Faixa a Faixa: Labirinto fala sobre o próximo álbum

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Foto: Carol Ribeiro/Divulgação
Foto: Carol Ribeiro/Divulgação
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Labirinto na trilha do rock que não se explica

Por Renata Arruda e Augusto Lopes

Com dez anos de carreira e mais de 50 apresentações em 13 países diferentes, a banda de post rock/metal instrumental/experimental Labirinto já lançou diversos trabalhos entre EPs, coletâneas e singles mas somente um álbum cheio, Anátema, em 2010. Reconhecida mundialmente dentro da cena por crítica e público e mantendo uma sólida base de fãs, não é de se espantar que o segundo álbum da banda seja esperado ansiosamente: ainda sem título, o álbum é prometido para o segundo semestre de 2015 e, segundo o guitarrista Erick Cruxen, será uma continuação de Anátema, ainda que com uma sonoridade diferente. Para dar uma pequena amostra do que está por vir, a banda decidiu gravar em vídeo ao vivo duas músicas: “Alamut” e “Avernus”, que sucedem o single “MASAO” lançado em maio deste ano.

A banda toca no Sesc Palladium em Belo Horizonte, no próximo dia 27 de setembro.

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Impossível de rotular, a Labirinto bebe em fontes como Mogwai e Godspeed You! Black Emperor para compor um som climático e imagético, carregado de conceitos que, pela falta de letras, exigem um maior envolvimento e poder de interpretação do ouvinte: “acreditamos que podemos expor muitas ideias por meio das imagens que atribuímos aos nossos discos ou que são exibidas nas projeções de shows, por exemplo. O bacana é deixar as pessoas elucubrarem as suas próprias percepções e sentimentos. Cada apreciador da música/disco terá uma compreensão individual do todo, construída por meio das ‘dicas’ que sugerimos”, explica Erick. “Há também aqueles que nos procuram para saber mais sobre o conceito das músicas; algo que gostamos muito de explanar”, completa.

Com a banda divulgando suas faixas inéditas, aproveitamos para trazer uma entrevista com a banda idealizada em parceria com o site Floga-se (clique aqui para conhecer), especializado em matérias com bandas do subterrâneo musical, que publica esta mesma matéria simultaneamente a O Grito!. Na pauta, questões sobre o som, o próximo álbum, a comunicação com o público, a recente participação no Overload Music Fest e o lado empreendedor de Labirinto. Finalizando, um breve faixa a faixa sobre as músicas inéditas. Aproveite!

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Site oficial: http://www.labirinto.mus.br/

É curioso que muita gente rotula a música de vocês como “instrumental”. Ora, um samba pode ser só instrumental também. Um chorinho, um moda de viola, um rockabilly… Mas parece que vale, no caso da música ambiente, da black ambient, do post-rock, do progressivo etc., como uma gaveta onde se colocam todas essas músicas como se fossem uma só. A Labirinto se preocupa com rótulos?

Erick: Não nos preocupamos, apesar de sabermos que é importante ter uma referência para o público e a mídia. É natural as pessoas classificarem o tipo de som que fazemos, ainda a mais no caso do Labirinto, que possui inúmeras influências. Seja pela alcunha de post rock/metal, experimental, progressivo, é sempre mais bacana que o nosso público defina o estilo. Contudo, temos que apresentar certas nomenclaturas sobre o nosso som, para facilitar a divulgação.

Muita gente centra o post-rock como orientação musical da Labirinto. Mas não creio que seja só isso. Há ambiências e ideias progressivas, camadas e principalmente uso destacado da bateria percursiva, a despeito de ser uma bateria só “destruidora”, a cargo da Muriel. Como apresentar de forma clara a um neófito a música de vocês, antes dele ouvi-la?

