O recomeço de Mariana Volker
Por Renata Arruda
Mariana Volker começou cedo: aos quinze aos montou a banda Unidade Imaginária, que durou cinco anos e chegou a ser indicada ao VMB da MTV em 2010 e até começar a gravação de um disco com produção de Liminha, mas se desfez em 2011. O fim da banda foi “como terminar um namoro” para Mariana, que passou seis meses sem criar até finalmente resolver seguir em frente sozinha.
A cantora acabou conhecendo os parceiros Victor Dornelles e Graça Motta e conta ter se sentido tocada pelas composições deles: “Eu me encontrei algumas vezes com eles para tocar e acabei escolhendo algumas músicas inéditas para esse trabalho, canções que me tocaram naquele momento, que falavam por mim nessa nova fase”, diz ela, que chegou a gravar um EP independente e pré-produzir um vídeo para a música “Canção de Amor Perfeito” quando mostrou as faixas para o experiente Liminha, que decidiu retrabalhar as canções, além de assumir o baixo e a guitarra nas novas gravações.
Da união surgiu o ensolarado Palafita, lançado no início do ano, que além de quatro canções assinadas por Dornelles e Graça Motta, traz “Ventania”, música de Mariana em parceria com Paula Santa Rosa. Como carro-chefe, a escolhida foi “Eterno Verão”, que ganhou um clipe colorido com direção de Fernanda Teixeira.
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Mariana Volker falou para O Grito! sobre como encarou o fim de sua banda, as oportunidades para novos artistas na música brasileira e sobre Palafita, com comentários sobre cada uma de suas faixas, na entrevista que você confere a seguir:
Poderia comentar sobre a concepção e a escolha de repertório de Palafita? Quais as principais influências?
O EP Palafita é um tom a meu respeito, um apanhado de músicas que me representam nessa nova fase, numa mistura que tem rock, bossa nova, ska, pianos e blues. Quando comecei a montar o meu novo repertório o destino me trouxe dois grandes novos parceiros, o Victor Dornelles e a Graça Motta. Eu me encontrei algumas vezes com eles para tocar e acabei escolhendo algumas músicas inéditas para esse trabalho, canções que me tocaram naquele momento, que falavam por mim nessa nova fase. Tinha acabado terminar a minha banda, que durou quase 6 anos, e Palafita veio para que eu me compreendesse como artista fora de um grupo, desde o processo de gravação até os shows.
Nesse período de pesquisas eu estava ouvindo muito a tropicália e os novos baianos, mas as minhas referências são muitas, como Pink Floyd (banda preferida de toda vida), Tom Jobim, The Cure, Clube da Esquina, Paralamas, Titãs, Cazuza, The Doors…
Você optou por se lançar solo com um EP. Há planos para um álbum cheio em breve?
Sem dúvida. É o próximo passo. Comecei pelo EP por inúmeras questões: primeiro pela grana, e depois por estar vindo de uma separação, de um “corte” artístico que mexeu muito comigo. Então preferir fazer menos músicas e estar certa de todas elas ao me arriscar num CD longo. Acho que foi um processo natural, mas agora sinto a necessidade de dar esse próximo passo, pois desde que gravei, em 2012, até hoje, novas músicas surgiram e muitas coisas amadureceram, principalmente com os shows, que é onde eu me encontro mesmo. Agora é me organizar e fazer.
Depois de fazer parte da Unidade Imaginária durante cinco anos, como foi a transição de sair de uma banda e se lançar solo?
No começo foi bem difícil, principalmente porque a Unidade tinha sido, até então, meu único projeto musical. Eu comecei a minha carreira fazendo música em grupo, com a minha galera, e quando me vi sozinha demorou um tempo para me acostumar. Terminar uma banda que passou a adolescência com você é como terminar um namoro, um casamento, sei lá, ficamos todos de luto. Encerrar esse ciclo foi difícil. Demorou pra conseguir respirar e organizar as coisas, na verdade fiquei seis meses parada, mas depois coloquei a cabeça e o coração no lugar, compus coisas novas, fiz novas parcerias e as coisas andaram naturalmente. Acho que devo muito a minha banda, foi uma escola importantíssima na minha carreira e se eu não tivesse passado por ela antes, hoje eu não saberia pra onde ir.
