Filmes brasileiros são destaques no 39º Cinéma du Réel, em Paris

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Cena de No Intenso Agora, novo filme de João Moreira Salles. (Divulgação).
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Cena de No Intenso Agora, novo filme de João Moreira Salles. (Divulgação).

Da Revista O Grito!, em Paris

Está em andamento no Centre Pompidou e no Forum des Images, em Paris, até o próximo dia 02 de abril, o 39º Cinéma du Réel, um dos mais importantes festivais de documentários do mundo. Nessa edição, dois filmes brasileiros estão na mostra competitiva internacional, o pernambucano Martírio, de Vincent Carelli, Tatiana Almeida e Ernesto Carvalho; e o novo trabalho do cineasta João Moreira Salles, No Intenso Agora. O evento presta também uma bela homenagem ao realizador brasileiro Andrea Tonacci, falecido no ano passado, com uma mostra retrospectiva de sua obra.

O festival teve sua primeira edição em 1975 por Jacques Villemont e foi retomado em 1979 por Jean-Michel Arnold e pelo renomado documentarista do cinema verdade, Jean Rouch, quando passou a ter o título que ostenta hoje e se tornou desde então uma referência da produção documental contemporânea. O evento tem também mostras competitivas internacionais de primeiros filmes, de curtas metragens e uma especial para documentários franceses. Esse ano devido a um movimento grevista iniciado nesta segunda, 28, as sessões que normalmente ocorrem no Centre Pompidou foram transferidas para o Forum des Imagens no Forum des Halles.

Mais uma vez o Cinéma du Réel apresenta uma seleção de obras oriundas de diversos países – da China ao Congo – com filmes cujos temas lançam olhares instigantes sobre as questões políticas atuais a exemplo das revoluções nos países do norte da África, vista em Je Ne Me Souvien de Rien, de Diana Sara Bouzgarrou. O calor dos acontecimentos recentes é também a marca do francês Paris é uma Festa: um filme em 18 ondas, de Sylvain George, sobre as grandes manifestações ocorridas em 2015 e 2016 contra as mudanças nas leis trabalhistas.

Cena de Paris é uma Festa. (Divulgação).

Já o passado é revisto em filmes como Luz Obscura, de Susana de Sousa Dias, e no transnacional Ejercicios de Memoria, de Paz Encina, respectivamente sobre os regimes ditatoriais de Portugal e Paraguai. Não faltam ainda documentários com abordagens mais intimistas em diários filmados como é o caso de Existencia Solitária, de Sha Qing, da China.

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Salles, no debate em Paris: um olhar mais pessoal do Maio de 68. (Foto: Alexandre Figueirôa/OGrito!).

No Intenso Agora

No filão dos documentários com um olhar mais pessoal, outro bom exemplo é No Intenso Agora, de João Moreira Salles. Depois do belo Santiago, quando abordou a vida do mordomo que trabalhou para sua família por mais de 30 anos, Salles anunciou que não faria mais filmes. Felizmente a promessa foi quebrada e ele retorna com um trabalho em que mescla um filme de família, sobre uma visita que sua mãe fez a China em 1966, com imagens de arquivo do Maio de 68.

No debate após a sessão, Salles afirmou que não realizou um filme sobre a história das famosas revoltas estudantis que se alastraram pela França e pelo mundo no ano de 1968 e tiveram seu estopim em Paris. Ele disse que na verdade tratou os acontecimentos do período mais pelo seu valor simbólico, pelo sentimento que eles despertam, sentimento esse que, para ele, é uma ideia romântica do que realmente aconteceu.

Ele conta que no início do projeto não tinha um roteiro. Só na edição, na medida em que interrogava as imagens, inspirado pelo método de não se prender apenas ao que é visto no primeiro plano, como fazia Eduardo Coutinho – a quem o filme é dedicado – é que ele foi apreendendo o que desejava mostrar.

O filme ainda é inédito no Brasil e certamente provocará reações, pois Salles substitui a narrativa cristalizada sobre o movimento, por um discurso menos glamouroso e crítico. A conferir.

O jornalista viajou a convite do Consulado da França no Recife.