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Flaira Ferro e Clara Coelho constroem juntas o álbum AUÁ. Foto: José Britto. (Divulgação)

Flaira Ferro e Clara Coelho unem espiritualidade e música em novo trabalho

"Cataclismas do Amor" é a primeira faixa da parceria, que irá render um disco lançado aos poucos. " Num momento de muita conexão espiritual sentimos o chamado de fazer algo juntas", diz Coelho

A arte, a espiritualidade, os desafios da pandemia e uma gama de sentimentos afáveis uniram Flaira Ferro e Clara Coelho tanto na construção da recente lançada “Cataclismas do amor” quanto do novo álbum AUÁ. As cantoras e compositoras se juntam para o projeto de nove meses de duração, com uma canção a ser revelada por mês.

Pernambucana, natural de Recife, Flaira Ferro se viu envolvida com a música desde a primeira infância. O celeiro da cultura popular do estado durante os ciclos do carnaval e festas juninas, abrigando ritmos como frevo, maracatu, caboclinho, coco, xaxado, baião, ciranda e forró, são familiares para ela desde muito cedo através de sua primeira paixão, a dança. “Minha relação se deu através da brincadeira como foliã, passista de frevo e a música foi inicialmente sendo trabalhada por mim através da dança. Sou dançarina desde os seis anos de idade, me profissionalizei e trabalhei muitos anos na área”, explicou. 

O desejo de trazer a palavra aos instrumentais que tocava acenderam o olhar para o canto. “Já foi um movimento um pouco mais tardio, o de me sentir compositora e cantora, que se deu em 2012, em São Paulo, com 22 anos. Foi lá onde surgiu esse impulso de querer gravar um disco, trabalhando na companhia do multiartista Antônio Nóbrega no Instituto Brincante”, contou. Através das aulas no instituto, nasceu o desejo de trabalhar profissionalmente com a música também. Desde então, Ferro já lançou os discos Cordões Umbilicais (2015) e Virada no Jiraya (2019).

“Me interesso muito por coisas que tenham matrizes na cultura popular. Desde os cocos, dos xaxados, dos maracatus. Essa referência dos medalhões, de Luiz Gonzaga, de Marinês, Dominguinhos, Kátia de França, Mestre Galo Preto, Lia de Itamaracá”, revela a artista sobre suas influências na música. A cantora se revela entusiasta da cultura pernambucana e popular brasileira, também flertando com artistas que dialogam com o universo pop e rock do Brasil e exterior, além de admirar a música experimental.

Assim como a parceira, Clara Coelho teve seu primeiro contato com a música na infância, com os pais. “Eu era uma criança que gostava do universo da música e das artes. Este apreço e encantamento foi algo valorizado e potencializado nos ambientes que vivi. Meu pai tocava violão, minha mãe e meu pai cantavam muito”, contou. Ao longo do crescimento, o contato da paulista com a música foi se estabelecendo também pela dança e pelo teatro, quando começou a cantar profissionalmente e estudar sobre. “As músicas pra mim sempre atuavam com força na minha vida, abrindo processos criativos, movendo os fluxos das emoções, reconectando com a alma, e me fazendo sentir a sensação de voltar pra casa”, revelou.

“A grande inspiração foi o momento de transição que estamos vivendo, o reconhecimento de que é preciso voltar-se para a essência da vida e dar vazão para novas formas de viver, para que uma sociedade mais saudável possa nascer”

Clara coelho

Coelho passou um ano numa pesquisa pessoal, onde viajou pela América do Sul, pesquisando a voz, a música, a espiritualidade e a experiência viva das relações humanas. “Através das diversas culturas, me permiti a um mergulho maior nestas descobertas do viver e do relacionar-se”, explicou. “Eu sou bem eclética, as vezes nem sei muito nomear tudo que escuto, sinto que meus estilos musicais são fluxos que me atravessam a cada momento da vida”, disse sobre seus gostos e preferências. A cantora aprecia uma gama de estilos como MPB, samba, choro, músicas medicinas, mantras, música indiana, africana, experimentais, jazz, blues, músicas regionais, flamenco, gipsy, instrumental e trilhas sonoras de filmes.

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Flaira e Clara já acompanhavam seus respectivos trabalhos antes da parceria. Foto: José Britto. (Divulgação).

O encontro das duas se deu na pandemia, ainda que de forma virtual e inusitada. Ambas acompanhavam seus respectivos trabalhos e “se conheciam sem saber que se conheciam”, como diz Coelho, que já ouvia as músicas da pernambucana, enquanto Ferro acompanhava as palestras e aulas da paulista na internet. Ao gravar sua filha cantando a canção de Flaira “Faminta” e mandar para a artista, Coelho sentiu uma ligação transcendental. “Percebi que nossa conexão era de outros tempos, da ordem do espírito mesmo. Num momento de muita conexão espiritual sentimos o chamado de fazer algo juntas e logo veio a ideia de produzir um disco”, assumiu a paulista.

“Músicas que pudessem ser canais de transbordamento do nosso encontro e de toda a força espiritual que estávamos experimentando naquele momento”, é como explica Clara Coelho sobre o disco AUÁ. A partir de uma série de nove lançamentos, as artistas se guiam pelo Sincronário das 13 Luas, que conta o ano de uma forma diferente, contabilizando as 13 Luas (ou 13 meses) de 28 dias cada, totalizando 364 dias mais o dia fora do tempo (25 de julho), um dia para o perdão, para celebrar a paz e a cultura através da arte. “Cataclismas do amor”, foi lançada no dia 26 de julho de 2022, conectado com o nascimento da estrela Sirius em conjunção com o nascer do Sol e o primeiro dia do ano da Lua Auto Existente Vermelha. A partir do cronograma, o disco encara um norte ligado à natureza e ao princípio do sagrado feminino da vida, além de coincidir com o tempo da atual gestação de Flaira Ferro. 

A primeira canção da sequência de lançamento é inspirada em músicas com instrumentações acústicas com cordas e artistas que trabalham com rezo, a fim de trazer alento, colo, carinho e cuidado para os corações neste momento de cataclismas que é a pandemia. 

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Disco AUÁ está ligado a natureza e saúda o sagrado feminino. Foto: José Britto. (Divulgação).

“Foi e tem sido um encontro muito fértil e de muita troca de saberes e conhecimentos construir AUÁ com Clara. É um trabalho que nasceu por um viés diferente dos anteriores que eu estava acostumada a direcionar, porque tem muito mais um caráter de auto cuidado”, contou Flaira Ferro, assumindo os propósitos do disco. “A grande inspiração foi de fato o momento de transição que estamos vivendo na terra, o reconhecimento de que é preciso voltar-se para a essência da vida e dar vazão para novas formas de viver, para que uma sociedade mais saudável possa nascer”, completou Clara Coelho.

AUÁ tem em sua essência o olhar das cantoras sobre o desenvolvimento humano, autoconhecimento, a busca por novos paradigmas e a necessidade de ouvir outros povos que foram silenciados ao longo da história como os povos originários, indígenas e de matrizes africanas. O disco tem produção e arranjos de Eduardo Andrade, Jader Finamore e Lucas Dan. Através do fluxo criativo e a junção do repertório musical e espiritual das artistas, o primeiro álbum em conjunto vive uma gestação e vai nascendo pouco a pouco ao longo dos nove meses.