Faixa a Faixa: Mombojó comenta o novo disco Alexandre

Foto: José de Holanda/Divulgação
Foto: Divulgação/facebook.com/mombojo.
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Novo disco do Mombojó se inspira em memórias da infância, Radiohead e ativismo urbano do Recife

Por Renata Arruda

Completando 13 anos de formação e 10 desde o lançamento de Nadadenovo, neste mês a Mombojó lança através do selo Slap Alexandre, quinto disco de carreira. Produzido pela banda com colaboração de Rodrigo Sanches e Homero Basílio, o título resgata uma piada interna do início da carreira: o pai de Samuel Vieira, ex-baixista da banda, tinha um teclado que dizia “Are you sure?”, o que para eles soava como “Alexandre”. E foi por achar que a atmosfera criativa atual remete a essa época, aliada ao conceito de que a reunião de várias ideias visuais criava um novo personagem, que o grupo decidiu escolher o nome.

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Segundo Felipe S (vocal e guitarra), “Alexandre foi 50% concebido dentro do estúdio. Isso quer dizer que algumas músicas começaram a ser gravadas sem existir. Foram quase como ideias visuais que queríamos transformar em música”. Isso abriu espaço para uma experimentação maior, fazendo uso de vinhetas instrumentais, programações de bateria eletrônica e improvisos, com influências que vão de Radiohead a Justin Timberlake e incluem Stereolab, cuja vocalista Lætitia Sadier aparece em Alexandre como coautora e voz principal da faixa “Summer Long”, a quarta do disco. Além de Lætitia, participam também Céu e Pupillo (respectivamente voz e programação em “Diz o leão”), Dengue (baixo em “Dance”), Vitor Araújo (teclado em “Rebuliço” e “Ping Pong”), Pedro Mibieli (violino em “Cuidado”), Yuri Queiroga (guitarra em “Me encantei por Rosário”) e China, coautor das faixas “Hello” e “Pro Sol”.

Foto: José de Holanda/Divulgação.
Foto: José de Holanda/Divulgação.

A seguir, Felipe S fala sobre a participação de Laetitia em Alexandre, a concepção do álbum e a influência de Recife (“cada vez mais nos sentimos representados por movimentos como o dos Direitos Urbanos de Recife”), enquanto a banda comenta cada uma de suas faixas.

Poderia comentar sobre a concepção de Alexandre? Vocês declaram que se apegaram a um formato nesse álbum, por que agora?
Alexandre foi 50% concebido dentro do estúdio. Isso quer dizer que algumas músicas do disco começaram a ser gravadas sem existir. Foram quase como ideias visuais que queríamos transformar em música. E depois de mais de 10 anos tocando juntos, hoje em dia nós sentimos mais seguros para fazer isso.

Nos apegamos ao formato dele por dar mais vida a nosso lado de músico de estúdio. Deixando um pouco de ser aquele músico que fica anos pensando uma harmonia. Acho que nesse disco as duas coisas existiram de forma harmônica. Abriu mais espaço para trabalhar as músicas para fazerem um sentido com o conceito do disco. Um novo personagem que nesse disco somos nós.

Qual a relação da banda com o Recife? A cidade influenciou o novo trabalho de alguma maneira?
Recife é a cidade de origem da banda. Nós vivíamos aí quando a banda se formou. E agora metade da banda voltou a morar em Recife (Vicente e Marcelo). Mas na minha opinião a influência maior da cidade vem de como ela está reagindo a tudo, nesse ano tão cheio de eventos importantes. E que cada vez mais nos sentimos representados por movimentos como o dos Direitos Urbanos de Recife. Isso acaba refletindo nas letras como em “Me Encantei por Rosário”. Quando fomos tocar na Argentina passamos por Buenos Aires e Rosário. Notei que o projeto do novo Recife se assemelha um pouco com Puerto Madero e que preferia muito que Recife fosse como Rosário que preserva muito mais sua história.

Laetitia Sadier aparece como coautora na faixa “Summer Long”. Como surgiu essa parceria?
Foi literalmente uma longa história. Na verdade nem tão cheio de assunto, mas com um longo hiato. Fomos num show dela aqui em São Paulo e entregamos o Homem Espuma, nosso segundo, disco pra ela. Anos depois (dois ou três), ela entra em contato dizendo que gostou muito do nosso trabalho e que estava com o microfone aberto para gravar algo, pois estava gravando músicas para um novo disco dela. E nós, quando recebemos essa notícia, estávamos com uma música já ensaiada pronta para enviar. Foi só gravar. E ela foi bem rápida, compôs uma letra e gravou uma guitarra fuzz. Foram as ultimas gravações da música, mas parecia que tinha sido composta para aqueles arranjos. Foi uma coincidência muito positiva do destino.

mombojo-alexandre

Site oficial: http://www.mombojo.com.br/

Alexandre, por Mombojó

01. Rebuliço
Rebuliço mostra, como uma faixa de abertura, exatamente o que vem a ser o resto do disco: um emaranhado de referências num mesmo contexto, com a introdução de som de bateria de carnaval seguida por um som mais eletrônico, um verdadeiro rebuliço na construção da melodia. Foi uma música concebida totalmente em estúdio, durante as gravações, que teve participação fundamental de Vitor Araújo no teclado. A batida dessa música foi feita aleatoriamente, com um aplicativo do iPad de sons de baterias eletrônicas e teve o Radiohead como maior influência.