Perguntada sobre os caminhos da música brasileira, você disse que “a água tá turva, mas o mar ainda tá pra peixe”; poderia comentar? Como você percebe a oportunidade de crescimento para novos artistas?
Quando disse “a água tá turva, mas o mar ainda tá pra peixe” foi sobre esses novos modelos que estão nascendo de produzir, consumir e vender música, e também sobre as cenas, a questão da formação de público e outras inúmeras discussões que estão rolando sobre o mercado de música independente. O mercado da música está numa fase de mudança, ok, e isso ainda deve durar muito tempo. Na verdade, acho que não para nunca. A gente não sabe muito bem onde tá pisando, o que pode ser o pulo do gato, o que realmente vai fazer alguém levantar aquele voo. Mas as oportunidades estão ai, principalmente pra quem tiver planejamento, garra, iniciativa e vontade de se misturar. E digo que o mar está pra peixe por isso, pois apesar das inúmeras dificuldades, tenho encontrado pessoas que estão afim de se unir e fazer alguma coisa acontecer, de deixar os questionamentos um pouco de lado e por a mão na massa, seja num projeto, num show, num festival ou num movimento ainda maior.
Site oficial: http://marianavolker.com.br/
Palafita, faixa a faixa:
01. Eterno Verão (Victor Dornelles e Graça Motta)
“Eterno Verão” é a música mais solar do disco, mas se você ouvir com atenção vai perceber que a letra traz uma tristeza e melancolia que retrata as dúvidas, a desconstrução do tempo e das relações. Para dar mais contraste, decidi vesti-la com um arranjo quente, com guitarras “pontiagudas” e um baixo marcado e pulsante, que, de certa forma, marca um “polo positivo”, contrapondo-se justamente ao “polo negativo” da letra. “Eterno Verão” também ganhou um clipe cujo personagem principal é um caleidoscópio giratório que representa toda a confusão presente na letra.
02. Ventania (Mariana Volker e Paula Santa Rosa)
“Ventania” fala de um amor que chegou, bagunçou tudo e foi embora deixando as coisas fora do lugar. Aquele momento de suspensão, do não saber o que virá, e momento seguinte, onde você simplesmente deixa ir embora: “O mar choveu em mim, amor, e te lavou de mim, amar”. No arranjo optamos por uma pegada mais rock, com guitarras mais fluidas que representam o caos, e a levada de bossa-nova, outra influência importante no meu trabalho, é a representação do instante seguinte onde tudo é uma grande ressaca.
03. Someblue (Victor Dornelles e Graça Motta)
“Someblue” me remete a um sonho, um universo fantasioso mas, ao mesmo tempo, totalmente possível. Ela é metafórica e leve na letra e na melodia, despretensiosa mas como uma certa malícia. No arranjo, quis valorizar a suavidade dela no começo, com a voz mais em destaque, e ao repeti-la, na segunda volta, um arranjo mais bluesy e forte.
04. Canção do Amor Perfeito (Victor Dornelles)
“Canção do Amor Perfeito” é o tempero obsessivo do EP. Ela pode ser interpretada como uma canção de amor que fala de sua simplicidade e do seu lado lúdico, mas na verdade, eu a escolhi para o repertório por enxergar nela a obsessão e o quase surto em cima da fixação por uma pessoa.
05. Palafita (Victor Dornelles)
“Palafita” é, pra mim, um grande recorte de possibilidades, imagens que se misturam e palavras que brincam entre si. É a faixa mais psicodélica do EP, com delays, reverbs, sons escondidos no pan da mixagem, gargalhadas, bocas que mudam de cor, colagens de medos e coragens, um grande mistura. “Palafita” seduz mas como tudo que seduz, não se leva tão a sério.