Erick: Como você mencionou; possuímos diversas referências que vão muito além do post rock. A própria nomenclatura “post rock” abrange uma diversidade enorme de estilos e influências (metal, minimalismo, jazz, música eletrônica e erudita, entre outras). Mas é preciso facilitar a apresentação do nosso som para o público. Podemos definir a música que fazemos como post rock/metal instrumental, e/ou experimental, por exemplo.

A Labirinto faz música “brasileira”? Como os gringos percebem a música de vocês? Eles sentem falta de elementos que possam ser identificados como “brasileiros” e vocês enfrentam esse tipo de preconceituação?

Erick: Algo que notamos, desde os primeiros shows no exterior, era como nossas “acentuações musicais” e os ritmos da bateria chamavam a atenção dos gringos. Alguns, brincavam, e nos chamavam de “post rock xamânico”. Nunca percebemos isso, mesmo sabendo que a batera era muito forte e possuía uma especificidade rítmica, mais tribal. Talvez seja uma característica que temos por viver no Brasil. Mas, tirando isso, nunca nos cobraram nada, ou nos definiram como um estilo específico.

Foto: Marina Hungria
Foto: Marina Hungria

O próximo álbum será também conceitual e dentro de tal conceito, a faixa “Alamut” simboliza “a busca pelo conhecimento e autopreservação em meio ao caos existencial”. Qual será o conceito deste disco e como vocês chegam a um acordo sobre os temas tratados a cada álbum?

Erick: O próximo disco a ser lançado em 2015, conceitualmente, será uma continuação de Anátema; embora, a sonoridade seja diferente. Estamos desenvolvendo toda estética e conteúdo do disco; em breve, teremos novidades. As músicas “Alamut” e “Avernus,” que gravamos num recente vídeo ao vivoestarão no próximo álbum, e já apresentam uma pequena amostra do que virá. No processo de criação do Labirinto uma ideia é apresentada, e continua sendo lapidada com o tempo; desenvolvendo conceito, arte e música simultaneamente.

“Masao” é o single que abre os trabalhos para o próximo disco, que vai suceder Kadjwynh. Há uma preocupação humana, com a história do herói da usina em Fukushima. Kadjwynh olhava para problemas internos brasileiros: Belo Monte, os índios. Como vocês fazem a escolha desses temas contemporâneos? Isso é o que a gente pode chamar de música de protesto?

Erick: Na verdade, a “Masao” sucede o split do Labirinto com o canadense Thisquietarmy lançado nos formatos de CD e Vinil, em 2013. O desenvolvimento de um conceito, e a elaboração de uma música é um processo natural. Surge de algo que nos comova e inspire sinceramente, e nunca é forçado; tem que haver simbiose ente a composição e a ideia. A música pode ser um meio de protesto  por diferentes formas e convicções, mesmo que não seja óbvio e explícito.

Como o ouvinte médio consegue identificar esses temas se a música não passa a mensagem verbalmente? Vocês acreditam que o ouvinte tem que ser pró-ativo e buscar se informar mais, por conta própria? Isso ajuda numa construção a quatro mãos, artista e público, da própria obra?

Erick: Certamente, a apresentação de um tema não precisa ser literal. Não utilizamos letras nas músicas para dizer algo, mas acreditamos que podemos expor muitas ideias por meio das imagens que atribuímos aos nossos discos ou que são exibidas nas projeções de shows, por exemplo. Em nossa opinião, o bacana é deixar as pessoas elucubrarem as suas próprias percepções e sentimentos. Certamente, a obra final será concebida individualmente; cada apreciador da música/disco terá uma compreensão individual do todo, construída por meio das “dicas” que sugerimos; arte, frases, informações sobre os discos e as músicas que divulgamos nas mídias sociais. Há também aqueles que nos procuram para saber mais sobre o conceito das músicas; algo que gostamos muito de explanar.

De disco a disco, como fazer a música de vocês evoluir, já que para o ouvinte médio ela pode parecer muito semelhante? O que esse disco novo vai nos apresentar de novidade?