02. Me Encantei por Rosário
A letra de “Me Encantei por Rosário” foi feita com base na recombinação de trechos de textos do Movimento Direitos Urbanos, criado em 2012, em Recife, para discutir e solucionar diversos problemas urbanos da cidade. É a primeira faixa que Vicente (bateria) canta junto com Felipe S (vocal) desde a criação da banda. Outro ineditismo é a participação do guitarrista Yuri Queiroga, convidado para criar todos os arranjos de guitarra. A maior referência musical de todos da banda, o Stereolab, está presente também. A melodia foi feita pensando muito no disco deles chamado “Not Music”.

03. Hello
“Hello” conta com a participação de Samuel Vieira, ex-baixista da banda, e China na composição. É a primeira música que tem letra em inglês. Uma faixa curta, cheia de referências e elementos eletrônicos. É a música mais antiga do disco, feita antes de todas as outras. Outro ineditismo é Marcelo Machado (guitarra) cantar no começo e no final da música.

04. Summer long
“Summer Long” foi composta em parceria com Lætitia Sadierr, vocalista do Stereolab, que também cantou e tocou guitarra. Lætitia recebeu da banda a música quase pronta, apenas dizendo a ela o mote da canção, que era falar das memórias da infância. Ela inseriu letra e voz em todas as partes sem a voz do Felipe S e se tornou a voz principal da música. Foi a grande comoção do disco para nós. Lætitia é uma das pessoas que mais admiramos na música. As maiores referências sonoras em “Summer Long” são Stereolab e Nação Zumbi, nossas duas maiores influências musicais de todos os tempos.

05. Ping pong
“Ping Pong” chega como que um respiro para o disco, uma vinheta que sai dos padrões da banda por não ser uma canção com letra. O título da música surgiu primeiro. Tínhamos que mandar uma lista das músicas, mas nem todas existiam. Colocamos esse título porque já pensávamos em fazer uma música em que o ritmo fosse guiado por um sample do som de um jogo de ping pong. Ele tem quase uma levada de baião com um piano Rhodes, dando um tom sofisticado à música.

06. Diz o leão
Essa faixa tem a participação de Céu (voz), Pupilo (drum synth) e Yuri Queiroga (guitarra). A letra é a imaginação de um leão selvagem que na primeira parte vive uma vida normal e que, num segundo momento, é atingido por tranquilizantes e levado para uma jaula. É uma faixa que tem a clássica mudança de clima que tanto fizemos em nossos discos anteriores e que provavelmente ajudaram a construir a identidade da banda. Uma música que entra mais no quesito storytelling, com começo, meio e fim.

07. Hortelã
Essa foi uma música feita durante a gravação do disco, numa semana inteira de muito calor em São Paulo. Surgiu da necessidade de dar um frescor na vida. É uma música mais lenta, calma, curta; apenas voz, violão, guitarra e metalofone.

08. Dance
“Dance” foi gravada quase sem intervenções de edição e ganhou uma individualidade muito grande depois que passamos para Buguinha Dub mixar. Ela foi, então, “adubada” por Buguinha.

09. Alexandre
É uma vinheta criada por Chiquinho e tem uma fala em alemão de Phillip Vohringer, um amigo nosso da época de escola, que conhecemos por conta de um intercâmbio que ele foi fazer em Recife. Hoje em dia virou clown e sempre que vem ao Brasil participa dos nossos shows.

10. Cuidado, perigo!
Convidamos Dengue (Nação Zumbi) para gravar essa música e fizemos uma primeira sessão de baixo, bateria e guitarra ao vivo e assim a música nasceu. Depois fomos inserindo “overdubs” de outros elementos até que o arranjador de cordas Pedro Mibielli chegou e deu à música a identidade que faltava. Uma música feita de uma das formas que mais gostamos, com a colaboração de vários músicos em sua estrutura. Identificamos uma influência grande de Tortoise nessa faixa.

11. Pro sol
Foi uma música composta por encomenda. O roteiro era sobre uma atriz que vinha de Natal para tentar a vida em São Paulo. É a música mais canção com refrão forte desse disco. Inserimos barulho de carros andando em alta velocidade para criar uma sensação de roadie movie.

https://www.youtube.com/watch?v=tFzfi77B3FA