FKA twigs
EUSEXUA
Young Records, 2024. Gênero: Eletrônica, Experimental
FKA twigs é um dos nomes mais interessantes na música contemporânea, com uma estética e um feitio musical raros que permitem a ela se encaixar num território musical próprio. A artista inglesa tem uma discografia que se movimenta a cada novo lançamento, já tendo sido classificada como experimental, R&B e eletrônica; classificações que, ao meu ver, limitam o alcance de sua música.
Os sons de twigs soam quase como se fossem esculpidos, feitos por uma reunião de elementos e referências colecionados por ela e rejuntados por uma carga pessoal pesada, fruto das suas experiências emocionais mais íntimas.
O MAGDALENE, considerado por muitos – incluindo este humilde ouvinte – seu melhor álbum, nasceu de um período de dificuldades psicológicas e problemas de saúde causados por um término conturbado. O EUSEXUA, seu sucessor, dá continuidade a essa abordagem tão pessoal, mas com uma reviravolta de superação.
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A ideia para o EUSEXUA surgiu primeiro em 2022, quando a artista estava em Praga, na República Tcheca, e por acaso foi a uma rave da cena underground da cidade, onde vivenciou o estado “Eusexua”, como ela chama, pela primeira vez. Trata-se de uma espécie de transe, onde tudo se abstrai e o sujeito vive o ápice da paixão e do desejo, o que ao mesmo tempo permite uma claridade de si extraordinária; algo que mesmo para ela é difícil de definir, mas que se tornou uma experiência reveladora, capaz de tirá-la de um momento difícil de sua vida.
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É justamente esta tentativa de dar nome e forma a algo abstrato que torna o álbum tão rico e denso, como a maioria de seus trabalhos, que precisa ser revisitado ao longo do tempo. Penso que a riqueza está em entrar neste espaço tão particular criado por FKA twigs e tentar aprender os significados e nuances que estão impressos na música.
O disco pinta a paisagem da pista de dança, transmite a sua sensação de enclausuramento e liberdade, como se nada fora dali importasse. É neste lugar que a cantora se entrega ao hedonismo, o espaço onde o prazer se torna o único meio de atravessar a dor e se libertar, como ela canta em “Drums Of Death”: “Tear your clothes, body torn / Shed your skin / Rip your shirt, flesh exposed / Fuck who you want / Baby girl, do it just for fun”.
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Sutilmente, o álbum consegue transportar tanto pela euforia quanto pela autoconsciência da experiência “Eusexua”, para dar espaço aos momentos de reflexão na pista, de maneira como se estivesse se aprofundando na mente de twigs. A capacidade de transmitir isso pela música só consegue ser atingida por uma produção sofisticada, que torna possível o movimento das faixas de acordo com o estado emocional do eu lírico, navegando por momentos mais agitados ou mais calmos, principalmente na segunda metade do disco.
Nas suas possíveis e infinitas possibilidades, FKA twigs fez Kate Bush, Björk e Madonna passarem por minha mente enquanto escutava o disco, fora toda a mistura de gêneros musicais, o uso escrachado e criativo dos synths e a distorção dos vocais para criar sons específicos, e aqui eu retomo o ponto de que música de twigs tem um território próprio, capaz de construir nuances que ultrapassam barreiras de gêneros em alguns momentos.
EUSEXUA já é um dos melhores álbuns em 2025. Um disco que atesta a capacidade de twigs como compositora, produtora e vocalista, além de seu talento como uma pessoa capaz de explorar lugares emocionais remotos, transmitir seus processos de reflexão com sensibilidade e de levar o ouvinte junto dela. É neste aspecto que ela é especialista.
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