Festival Recife do Teatro Nacional volta com programação diversa e politizada

Com o tema "Teatro e democracia" o festival traz peças que discutem assuntos atuais e urgentes na esfera social

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O musical "Viva o povo brasileiro", que conta a história do Brasil na perspectiva do povo preto. (Foto: Annelize Toletto/ Divulgação)

A partir desta quinta-feira (16), o Recife abre cortinas para a retomada do Festival Recife do Teatro Nacional, que ocupará palcos e ruas da cidade, até o próximo dia 26 de novembro, numa edição marcada pela diversidade de estéticas, vozes e protagonismos, por temas urgentes e muitas novidades. Serão apresentados, ao todo, 28 espetáculos, 15 robustas produções locais e 13 montagens nacionais inéditas na cidade.

Em sua 22ª edição, o Festival, realizado pela Prefeitura do Recife, por meio da Secretaria de Cultura e da Fundação de Cultura Cidade do Recife, combinará programação formativa com grade artística, construindo um mosaico de atividades com o intuito de refletir sobre assuntos atuais e urgentes, tudo sob o tema “Teatro e democracia”

“Eu acho que o edital, também, caminho muito em direção a temáticas importantes, necessárias, como uma democracia pede. Têm que ser múltiplos os olhares. O teatro é uma coisa muito urgente, e ele fala de coisas do nosso tempo (…) Dentro dessa perspectiva tem um espetáculo chamado “Pelos quatro cantos do mundo”, que trata de uma criança que, na guerra de Siria, perde-se dos pais, e sai pelo mundo procurando a família.”, afirma André Brasileiro, da comissão organizadora do festival à O Grito!.

O espetáculo Azira’i, é um espetáculo de uma atriz indígena, a maranhense Zahy Tentehar, que traz para o palco sua experiência como cidadã dos povos originários, a vida nas aldeias e sua ancestralidade. “Eu acho que essa retomada do festival conta um pouco essa história, reforça a questão da importância da democracia para o teatro, a importância do teatro na história do Brasil, importância do teatro na cultura, na cidade.”, afirma o organizador do festival. 

Ainda no mote da democracia, dessa vez falando sobre a democratização do teatro, as atividades irão se espalhar pelos teatros de Santa Isabel e Parque, Apolo e Hermilo Borba Filho, Barreto Júnior e Luiz Mendonça, além de ganhar as ruas da cidade, com apresentações nos mercados públicos de São José, Afogados, Água Fria e Casa Amarela, no Morro da Conceição e na Avenida Rio Branco, e tudo de forma gratuita. 

“Ele [o Festival] vai estar descentralizado. A gente vai ter uma montagem encenando o ‘Ubu’, um espetáculo político, mas feito na rua, falando para o povo sobre política, de uma forma muito bem construída. É uma importante oportunidade de capilarizar um festival que, cada vez mais, precisa ser descentralizado.”, pontua. 

Os ingressos serão distribuídos ao público nos teatros, uma hora antes do início das apresentações, mediante entrega de um quilo de alimento não perecível. Toda a arrecadação será revertida para o Banco de Alimentos da Prefeitura do Recife, localizado no Compaz Dom Helder Câmara, no Coque, que recebe e repassa alimentos para os equipamentos socioassistenciais.

Inéditos

Hasteando todas as bandeiras que o Festival evoca no tema escolhido para esta edição, Teatro e Democracia, a abertura ficará por conta da peça Viva o povo brasileiro (De Naê a Dafé), musical carioca da Sarau Cultura Brasileira, com direção de André Paes Leme, inspirado no livro de João Ubaldo Ribeiro, que fala do Brasil numa perspectiva negra e feminina.

Outro destaque é Sueño, da Heroica Companhia Cênica, com dramaturgia e direção geral do pernambucano Newton Moreno, também homenageado desta edição do Festival. A peça ambienta os célebres “Sonhos de uma Noite de Verão”, de Shakespeare, numa América Latina sombreada pelo autoritarismo de hoje e ainda assombrada e ferida de morte pelas ditaduras de ontem, que precisa reaprender a sonhar com liberdade e independência.

