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O Festival do Rio, que acontece de 5 a 15 de outubro, se destaca por sua diversidade de filmes e pela promoção de debates sobre a sétima arte. Nesta edição, a diretora pernambucana Milena Times apresenta seu primeiro longa-metragem, Ainda Não é Amanhã, na Première Brasil, que explora questões relacionadas à maternidade e às dinâmicas familiares compostas majoritariamente por mulheres.
“Acho que o meu interesse é de olhar para essas famílias compostas por mulheres. Não é exatamente o meu caso, mas na minha observação, eram arranjos muito frequentes e sempre me chamaram a atenção”, afirma Milena Times à Revista O Grito!. A diretora destaca como essas dinâmicas específicas se estabelecem em lares onde mulheres de diferentes gerações convivem, enfatizando a maternidade como um tema central.
“Essa temática de como esse arranjo familiar lida com a maternidade e a divisão dos cuidados, com a casa e umas com as outras, foi um desejo muito forte de abordar. Queria mostrar a maternidade não como algo imperativo, mas como uma escolha”, explica. A protagonista do filme, Janaína (Mayara Santos), é uma mulher que quebra ciclos familiares e enfrenta a realidade de uma gravidez não planejada, o que provoca um conflito em relação aos planos que havia traçado para sua vida. “O fato de ser mãe cedo não significa necessariamente que foi uma gravidez indesejada, mas, na maior parte das vezes, não planejada”, observa Milena.
A narrativa também levanta questões sobre a criminalização do aborto no Brasil e as barreiras que as mulheres enfrentam ao buscar seus direitos reprodutivos. Milena reflete sobre o dilema que Janaína enfrenta como estudante de direito em um contexto em que a interrupção da gravidez é ilegal: “A interrupção voluntária da gravidez aqui no Brasil é proibida, e isso gera um dilema. O aborto é uma realidade corriqueira na vida de inúmeras pessoas, mas ainda é um tema muito tabu e proibido”.
Milena comenta ainda como as mudanças no cenário político afetaram sua abordagem. “Quando comecei a escrever, eu olhava para esse debate de forma um pouco mais otimista do que consigo olhar hoje em dia. Em 2015/2016, havia uma certa primavera feminista, mas, a partir de 2018, assistimos a uma onda conservadora que ameaçou direitos adquiridos há mais de 80 anos”, observa. “As mudanças que o roteiro sofreu foram muito atravessadas por essa conjuntura”, completa.
Ao discutir o impacto da estreia do filme no Festival do Rio, Milena Times expressa suas expectativas. “É um projeto que carregamos há muitos anos. Filmamos em 2022, durante a campanha política, e isso exigiu adaptações no enredo”, relata. “O festival é uma oportunidade importante, pois oferece uma vitrine tanto para o público quanto para a indústria cinematográfica. Acredito que a presença de um público ativo pode contribuir para o boca a boca e a divulgação do filme”, diz.
Sobre sua experiência em uma indústria cinematográfica ainda muito desigual na representatividade de mulheres, sobretudo na direção, Milena reflete que não existem características únicas que definam tal área. “Não quero generalizar o que é um cinema feito por mulheres, pois as abordagens são diversas. No entanto, acredito que a minha experiência como mulher influencia a forma como conto essa história e a maneira como abordo certas temáticas”, afirma.
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Ela destaca a importância de criar um ambiente de trabalho colaborativo e acolhedor durante a produção. “A nossa equipe era majoritariamente composta por mulheres, e isso permitiu que criássemos um processo de produção diferente. A masculinidade frequentemente pauta o ambiente de trabalho em filmes independentes, e a diversidade na equipe é um fator que impacta positivamente o resultado final”, conclui Milena.