Pela primeira vez, o Galo reverencia pretos e pardos, pilares da cultura carnavalesca e do surgimento dos brinquedos populares tão caros à população, como o próprio frevo. Batizada de Galo Ancestral, a 22ª edição da alegoria irá reinar absoluta na Ponte Duarte Coelho durante o Carnaval 2023. O artista plástico, designer e consultor pernambucano Leopoldo Nóbrega é quem assina a obra de arte gigante.
“Em reconhecimento à História e toda riqueza do legado afrodescendente para a formação multiétnica nacional, evocamos a nossa ancestralidade africana e brindamos um novo tempo colorido, de paz, igualdade, inclusão e valorização das diferenças como potência cultural e estímulo ao fortalecimento das identidades através do empoderamento social, das narrativas humanistas e práticas sustentáveis presentes na escultura gigante do Galo da Madrugada”, comenta Nóbrega.
Ao todo, serão mais de 7 toneladas de insumos utilizados, incluindo – além da estrutura de ferro – todos os revestimentos que sintonizam as tendências de moda e arte da obra. Para isso, serão necessárias cerca de 20h de trabalho na Ponte Duarte Coelho, com início na noite do dia 16 de fevereiro. Quando pronta e montada, a alegoria chegará a 28 metros de altura. A obra de arte também traz traços cubistas e angulosos inspirados em Picasso que, por sua vez, também se inspirou na arte africana no início do século passado, e terá 90% de materiais e resíduos recicláveis.
A indumentária do Galo bebe na fonte de padronagens e paletas de cores africanas e Pernambucanas (ou AfroPernambucanas) e traz tons quentes, como as tonalidades presentes na bandeira de Pernambuco. “Teremos também tons flúor e metálicos. O Manto Sagrado do Galo terá uma cartela de cores vibrantes, com influências afropunk. A roupa será um caleidoscópio em Patchwork de inspirações étnicas”, antecipa Leopoldo Nóbrega.
As pontas das asas serão douradas, em franca reverência a Oxum, deidade das águas, que também é reverenciada na cidade, cuja padroeira vem a ser Nossa Senhora do Carmo, em franco sincretismo com a ancestralidade negra. No pescoço, mais dourado, desta vez com um colar no estilo gargantilha africana. A cauda, por sua vez, traz todas as cores da paleta do arco-íris para rememorar que o Carnaval é de todos, todas e todes.