade como duo. Este disco virá com um pouquinho de tudo que nos constitui de uma forma bem visceral e sincera. Ele foi construído a partir da nossa experiência como casal musical que participa de infinitas formas de fazer música sem preconceito. Além do maracatu, nesse álbum terá forró, jazz, reggae, batidas eletrônicas, brega funk, pop rock e sonoridades do conceito da ‘música tronxa'”, adianta Albino.