O artista baiano Giovani Cidreira está dando um novo passo em sua carreira, amplamente reconhecida pela interpretação visceral e por sua composição intensa. O cantor e compositor lança no próximo 19 de novembro seu primeiro álbum como intérprete. Depois de dois discos solo muito celebrados pela crítica e pelo público, ele chega agora ao seu terceiro álbum indo fundo num dos aspectos mais fortes de sua música: o canto.
Carnaval eu chego lá (dobra discos/Altafonte Brasil) traz a obra de Ederaldo Gentil, um dos mais importantes nomes do samba da Bahia, mas agora sob a performance indiscutivelmente autoral de Giovani Cidreira. O trabalho do sambista ganha traços contemporâneos e força poética na voz de Giovani. No disco, ela tem a companhia de grandes nomes: Alice Caymmi, Céu, Danilo Caymmi, Josyara e VANDAL ajudam a construir novos caminhos pra esse samba, agora marcado também por outras sonoridades na mão de Giovani e dos produtores Mahal Pita e Filipe Castro. São contornos sonoros que fazem soar uma Bahia viva, quente e contemporânea.
Dois homens negros, baianos, e cuja a poética é capaz de marcar o tempo. Não são poucas as semelhanças entre Ederaldo Gentil, um dos grandes nomes do samba da Bahia, falecido em 2012, e Giovani Cidreira, nome essencial para pensar a Bahia hoje, e que chega agora ao seu terceiro disco solo. Mas são, em especial, suas diferenças que fazem de Carnaval Eu Chego Lá um dos grandes trabalhos de 2024, e um marco na carreira de Giovani, que estreia com ele como intérprete.
“Essa característica visceral e à frente do seu tempo, essa linguagem muito moderna, tudo isso faz parte de Ederaldo Gentil. Esse trabalho é um jeito de continuar a dar a ideia que ele sempre deu sobre liberdade, negritude, e amor. É uma forma de manter essa chama ainda mais viva no mundo”, afirma Giovani.
No disco, que traz à luz um repertório que há muito devia ser celebrado, dada a força e importância que carrega, Giovani não se restringe a reler a música de Ederaldo. O trabalho avança com ela, dando contornos contemporâneos muitas vezes, mas atemporais na maior parte delas, fazendo o samba fundador de Ederaldo ressoar em linguagens que são próprias do repertório de Giovani. As canções surgem às vezes entortadas pelo arranjo, às vezes amplificadas por ele. A delicadeza do canto de Ederaldo dá lugar ao canto rasgado de Giovani. Em vários momentos, o arranjo faz o papel de deixar vazios. Em outros, ele é quem preenche e ilumina a canção, com instrumentação solar, quente e afirmativa da importância desse repertório.
Como em Feira do Rolo, escrita com inspiração nos cantadores de feira, e gravada somente por Alcione em 1977, no LP “Pra Que Chorar”. Quase cinquenta anos depois, os versos de Ederaldo, um dos mais importantes sambistas do país, ganharam novo corpo no canto singular de Giovani Cidreira. A canção ganhou ainda novos versos e um novo parceiro: o rapper VANDAL chega não somente como intérprete, mas com rimas que engrandeceram ainda mais a composição original, e a tornaram latentemente atual.
Outra gravação peculiar no repertório do disco, O Samba e Você – feita por Ederaldo ao lado de Nelson Rufino e Memeu. Se na gravação original a cuíca é quem conduzia a música, agora ela dá lugar à rítmica do tamborim, que é o elemento de presença mais forte no registro inédito. Com melodia guiada principalmente pelas vozes de Giovani e Céu, convidada especial da faixa, e ritmo marcado, a canção carrega a tradição do samba agora acompanhada de elementos eletrônicos programados por Mahal Pitta.