Tatuagem, musical político da paulistana Cia da Revista, também celebra a força da produção cultural e cênica pernambucana, adaptando para o teatro o premiado filme homônimo do pernambucano Hilton Lacerda, e transpirando a irreverência e a liberdade que ainda emana do grupo de teatro recifense da década de 1970, Vivencial Diversiones, com direção de Kleber Montanheiro.

Oficinas

Para levar mais que emoções e comoções à cidade, a 22ª edição do Festival Recife do Teatro Nacional contará com etapa formativa, que inaugura a programação. Serão cinco oficinas gratuitas, oferecidas entre os próximos dias 15 e 23 de novembro. As inscrições são gratuitas e virtuais. As oficinas estão distribuídas com atividades para artistas, estudantes de teatro, amadores e profissionais das artes cênicas no campo administrativo. 

“É um festival voltado a impulsionar, retomar, feito com verba 100% pública, exatamente para impulsionar as pessoas que querem trabalhar com arte, impulsionar quem quer trabalhar com dramaturgia, mais importante, impulsionar as pessoas a irem ao teatro acho que é isso”, finalizou André.

No dia 16 de novembro, será realizada, no Teatro Hermilo, das 14h às 18h, a Oficina Produção e Gestão de Grupos, com Gilma Oliveira, do Grupo Galpão, que tratará dos princípios norteadores da produção cênica, relacionados a contratos, planejamento, orçamentos, liberações, cargas, roteiros, check-lists, cronogramas e logística de viagens, entre outros. Público alvo: produtores, gestores e artistas interessados no universo da produção das artes cênicas.

Entre os dias 21 e 25, das 9h às 13h, no Paço do Frevo, o ator, palhaço, dramaturgo e diretor Duda Rios, um dos fundadores da Barca dos Corações Partidos ministrará a Oficina Criativa de Atuação e Movimento. O objetivo da oficina é potencializar o exercício criativo, a partir da investigação do movimento, da incorporação da natureza (Máscara Neutra) e da construção de universos teatrais particulares surgidos em improvisações. Público alvo: Profissionais e estudantes das artes cênicas a partir de 18 anos. 

De 21 a 23 de novembro, das 14h às 17h, o ator, diretor, autor e homenageado do Festival, Newton Moreno, conduz a Oficina de Dramaturgia, dedicada ao processo de criação do texto teatral, a partir do estudo de caso de alguns textos/processos. Serão três encontros, cada um com três horas de duração. 

e 17 a 19 de novembro das 14h às 17h, no Paço do Frevo, será oferecida a Oficina Corpo-Coro, ministrada pela artista carioca Maria Lucas, que trabalhará, a partir de histórias pessoais, a construção de narrativas cênicas individuais e em grupo, utilizando como ponto de partida três perguntas: de onde venho, quem sou e o que me move? Público alvo: pessoas com poucas oportunidades de acesso às artes, pessoas trans, LGBTs, pretas e indígenas.

Programação completa:

Dia 16 (quinta-feira)

19h – Abertura + “Viva o povo brasileiro (De Naê a Dafé)”, da Sarau Cultura Brasileira, (RJ), no Teatro do Parque

Dia 17 (sexta-feira)

12h – “Grande Prêmio Brazil”, de Andréa Veruska e Wagner Montenegro (PE), no Mercado de São José

19h – “Viva o povo brasileiro (De Naê a Dafé)”, da Sarau Cultura Brasileira (RJ), no Teatro do Parque

20h – “Se eu fosse Malcom”, de Eron Villar e DJ Vibra (PE), no Teatro Hermilo Borba Filho

20h – “De tempo somos”, do Grupo Galpão (MG), no Teatro Luiz Mendonça.

Dia 18 (sábado)

16h – “Vento forte para água e sabão” (infantil), do Grupo Fiandeiros (PE), no Teatro do Parque

18h – “Azira’i”, solo da indígena Zahy Tentehar (RJ), no Teatro Apolo

18h – “Cabaré Coragem”, do Grupo Galpão (MG), no Teatro Luiz Mendonça

20h – “Sueño”, da Heroica Companhia Cênica (SP), no Teatro Santa Isabel

Dia 19 (domingo)

16h – “Sueño”, da Heroica Companhia Cênica (SP), no Teatro de Santa Isabel

16h – “Enquanto Godot não vem”, da Cia 2 em Cena (PE), no Teatro Barreto Júnior

17h – “O Irôko, a Pedra e o Sol”, do grupo O Poste Soluções Luminosas (PE), no Teatro do Parque

