Exposição queer “Tybyras” aborda diversidade e ancestralidade indígena em Belém

Na nova mostra, o artista Henrique Montagne percorre o Pará e revela corpos queers nos traços negros, indígenas e caboclos da Amazônia contemporânea

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Curupira (Wendrel), Canaã dos Carajás. (Foto: Divulgação.)

A Elf Galeria, em Belém (PA), receberá a partir do dia 12 de dezembro a exposição Tybyras, Caminhos de uma Amazônia Queer, do artista paraense Henrique Montagne. A mostra, que permanece em cartaz até o dia 15 de fevereiro de 2025, é uma reflexão sobre ancestralidade indígena, diversidade sexual e apagamentos históricos. O evento é gratuito e terá abertura às 18h.

Henrique Montagne inspira-se no primeiro caso documentado de morte por LGBTfobia no Brasil: o assassinato de Tybyra do Maranhão, indígena tupinambá condenado à morte pela inquisição em 1614 por práticas consideradas sodomia. O episódio histórico serve como ponto de partida para que o artista explore temáticas relacionadas à identidade indígena, sexualidade e gênero.

Segundo Montagne, o termo “tibira”, que dá nome à mostra, era utilizado pelos povos originários para descrever pessoas que fugiam às normatividades de suas aldeias. “Essas relações eram já vistas com naturalidade, a depender da cultura de cada aldeia, entendendo que, assim como a natureza, somos diversos como ela, pois somos uma só coisa”, afirmou o artista.

A exposição reúne obras que mesclam desenho, texto e fotografia, fruto de uma pesquisa artística que também foi selecionada pelo Edital de Pesquisa e Experimentação em Artes Visuais da Lei Paulo Gustavo 2024.

Para desenvolver o projeto, Montagne percorreu diferentes regiões da Amazônia, como Mairi (Belém), Ilha do Marajó (Soure), Carajás (Marabá, Serra Pelada, Canaã dos Carajás) e Tapajós (Santarém, Alter do Chão). Nessas localidades, o artista conheceu e registrou as vivências de pessoas LGBTQ+ indígenas, ribeirinhas, caboclas e mestiças.

“Pude me conectar de maneira coletiva, formando um aldeamento de ideias, conversando, conhecendo e admirando pessoas que compartilham da diversidade e de histórias que se encontram em meio a esta grande floresta de rios e ygarapés. Essas vivências envolvem diferentes sotaques, cosmovisões e resistências, mas também processos de cura de todas as feridas coloniais causadas pela branquitude”, declarou Montagne.

A exposição levanta questionamentos urgentes sobre o apagamento das discussões étnico-raciais e da ancestralidade indígena na Amazônia contemporânea, além da invisibilidade da diversidade sexual no Brasil. Montagne também critica a desconexão entre o corpo e a natureza, resultado de projetos coloniais que separam o humano do ambiente natural.

“Tybyras é uma exposição para todos aqueles dispostos a percorrer e conhecer caminhos desviantes nessa Amazônia de pés descalços, chamando o ancestral no hoje”, concluiu o artista.

Serviço:
Exposição: Tybyras, Caminhos de uma Amazônia Queer
Artista: Henrique Montagne
Local: Elf Galeria – Passagem Bolonha, nº 60, Nazaré, Belém (PA)
Abertura: 12 de dezembro de 2024, às 18h
Período: 12 de dezembro de 2024 a 15 de fevereiro de 2025
Entrada: Gratuita