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“Furiosa” reafirma o cinema de ação imaginativo de George Miller

Longa estrelado por Anya Taylor-Joy traz um novo capítulo da saga distópica de Mad Max, dessa vez ainda mais brutal

“Furiosa” reafirma o cinema de ação imaginativo de George Miller
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Furiosa: Uma Saga Mad Max
George Miller
AUS/EUA, 2024. 2h28. Gênero: Ação, Aventura. Distribuição: Warner


O sucesso de Mad Max: Estrada da Fúria, em 2015, revitalizou a franquia criada pelo diretor George Miller no final dos anos 1970. O longa, que contou com interpretações inspiradas de Charlize Theron e Tom Hardy, é, sem dúvida, um dos melhores filmes de ação deste início de século. Por toda essa repercussão positiva, o novo capítulo da saga, Furiosa: Uma Saga Mad Max, estrelada por Anya Taylor-Joy e que acaba de chegar aos cinemas, foi cercada de alta expectativa. Este novo longa, de personalidade própria, mantém a alta voltagem do cinema de ação altamente imaginativo de Miller, cineasta que possui uma autoralidade e visão inovadora para este gênero cinematográfico.

É um blockbuster com razão de ser, que justifica seu poder de espetáculo sem nenhum constrangimento. Mas está longe de ser um entretenimento sem estofo, com sequências repetitivas. Ao contrário, usa todo o aparato do cinemão para propor um impacto visual com inteligência e sagacidade.

Furiosa faz um exercício de afastamento e aproximação em relação ao filme anterior. Do ponto de vista narrativo, o longa traz um ímpeto todo próprio, com uma história mais brutal, metálica, com uma dose maior de violência. Enquanto o filme anterior trazia um sub-camada de esperança, que movia as personagens em fuga, aqui o longa é quase todo pautado por uma história de vingança. A protagonista, no processo de encontrar uma persona que possibilite sua sobrevivência, acaba aceitando seu destino e quer, essencialmente, um acerto de contas. Não chega a ser uma vingança reparadora, mas estabelece as bases que levarão ao início do longa anterior, Estrada da Fúria.

Anya Taylor-Joy é uma das responsáveis por dar ao filme sua personalidade marcante e apresenta aqui uma interpretação cheia de vigor, com pouquíssimas falas, e quase toda baseada nas expressões faciais e corporais. Quando necessário, ela deixa transparecer uma emoção que transborda por baixo dessa casca bruta de puro ressentimento. Assim como Theron, Taylor-Joy também traz uma dose de vulnerabilidade à personagem enquanto mantém um olhar alerta e cheio de fúria.

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Chris Hemsworth como Demmentus. (Divulgação.)

George Miller aproveitou esta história de origem de Furiosa para ampliar o universo apenas citado no filme anterior, como a Vila Gasolina e a Fazenda das Balas, cada um com seu governante. Também reencontramos o líder supremo Immortan Joe, o governante autoritário da Cidadela, agora interpretado por Lachy Hulme.

Furiosa x Demmentus é a engrenagem do filme

A novidade entre os antagonistas é Dementus, o líder oportunista de uma tribo nômade interpretado por Chris Hemsworth, aqui em uma interpretação bem caricata, mas que funciona bem ao papel. Usando uma capa branca e um cinto de ursinho e pilotando uma carruagem puxada por motos, ele é uma figura ridícula que governa um grupo de motoqueiros, quase inteiramente masculino. Assim como Anya Taylor-Joy, Hemsworth também sustenta sua interpretação a partir dos trejeitos e da expressão corporal, aqui auxiliado por um nariz prostético e dentes falsos. É ele quem rapta Furiosa, então uma criança pertencente a uma tribo humana autossustentável, que habitava uma região cheia de vida e recursos, um oásis em meio ao apocalipse desértico do cenário de Mad Max. A atriz-mirim Alyla Browne, de 10 anos, aliás, está excelente como a versão jovem de Furiosa.

A dinâmica de Dementus e Furiosa tem um contraste que mantém o filme em movimento. Ele é um líder canastrão, sádico e sem nenhuma honra. Sua trupe baseia sua existência em pilhagem e conquista desmedida, sem nenhum talento para governar. Já Furiosa é estoica, calculista, sempre mantendo um silêncio perturbador que só evidencia o ódio acumulado. Essa dupla acaba cruzando o caminho de Immortan Joe e uma guerra acaba se instalado. Mas esse é apenas o mote inicial do filme, que vai carregando em tensão até que a personagem Furiosa como a conhecemos tome forma.

O longa tem a ainda a adição de Tom Burke, excelente como o pretoriano Jack, que ajuda Furiosa a encontrar seu caminho. Ele é um contraste em relação aos personagens masculinos do universo de Miller, sempre retratados como seres asquerosos, quase primitivos. Os outros personagens já conhecidos reaparecem aqui sem muita novidade (e até pouca relevância para a trama), como os filhos de Immortan Joe, Rictus Erectus (Nathan Jones) e Scrotus (Josh Helman).

Furiosa.

Blockbuster com intenção artística

Furiosa: Uma História Mad Max também faz um trabalho de reforçar a visão distópica de George Miller, baseada em um mundo futurista de total falência no manejo dos recursos naturais da Terra pós-hecatombe. A estética bem delineada no filme anterior reaparece aqui, com suas cores saturadas, o aspecto lúgubre e granulado dos cenários e a velha mistura de faroeste e cyberpunk.

Miller faz um cinema de ação muito imaginativo, que foge de esquemas tradicionais já bastante explorados em filmes do gênero para compor cenas baseadas no absurdo, no humor exagerado e no impacto visual. Os veículos e suas modificações são um espetáculo à parte com sua engenharia maluca (e impossível). Furiosa: Uma Saga Mad Max se justifica como um longa que traz uma força toda particular ao mesmo tempo em que mantém energizada uma franquia que ainda tem muito a oferecer.

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