18h – “Azira’i”, solo da indígena Zahy Tentehar (MA), no Teatro Apolo

18h – “Cabaré Coragem”, do Grupo Galpão (MG), no Teatro Luiz Mendonça

Dia 20 (segunda-feira)

19h – “Miró: Estudo nº 2”, do Grupo Magiluth (PE), no Teatro do Parque

19h – “Deslenhar”, do grupo Teatro Miçanga (PE), na área externa entre os teatros Hermilo e Apolo

20h – “Órfãs de Dinheiro”, solo de Inês Peixoto (MG), no Teatro Apolo

Dia 21 (terça-feira)

20h – “Alguém para fugir comigo”, do Resta 1 Coletivo (PE), no Teatro Hermilo Borba Filho

Dia 22 (quarta-feira)

10h – “Grande Prêmio Brazil”, de Andréa Veruska e Wagner Montenegro (PE), no Mercado de Afogados

17h – “Ubu – O que é bom tem de continuar”, do Grupo Clows de Shakespeare (RN), no Morro da Conceição

18h – Leitura dramatizada “Justa”, com Fabiana Pirro e Ceronha Pontes, na Faculdade de Direito

19h – “Yerma – Atemporal”, de Simone Figueiredo e Paulo de Pontes (PE), no Teatro do Parque

20h – “Pedras, flor e espinho”, do grupo ACA Produções Artísticas (PE), no Teatro de Santa Isabel

Dia 23 (quinta-feira)

10h – “Grande Prêmio Brazil”, de Andréa Veruska e Wagner Montenegro (PE), no Mercado de Água Fria

17h – “Ubu – O que é bom tem de continuar”, do Grupo Clows de Shakespeare (RN), na Avenida Rio Branco

19h – “Auto da Barca do Inferno”, da Cênicas Cia de Repertório (PE), no Teatro do Parque

21h – “Solo para um Sertão Blues”, de Cláudio Lira (PE), no Teatro Apolo

21h – “Narrativas encontradas numa garrafa pet”, do Grupo São Gens de Teatro (PE), no Teatro Hermilo Borba Filho

Dia 24 (sexta-feira)

11h – “Grande Prêmio Brazil”, de Andréa Veruska e Wagner Montenegro (PE), no Mercado de Casa Amarela

15h – “Boquinha: E assim surgiu o mundo” (infantil), do Coletivo Preto (BA), no Teatro Barreto Júnior

19h – Leitura dramatizada “O Sonho de Ent”, da Cia Fiandeiro (PE), na sede da companhia (Rua da Saudade, 240, Boa Vista)

20h – “Contestados”, da Cia Mútua Teatro e Animação (SC), no Teatro Apolo

21h – “Ao Paraíso”, de Valécio Bruno (PE), no Teatro Hermilo Borba Filho

Dia 25 (sábado)

16h – “Boquinha: E assim surgiu o mundo” (infantil), do Coletivo Preto (BA), no Teatro Barreto Júnior

17h – “A.N.J.O.S” (infantil), da Cia Nau de Ícaros (SP), no Teatro Luiz Mendonça

17h – “Pelos quatro cantos do mundo” (infantil), Cia Teatral Milongas (RJ), no Teatro de Santa Isabel

18h e 20h – “Interior”, do Grupo Bagaceira (CE), no Teatro Hermilo Borba Filho

19h – “Tatuagem”, Cia Revista (SP), no Teatro do Parque

20h – “Contestados”, da Cia Mútua Teatro e Animação (SC), no Teatro Apolo

Dia 26 (domingo)

16h – “Céu estrelado” (infantil), do grupo Pedra Polida (PE), no Teatro Apolo

17h – “A.N.J.O.S”, da Cia Nau de Ícaros (SP), no Teatro Luiz Mendonça

17h – “Pelos quatro cantos do mundo” (infantil), Cia Teatral Milongas (RJ), no Teatro de Santa Isabel

18h e 20h – “Interior”, do Grupo Bagaceira (CE), no Teatro Hermilo Borba Filho

19h – “Tatuagem”, Cia Revista (SP), no Teatro do Parque