A MÁFIA COMO ELA É
Premiado em Cannes, indicado ao globo de Ouro, mas esquecido pelo Oscar, o italiano Gomorra é uma adaptação literária que investe no submundo do crime.
Por Daniel Herculano, especial para O Grito!
GOMORRA
Matteo Garrone
[Gomorrah, ITA, 2008]
É sobre a máfia italiana, mas precisamente a Camorra. É violento, brutal e avassalador. Não, não tem exatamente sequências de ação, nem efeitos. Nada aqui é mirabolante. Mas tudo parece ser sufocante, sem saída. A obra em questão é Gomorra, adaptação do livro de mesmo nome, que acompanha o dia-a-dia da máfia napolitana, sobre diferentes personagens, ações e perspectivas.
De dentro para fora testemunhamos uma corajosa e semi-documental trama, contextualizando a realidade com suas imagens cruas e sem tratamento visual. Assinada por Matteo Garrone, Gomorra segue a risca o livro de Roberto Saviano, jurado de morte pela máfia e desde a publicação do livro que é protegido pela polícia, e desde já é uma das obras estrangeiras mais premiadas até aqui.
Consagração à parte, a obra requer bastante atenção, com uma narrativa que deixa o espectador inicialmente meio solto, até serem estabelecidas algumas histórias e personagens a serem seguidos na trama. A partir daí, somos dragados para dentro de tudo, e testemunhamos lavagem de dinheiro, tráfico de drogas, assassinatos, roubos, ações contra a natureza, recrutamento e treinamento de jovens, propina, vingança e ações fortuitas.
Gomorra tem ritmo cadenciado, fotografia e ação aflitiva, onde seus melhores momentos são a história dos dois jovens que cometem barbaridades por conta própria, a chacina inicial (numa clínica de estética) e a ação final, onde (infelizmente) percebemos que não estaremos tão cedo (ou jamais) livres de tamanha violência e barbaridade.
NOTA: 8,0
Trailer
* Daniel Herculano é colaborador do Jornal O Povo, assina as quartas a coluna Script e produz e apresenta à coluna semanal Script – Nas Prateleiras, no programa Viva Fortaleza na TV O Povo/TV Cultura.