Por Giovana Casimiro
De São Paulo
Os games – que existem a pelo menos três décadas – são um fenômeno contemporâneo que reflete a competitividade humana. Na atualidade, as possibilidades de interface e layout são tão variadas que é extremamente difícil não se render. Não bastassem as diferentes estéticas e jogabilidade, os games oferecem narrativas para todos os gostos. Os jogos são hoje o segmento mais rentável da indústria do entretenimento, superando, inclusive, a centenária indústria hollywoodiana.
A arte, por sua vez, caminha junto à sociedade e seus costumes. Se o videogame é elemento indispensável na vida contemporânea, nada mais natural que a arte “se apropriar” deste meio. Muitas das inovações tecnológicas são desenvolvidas especificamente para os games. Diante do volume de novidades, surgem os chamados games artísticos, ou gameart, cujo objetivo não é necessariamente a vitória (“não-jogo”): trata-se de propostas não-violentas, valorizando a poética, em vez de um duelo sem fim. A partir de um ponto de vista lúdico, estimam as estéticas consideradas obsoletas em uma espécie de retomada do passado.
No Brasil, há diversos artistas e grupos de pesquisa que se dedicam a estudar e produzir nesta área. Tiago Barros é um nome que se destaca fortemente. A artista gaúcha, Anelise Witt, propõe em seu último trabalho, um jogo da memória que desafia o interator de uma forma inesperada, fazendo-o refletir sobre a própria cronologia da história da arte. Este ano, de março a abril, aconteceu a mostra PLAY!, na Galeria de Arte Digital do SESI, em São Paulo, que reuniu diversas propostas artísticas vinculadas à questão dos games. Entre os artistas nacionais presentes, podemos citar nomes importantes, como Andrei Thomaz (São Paulo) e Suzete Venturelli + equipe Midialab (Universidade de Brasília).
Ao longo de mês de agosto, muitos títulos nacionais e internacionais estarão expostos no 14º Festival Internacional de Linguagem Eletrônica (no SESI-SP), com propostas extremamente interessantes em se tratando de games através da linguagem artística. Entre alguns títulos: Element4l, do grupo Belga I-Illusions; Thomas Was Alone, do inglês Mike Bithell; Odallus, do grupo brasileiro JoyMasher.
É importante refletir o quanto a produção artística contemporânea vem se aproximando de linguagens extremamente comuns, presentes no dia a dia. O caráter de experimentação artística vem se expandindo e a matéria prima da “obra de arte” se transformando: propostas interativas, acessíveis via internet, cuja dinâmica se assemelha a tantas atividade já conhecidas pelo público. Desenvolvidas a partir do ponto de vista do artista, transversalmente em uma busca de tocar à fundo o público/interator/jogador e transformá-lo em fator determinante de existência de sua obra de arte. Em especial, como gameart.
Se a arte contemporânea parece intimidadora, aprenda a jogar com ela.