Erick: Fazemos música porque gostamos. Sempre somos muito sinceros no que produzimos, e criamos de acordo com o que sentimos no momento. Vamos absorvendo novas referências ao longo do tempo, é um processo autêntico e espontâneo. Certamente, haverá o acréscimo de novas sonoridades, texturas e timbres. O nosso público que já escutou as novas composições, diz que as mesmas estão mais pesadas obscuras, talvez seja um dos caminhos labirínticos.

A Labirinto é praticamente uma empresa em torno da qual giram o estúdio, a produtora de eventos, o selo e a própria banda. Já dá pra ganhar dinheiro com esse esforço todo? E como conciliar tanto trabalho? Imagino que cada integrante tenha uma função determinada e que a banda, na verdade, seja mais extensa do que aquela que sobe ao palco.

Muriel: Bem, o Erick e eu desenvolvemos as atividades do selo e a parte de produção de eventos (alguns com a nossa produtora, Avant South, onde também entra o Uirajara, do selo Essence Music, de Minas Gerais). No estúdio, além de nós dois, também há outras pessoas envolvidas. Nós trabalhamos com atividades que se relacionam à música há muitos anos, mas não diretamente vivemos da nossa música. Com a banda, nós brincamos que se tivéssemos nascido em algum país na Europa ou na América do Norte, onde há uma cultura e mercado musical muito mais desenvolvidos, neste sentido, provavelmente, estaríamos vivendo da nossa música de uma maneira muito mais fácil, assim como muitas bandas por estes continentes fazem. Aqui no Brasil acaba sendo um pouco mais complicado para isso acontecer. Os outros membros do Labirinto participam nas atividades da banda, além dos shows e ensaios, assim como nós (eu e erick), em seu tempo livre, após o horário do trabalho “normal”. Mas, somos todos como uma família, de verdade, estamos juntos todo fim de semana, organizando e pensando as atividades, e produzindo, seja dentro de estúdio ou fora.

De todas essas frentes, o que dá mais prazer à Labirinto?

Erick: Certamente, o que nos mais satisfaz são as apresentações ao vivo. O contato direto com o público é indescritível. Cada show procuramos “contar uma história” diferente, e sempre nos surpreendemos. Para gente é um evento em que nos dedicamos ao máximo.

Labirinto no Overload Music Fest
Labirinto no Overload Music Fest

Como foi o Overload Music Fest? Saiu tudo dentro do que você imaginaram e programaram? Quais as maiores dificuldades enfrentadas? O evento deu prejuízo, lucro ou se pagou?

Muriel: Bem, não temos todas estas informações da produtora Overload, que é quem promoveu o festival. Mas, acreditamos, por experiência própria, que entre as maiores dificuldades estejam todos os custos relacionados à “importação” das bandas; os altos custos em passagens aéreas, vistos e bagagens dos músicos. Contudo, o festival, sem qualquer patrocínio, conseguiu organizar um evento fabuloso, com bandas ótimas e por isso, minha impressão é de que tudo tenha dado super certo – o Overload, inclusive, já está mencionando a edição de 2015 nas mídias sociais. Então, com certeza, o resultado esperado deve ter sido alcançado.

Vale a pena, do ponto de vista comercial, fazer esse tipo de evento, com esse perfil, para esse perfil de público, no Brasil?

Muriel: Público para esse tipo de evento existe no Brasil, sem dúvidas. Foi interessante o Overload ter diversificado um pouco na escolha das bandas, assim trouxe fãs de diversos nichos, mas que curtiram a programação como um todo. Para mim, acertaram em cheio. Quanto mais eventos com esse foco musical acontecerem, mais fortalecerá a criação e consolidação de um público para esse tipo de evento.

É uma via de mão dupla esse caso da Labirinto com a produção de shows. Vocês estão trazendo bandas para o Brasil, mas também já excursionaram pelos Estados Unidos e Canadá seguidas vezes. Ou seja, vocês têm a visão de ambos os lados das nossas fronteiras. O que vocês mais aprenderam nessas excursões e o que vocês acham que os gringos aprenderam por aqui?

