O emblemático Grupo Vivencial comemora seus 50 anos com um evento especial na Casa Estação da Luz, em Olinda, no dia 26 de maio, a partir das 16h. A celebração, intitulada Vivencial 50 anos: Bodas e Bordoadas, é gratuita e contará com uma roda de conversa, apresentações artísticas, uma exposição e projeções de vídeos.
Fundado em 24 de março de 1974, em Olinda, o Grupo Vivencial reunia jovens da Associação dos Rapazes Mocas do Amparo, ligada a Arquidiocese de Olinda e Recife, e usava o teatro como meio de reflexão. Eles estrearam no Colégio de São Bento, com o espetáculo de criação coletiva e colagem de textos Vivencial I, com assuntos como homossexualidade, drogas, política e cultura de massas.
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Com o impacto causado, tiveram que sair do São Bento e foram para o teatro do Bonsucesso onde rapidamente se tornaram um marco na cultura pernambucana e brasileira. O grupo é lembrado pela sua abordagem de liberdade, subversão e experimentação estética. Suas produções incorporavam questões sociais e econômicas da época, refletindo o espírito Tropicalista e questionando a brasilidade e a sociedade brasileira.
Entre os espetáculos e montagens mais importantes e polêmicas do grupo, temos Nos Abismos da Pernambucália (1975), texto de Jomard Muniz de Britto, uma espécie de manifesto estético e ideológico do grupo; Sobrados e Mocambos (1977), de Hermilo Borba Filho, com direção de Guilherme Coelho; Viúva, Porém Honesta (1977), de Nelson Rodrigues, com direção de Antonio Cadengue; e Repúblicas Independentes Darling (1978), sua colagem mais famosa, apresentada em diversas cidades do país. O grupo e seus atores protagonizaram ainda diversos filmes em super 8 realizados por Jomard Muniz de Britto.
O Vivencial também é conhecido por seu espaço, Vivencial Diversiones, uma casa de espetáculos no Complexo de Salgadinho que se tornou um ponto seguro para a comunidade LGBTQIAP+ e um local de encontro para artistas e intelectuais. Além das peças criadas pelo grupo, encenadas por Suzana Costa, Ivonete Melo, Auricéa Fraga, Fábio Coelho, Américo Barreto, Fábio Costa, Henrique Celibi, Roberto de França (Pernalonga), João Andrade, Beto Diniz, entre outros, o Diversiones apresentava shows de transformistas e travestis até então marginalizados.
Guilherme Coelho, um dos criadores e membros do grupo, refletiu sobre a importância do Vivencial: “É muito significante para mim essa experiência com o Vivencial, que começou na década de 70, e que ecoa até hoje, exatamente pela militância que conseguimos exercer em vários campos usando o teatro como veículo. Depois do fechamento da casa, todos os componentes do grupo passaram a ter carreiras solos e é muito evidente a fidelidade aos princípios do trabalho inicial. A comemoração de 50 anos é bastante significativa para não deixar passar em branco esse legado tão valioso.”
Na Sala Espelho Cristalino, a exposição contará com trabalhos de artes visuais de membros do grupo, fotografias e objetos históricos, incluindo figurinos. A curadoria é dos jornalistas Bruno Albertim e Márcio Bastos, autor do livro Pernalonga: Uma Sinfonia Inacabada. Entre os destaques está um painel de seis metros de comprimento, pintado à mão, criado para o filme Tatuagem (2013), de Hilton Lacerda, inspirado nas experimentações do grupo.
A atriz Suzana Costa compartilha que tinha apenas 16 anos quando entrou em contato com o trabalho que deu nome ao grupo. “Eu fiquei impressionada com aqueles seres, aquelas cenas que falavam de liberdade, aquilo foi extremamente marcante na minha adolescência. No segundo trabalho, já lá estava eu com esse grupo”, conta. “O Vivencial foi minha escola, minha casa, meu pouso e meu voo, foi a seara onde floresci. Eu não sei como seria eu sem o Vivencial; sem o teatro; sem o convívio com todos aqueles integrantes daquele grupo transgressor; libertou-me, fez-me atriz e a mulher que hoje sou. Hoje, vejo que o Vivencial abriu caminhos, trilhas, estradas para jovens artistas ou espectadores. Foi libertário em contraposição ao Estado Militar. Esteticamente, creio que o influenciou a classe teatral, indelevelmente.”
O ator Fábio Costa acrescentou: “O Vivencial foi um exercício de criação e liberdade. ferocidade e pureza. Lá pratiquei as atividades de cenografia, adereçaria e inventamos os mais loucos figurinos que até os dias de hoje uso no meu ateliê. Ele se transformou numa mãe que pariu muitos filhos que pariram outros tantos com esse jeito livre e divertido de ser. Quando algum artista quer ser mais irreverente, diz ‘como no Vivencial’”.
As apresentações artísticas incluem performances de Geraldo Maia, Cássio Sette, Banda Psicordia, Sharlene Esse e Odilex. Além disso, serão projetados filmes de Jomard Muniz de Britto que incluem participações de membros do grupo.
Serviço:
Vivencial 50 anos: Bodas e Bordoadas
Local: Casa Estação da Luz (Rua Prudente de Morais, 313 – Carmo, Olinda)
Data: 26 de maio (domingo)
Horário: a partir das 16h
Gratuito, com retirada no Sympla
Informações: @casaestacaodaluz (Instagram)