O Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (MAMAM), no Recife, apresenta desde 17 de maio a exposição braꙄil, do artista plástico pernambucano Renato Valle. A mostra reúne 12 obras inéditas (entre pinturas, desenhos e instalações) que exploram a complexidade da história política do Brasil, com enfoque no período republicano e em eventos recentes, como os atos de depredação em Brasília no dia 8 de janeiro.
Com curadoria centrada em temas ligados às permanências do poder, discursos radicais e estruturas sociais marcadas pela violência, a exposição propõe uma reflexão crítica sobre a democracia brasileira, levantando questões sobre suas raízes históricas e os desafios contemporâneos. O título da mostra, segundo o artista, é uma provocação que busca incitar o olhar crítico e o desconforto necessário para enfrentar realidades que persistem sob a aparência de novidade.

Em entrevista à Revista O Grito!, Renato Valle detalhou o processo criativo e a motivação por trás da série: “Comecei em 2020, por conta de um livro do Funcultura que foi aprovado nesse mesmo ano. Esse livro só foi retomado agora e vai sair este ano. A ideia era fazer algumas poucas obras para o lançamento do livro. Veio a pandemia, esse projeto foi adiado, o Funcultura ficou suspenso nesse período. Então parei com essas obras.”
O artista explicou que, inicialmente, sua intenção era abordar um cenário de mudança e pacificação, mas o recrudescimento da violência política no final de 2022 e início de 2023 o fez retomar e ampliar a série. “Comecei a pensar que a gente está dividido desde o início da formação do país. É uma brutalidade contra a pacificação. É a humanidade contra a desumanidade. É a civilização contra a barbárie. Isso está desde o início e começou a mexer muito comigo.”
Valle apontou que suas obras são resultado de um intenso processo de estudo e reflexão, buscando evitar uma abordagem simplista ou focada em polarizações pessoais. “Cada obra exigiu muitos estudos, muito pensamento, um cuidado também para não cair nesse bate-boca. Porque a discussão hoje está muito centrada nas pessoas. E eu queria tratar da política de uma forma mais aprofundada. Por que temos essa estrutura? A República começa também com um ato de violência. É um golpe militar.”
O artista ressaltou a importância da educação como caminho para a superação das divisões históricas. “Para mim, só tem uma saída: a educação. Se não for por meio da educação, não adianta a gente ficar batendo boca. Essa estrutura vai permanecer.”
Sobre sua atuação e posicionamento, Renato Valle destacou que prefere um trabalho individualizado e artístico, evitando envolvimento em grupos partidários ou religiosos: “Tenho muitas amizades, participei de muita coisa, mas não quero pertencer a grupo, nem político, nem religioso, nem ateu, nem nada… Me comunico melhor através das imagens. Acho que minha vida gira muito em torno do trabalho. O trabalho é uma forma de expressar o que penso, o que sinto.”


A exposição braꙄil apresenta obras em diferentes suportes e técnicas, incluindo três pinturas a óleo sobre tela, duas em acrílica, desenhos em grafite sobre lona crua (entre eles um políptico) e três instalações, construindo um diálogo visual com a realidade política e social do país.
Paralelamente à abertura da mostra, a Cepe Editora lançou o primeiro livro dedicado à obra de Renato Valle, coordenado editorialmente pelo jornalista Bruno Albertim. A publicação compila textos críticos e imagens de exposições que documentam a trajetória do artista, proporcionando um panorama de sua produção artística desde 1979, quando iniciou sua carreira no Recife.
Renato Valle é reconhecido pela atuação multifacetada nas artes visuais, que inclui pintura, desenho, gravura e escultura. Ao longo de sua carreira, participou de exposições em diversas capitais brasileiras e no exterior, além de ter ocupado cargos importantes no cenário artístico pernambucano.
A exposição fica em cartaz no MAMAM, localizado na Rua da Aurora, 265, bairro da Boa Vista, Recife.