Muriel: Após as últimas turnês fora do país, podemos chegar à conclusão de que existe uma infra-estrutura lá, que dificilmente existirá aqui algum dia. É cultural; nos Estados Unidos, em áreas do Canadá, existe espaço de carga e descarga para músicos em frente à casa de show (especificado na placa de trânsito), todas as bandas têm seu próprio backline (algo muito difícil por aqui, com a escassa indústria nacional, e os preços altíssimos de equipamentos importados)… Só para citar dois exemplos. Lá é possível agendar uma turnê de 30 dias, com 30 shows. Aqui, acaba sendo um tanto inviável – as distâncias são maiores, não há público para determinados estilos musicais em todas as cidades do país etc. A receptividade lá fora, com nós brasileiros, em todas as turnês foi algo que nos surpreendeu positivamente, todas as vezes. Fizemos muitos amigos, e realizamos um intercâmbio muito grande com outras bandas, em cada país pelo qual passamos. Vemos que os músicos que vem para o Brasil também se espantam muito com o “jeito brasileiro”, como as pessoas aqui são simpáticas e acolhedoras com estrangeiros. Uma novidade: em novembro desse ano, mais um estrangeiro virá para terras brasileiras, faremos, talvez um ou dois shows juntos, com o Labirinto, e promoveremos a turnê brasileira pela Avant South.

Em que fase está a produção do novo disco e já existe alguma data prevista para lançamento? Ele sai pela Dissenso Records? Uma turnê pelo Brasil está nos planos para promover o trabalho?

Erick: Estamos compondo as músicas novas, trabalhando em todo o conceito e a estética do próximo disco “cheio”. O álbum será lançado no segundo semestre de 2015, e sairá pela Dissenso Records em parceria com um selo estrangeiro. Faremos uma turnê de lançamento na Europa, e tocaremos bastante pelo Brasil!

Confira as faixas que estarão no próximo álbum da Labirinto:

“Masao” (até 10min no vídeo) foi composta em homenagem a Yoshida Masao, diretor da usina de Fukushima em 2011, durante os acidentes nucleares, e catástrofes naturais que assolaram o Japão. Yoshida e seus colegas de trabalho ficaram conhecidos como os “50 heróis de Fukushima”, pois permaneceram em seus postos após o alarme nuclear soar, evitando uma tragédia abissal. Yoshida morreu de câncer em julho de 2013, e planejava ajudar nos trabalhos para desativar o funcionamento da usina. A faixa, com 12 minutos de duração no vídeo (e 25 minutos no CD), teve mixagem de Greg Norman (Electrical Audio, Chicago/USA) e Muriel Curi (Dissenso Studio, São Paulo/SP), e foi lançada pelo selo Dissenso Records, com apoio do inglês The Sirens Sound e do alemão Oxide Tones.

“Avernus”, de sete minutos de duração (inicia em 10min10s no vídeo), é uma das inéditas. Lenta e bela, forte e lírica, com guitarras, baixos e baterias profundas e pesadas, contrastando com synths e melodias sinuosas. Avernus representa a primeira camada do inferno para algumas lendas, sendo o limite entre o abismo mais profundo e o “mundo material humano”.

“Alamut”, é a segunda inédita. Com oito minutos de duração (inicia em 18min22s no vídeo), é uma música instrumental pesada e cheia de referências e harmonias do Oriente Médio. Alamut, em persa, significa “ninho de águia”, e constituía-se em uma fortaleza, no que hoje é o Irã (século XI – XIII), habitada por uma ordem de assassinos, cujo maior líder foi Hassan I Sabah, chamado de O Imortal, ou velho da montanha. Simboliza dentro do conceito do futuro disco, a busca pelo conhecimento e autopreservação no meio do caos existencial.