MAIS UMA DO VERMELHÃO
Sem lançar mão de revoluções cinematográficas, Del Toro cria um filme redondo e que agrada platéia
Por Lidianne Andrade
HELLBOY II: O EXÉRCITO DOURADO
Dir. Guillermo del Toro
[Hellboy II: The Golden Army, EUA, 2008]
Nada melhor para um não cinéfilo que escolher um filme na bilheteria pela sinopse, não ter lido o quadrinho precursor ou sua primeira edição no cinema e sair com um sorriso de “super legal” estampado na cara. Apesar de ser uma continuação, aqueles que curtirem uma boa ação, com doses aventurescas e tiradas cômicas e sarcásticas, farão uma boa pedida ao assistir Hellboy II: O Exército Dourado, nos cinemas nacionais desde a última sexta-feira, com Guilhermo Del Toro na direção.
Baseado em HQ homônimo com criação de Mike Mignola (publicado pela Dark Horse Comics em 1994), o longa conta a história do “Red”, na tradução tosca da legenda de “Vermelhão” para os íntimos, o Hellboy (Ron Perlman) e seus amigos, lutando para salvar a terra de uma guerra em eminência contra seres mitológicos. O objeto central é uma coroa de ouro, chave para o comando de um exército invencível controlado pelos elfos. De quebra, Hellboy tem mais um drama para enfrentar: sua namorada pirocinética Liz (Selma Blair em ótima atuação e por diversas vezes roubando a cena) está grávida do herói.
Já diz o velho jargão que “em time que está ganhando não se mexe”. Pois é, Guilhermo Del Toro não quis mesmo mexer na sua fórmula bem sucedida em O Labirinto de Fauno e usou estrutura semelhante: começa o filme contando uma fábula, posteriormente cruzada com a realidade. O roteiro não é dos mais primorosos, as piadas sobre comportamento e relacionamento não passam de repetições de outros dramas, com direito a Hellboy muito Barth Simpson com doses de ogro de Shrek (a gravidez de Fiona lembra algo aqui?), mas ainda arrancam uma risada aqui e outra acolá. As seqüências são dirigidas com maestria, boa alternância de drama com cenas de ação, sem cansar. A construção dos personagens não é das piores, meio sarcástica, diga-se de passagem, como o dono da cena muito mais anti-herói que na primeira seqüência: agora ele tem uma companheira e curte até fossa, com direito a uma engraçadíssima bebedeira ao som de “Love Song”.
Do primeiro para o segundo filme Del Toro resolveu soltar a imaginação para um roteiro atirando para todos os lados: preconceito, sadismo, comédia, romance, insegurança, DR (discussões de relacionamento), preconceito… Tudo com cobertura de muita adrenalina, talvez na tentativa de tirar de casa não apenas o fã do HQ. Resultado positivo, diretor! Mas o show mesmo fica por conta do belo visual do filme. Não é novidade que o estilo de Del Toro é priorizar belas imagens, com roteiro e personagens em segundo plano, mas não menos importante. Nesta película não seria diferente, com uma fotografia primando pela perfeição, aliada a efeitos especiais fabulosos, casando ainda com uma bela trilha sonora assinada por Danny Elfman. Resultado: cenas de luta de artes marciais contra um exército invencível com o melhor que O Senhor dos Anéis deixou na vida nos fãs de cinema fantástico. Caracterizações perfeitas até nos mínimos detalhes do figurino, com boas locações também ajudaram bastante a compor o cenário.
Do elenco, nada a reclamar. Apenas elogios rasgados a Selma Blair, talvez por ser a única personagem do elenco principal sem maquiagem forte, que deixa sua bela atuação florescer no navio de emoções em que está com a iminência de ser mãe. Os irmãos gêmeos elfos Nuada (Luke Goss e Anna Walton) também elevam muito o teor dramático do filme: afinal, o esquadrão da justiça não pode ferir o irmão mal para não matar a irmã boa, deixando os personagens em uma encruzilhada “digna de moral da história”. Segundo deixa o roteiro, pode ser que venha mais um sucesso por ai: há abertura para uma continuação. Vale à pena conferir este e torcer por um próximo, mas torcer muito, para a autoria ser novamente de Del Toro.
NOTA: 8,0.
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