Recarregado, Zé Vito segue com as próprias pernas
Por Renata Arruda
Ex-Sobrado 112 e membro da Abayomy Afrobeat Orquestra, o paulista radicado no Rio de Janeiro Zé Vito já trabalhou com os produtores como Bid, Buguinha Dub e André Abujamra, dividiu palco com BNegão, Otto, Chico Cesar e Tony Allen e hoje acompanha Jards Macalé em seus shows pelo Brasil. Com algumas músicas compostas durante os anos e a indisposição para formar uma nova banda, o músico decidiu que era hora de fazer o próprio trabalho e assim surgiu Já Carregou, disco que traz influências que vão do funk ao blues e tem produção de Zé Vito em parceria com Bruno Giorgi e Pedro Costa.
Zé Vito conversou com a Revista O Grito! sobre Já Carregou e ainda falou sobre as músicas em um faixa a faixa que você confere abaixo:
Poderia comentar um pouco sobre a decisão de se lançar solo e a concepção de “Já Carregou”?
A decisão de lançar esse disco foi algo muito natural. Já vinha a alguns anos compondo uma série de músicas e tinha certeza de que não queria montar uma nova banda. Sabia que era hora de fazer meu próprio trabalho. Tive banda por muitos anos, e ainda tenho, como é o caso da Abayomy Afrobeat Orquestra, mas me senti preparado para cuidar da minha própria carreira sozinho.
A concepção foi se dando aos poucos. O jeito de escrever tem uma certa congruência, é um disco um pouco para contemplar.São canções que abordam temas que eu vinha vivendo e outras são simplesmente histórias.
Quando o disco foi pra mixagem e chegou nas mãos do Bruno Giorgi, a coisa ficou séria! Ele me ajudou a colocar o som em um ambiente psicodélico, que faz o disco ter uma sonoridade única.
Existe algum significado para a escolha deste título?
“Já Carregou” é uma frase que todo mundo fala todo dia né? “Seu celular já carregou?” ” O computador já carregou”
Fizemos essa brincadeira com dizendo que as nuvens estão pra carregar, o vídeo do Ray Charles no youtube está pra carregar. Tem a ver com estar plugado no mundo, ligado, é interessante.
Como foi o processo de escolha de repertório?
Foi bem simples. Eu fiz uma pré seleção de tudo o que eu tinha, e comecei a tirar o que achava que não dialogava com o resto. Durante o processo fiz a música “Já Carregou” e resolvi incluí-la. Eu gravei o que eu tinha na mão.
Como você enxerga a possibilidade de crescimento para novos artistas, principalmente na cena carioca
Eu acho a cena carioca um pouco complicada. Tem muita gente boa fazendo coisas muito legais, mas estamos mal de casas pra tocar e investimentos nessa área. Hoje você vai tocar em um teatro e se não for dentro de um projeto com patrocínio, você precisa levar até microfones. Você acaba pagando pra tocar. E a cidade criou uma cultura ao longo dos anos de não se pagar pra entrar. Todo mundo quer ser vip. O amigo ta tocando, e ao invés de ir lá e dar 20 pratas pra ajudar, não, o cara pede uma cortesia. Isso enfraquece demais. Quando vou pra São Paulo tocar sinto a diferença em tudo, público, estrutura, respeito do contratante, é muito diferente. O público no Rio também tem uma cultura de ir sempre na “Boa” , todo mundo quer ir na festinha, onde tem menininha pra paquerar, onde tá rolando alguma coisa. As pessoas não são muito de contemplar um espetáculo musical de um desconhecido.
O que Já Carregou representa para você?
Já Carregou representa um divisor de águas pra mim. O momento que eu resolvi botar a cara e dizer as coisas que eu acho, fazer o som do jeito que eu gosto mesmo, sem interferência. É um disco que eu tenho extremo carinho.
Site oficial: http://www.zevito.com.br/
Já Carregou, faixa a faixa:
Já Carregou
Porrada, blues, barulho, groove, a primeira música que eu gravei uma bateria na minha vida e muita guitarra.
Segue o Fluxo
É uma letra sobre pais e filhos, escrita pelo meu amigo Matheus Silva. Gosto muito dela e do clima psicodélico que ela traz.
Atriz
Uma história comum de acontecer. Também psicodélica, tem uma pegada mas pop. Foi a primeira a ser gravada no disco.
Lady Nao
Rock and roll com um groove do Pedro Dantas(baixo) e Thomas Harres (bateria), fala de uma mulher que só diz não pra tudo.É a mais difícil de tocar ao vivo.
Juízo
Uma bela canção, com uns coros malucos gravados pelo Bruno Giorgi e um solo de Harmônio gravado pelo Donatinho. Harmônio é um instrumento indiano muito louco.Fiz essa canção pra minha mulher, quando estávamos nos conhecendo.
Diplomático
Um groove forte, cheio de guitarras e teclados. Fala de um amor proibido.
Chuva
Um afrobeat muito louco em 5 por 4. Fiz essa música anos atrás quando o túnel Rebouças caiu por causa de uma chuva forte e parou a cidade por uma semana. Tem participação do Thiago Queiroz, sax barítono da Abayomy.
Bill
Letra de Eduardo Brechó, da banda Aláfia. Um groove estilo Bill Whiters, daí o nome. Fiz a base, gravei em casa e mandei pro Eduardo, e ele me devolveu com a letra. Gravei na hora.
5 pra 1
Um retrato do Rio de Janeiro, cidade sem lei, onde vale tudo. Polícia corrupta, transito caótico, lixo, pobreza. 5 pra 1 é uma metáfora. O som é uma bela jam session.
João Benedito
“João” Benedito é um groove gravado em uma jam session. Eu toquei bateria e o Bruno Barbosa tocou baixo. Fiz ela em homenagem ao China, meu camarada de Ribeirão Preto.