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Foto: Divulgação.

“Estranho Caminho” é uma declaração de amor fraterno fundamentada na melancolia

O longa assinado por Guto Parente retrata o reencontro de pai e filho em meio à pandemia

“Estranho Caminho” é uma declaração de amor fraterno fundamentada na melancolia
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Estranho Caminho
Guto Parente
BRA, 2024. 1h24. Gênero: Drama/Suspense. Distribuição: Embaúba Filmes.


A pandemia proporcionou, da maneira mais cruel possível, uma experiência única e individual para cada um que a vivenciou. Foi dilacerante e, até hoje, as memórias e consequências permanecem difíceis. É notável a quantidade de obras criadas com base na relação que desenvolvemos com o tempo que pareceu estagnar. No entanto, Estranho Caminho, obra dirigida por Guto Parente, nos conduz a uma reflexão diversa, ainda que derivada dessa mesma fonte.

David é um jovem cineasta que retorna à sua cidade natal com a missão de exibir seu longa-metragem em um festival. O evento, porém, é adiado (e posteriormente cancelado) devido ao aumento dos casos de Covid-19. Na esperança de uma nova data, David opta por aguardar e se vê angustiado pela urgência de encontrar um local para se hospedar. É então que decide recorrer a um caminho delicado – a casa de seu pai.

Não demora muito para que criemos um apego pelo jovem protagonista e pela atuação belíssima de Lucas Limeira, que cativa o espectador com olhares carregados de sentimentos. Durante o longa, notamos que a cinematografia acompanha a narrativa sem dificuldades e faz isso muito bem. Os enquadramentos registram uma Fortaleza angustiante e, na mesma proporção, bela.

É interessante perceber o cuidado para que o ambiente e a maneira como a obra é filmada caminhem lado a lado com o que está sendo dito, não só pelos atores em cena, mas pelo contexto em geral. O visual pode e deve passar uma mensagem.

Então, acompanhamos a relação de um filho com seu pai. É incerta e curiosa, despertando um nervosismo constante entre o bom e o melancólico. Há algo que os separa, na mesma medida em que tenta os aproximar. Mas notamos e sabemos que, pelo fato de estarem juntos sob o mesmo teto, um avanço emocional está sendo feito. É difícil, não tem como não ser.

Geraldo, pai de David, é interpretado lindamente por Carlos Francisco. A resistência a uma aproximação entre os dois vem majoritariamente por parte do mais velho, que faz questão de relembrar constantemente que detesta ser incomodado durante seus momentos de concentração. David, por outro lado, respira fundo e segue, mesmo com a tensão presente em cada cômodo da casa.

É por meio de um momento carregado de angústia que David assimila: era tarde demais para qualquer tipo de reencontro. Não houve tempo, sequer circunstâncias. Mas o que viveu foi necessário e teve um impacto estrondoso no seu ser.

A relação familiar carrega consigo significados que podem definir o modo como enxergamos o mundo ao nosso redor. O luto, consequente deste afeto fraterno, é o suficiente para pontuar a jornada de um personagem. É com esse olhar que Guto Parente conduz uma obra tão delicada e, na mesma proporção, tão intensa. A relação de um pai com um filho é marcada por dúvidas, restando apenas imaginar como poderia ter sido, mas não foi.