“Vem que a feira é do rolo / Vem quem tem pra rolar”: é assim que começa a composição “Feira do Rolo”, escrita pelo sambista Ederaldo Gentil, e com inspiração nos cantadores de feira, embalada pela voz de Alcione e lançada pela primeira vez em 1977, no LP Pra Que Chorar.
Quase cinquenta anos depois, os versos de Gentil retornam na voz de Giovani Cidreira, que dá os primeiros passos de seu projeto especial interpretando canções do sambista. E Giovani não está sozinho: o rapper VANDAL chega não somente como intérprete, mas com versos novos que se juntam à canção original. O single estreou ontem (19) pelo selo dobra discos, com distribuição da Altafonte Brasil. O single, assim como o álbum completo, faz parte do projeto Identidade: Giovani Cidreira canta Ederaldo Gentil, contemplado pelo edital Territórios Criativos, com recursos financeiros da Fundação Gregório de Mattos, Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, Prefeitura de Salvador e da Lei Paulo Gustavo, Ministério da Cultura, Governo Federal. O álbum completo chega ainda neste 2024.
Com produção musical de Mahal Pita e Filipe Castro, e direção musical da dupla juntamente com Giovani Cidreira, “Feira do Rolo” carrega a proposta de recontextualizar o repertório do disco – muito calcado em canções profundas e densas.
“Essas são características tanto das músicas de Ederaldo quanto minhas; Mahal sugeriu trazer as outras facetas que carregamos em nossas músicas. A partir de ‘Feira do Rolo’, as músicas mudaram de intenção e o disco ficou mais solar”, conta Giovani.
A história de Giovani Cidreira com Ederaldo Gentil remete à juventude do cantor. Desde que ouviu “O Rei”, o cantor se encantou pela voz e composição do sambista: “eu fiquei naturalmente atravessado por aquilo e quis saber mais da história dele”, Giovani relembra. Ao acaso, ele passou a frequentar lugares de samba em Salvador, como Itapuã, Rio Vermelho e o Toalha da Saudade, criado por Batatinha – outro gigante do samba da Bahia. Foi então que ele passou a conhecer mais histórias sobre Ederaldo Gentil.
“Eu fui me conectando cada vez mais com a história do Ederaldo: com a música que ele fazia, a letra, a poesia profunda e muitas vezes triste. Me identifiquei completamente com o teor da obra dele. Já faz anos que Ederaldo é parte do meu ciclo de amigos; é uma ligação que nunca acaba”, compartilha o artista.
O rapper baiano VANDAL é ponto fundamental no mapa da “Feira do Rolo”: ele, Giovani e Ederaldo cresceram em bairros próximos de Salvador – como Cidade Nova, IAPI, e Vila Laura. A identificação, porém, não se limita ao espaço e atravessa os processos de trabalho e composição. Para Giovani, há uma conexão com o trabalho e o seu fazer.
“São dois artistas que levam o trabalho como uma coisa muito central no seu fazer. Ederaldo, assim como VANDAL, não fez concessões para a indústria, não referenciou nada. Eles têm um comprometimento com a verdade, com uma música muito verdadeira”, reflete.